*escrito por Felipe Augusto
Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, discursa sobre a agenda econômica internacional dos EUA. Trata-se de um Conselheiro de Segurança Nacional falando sobre economia. Não surpreende: são fartos os estudos mostrando que a preocupação com a segurança nacional foi um dos principais fatores na formação dos Estados Nacionais e da economia moderna. Significativo escutar de um alto oficial americano o reconhecimento de que intervenções estatais foram cruciais para os EUA na maior parte da sua história. Assim, as últimas décadas de desregulamentação, privatizações e liberalização comercial foram uma exceção. Historiadores econômicos como Brad @delong sempre deixaram isso bastante claro, mas a narrativa do “Consenso de Washington”, que por muito tempo beneficiou as empresas do país, passou a ser predominante no discurso de governos democratas e republicanos.
Sullivan lamenta que as reformas das últimas décadas acabaram por privilegiar setores não essenciais, citando especificamente o setor financeiro, enquanto que “a capacidade industrial, que é crucial para a inovação em qualquer país”, atrofiou. O avanço exponencial do setor financeiro é parte integrante da ordem econômica global a partir dos anos 1990, e afeta em grande medida a capacidade de os países se desenvolverem, especialmente os de renda média. A política econômica anterior (ancorada em livre-comércio, cortes nos investimentos públicos e redução do poder dos trabalhadores) detonou os empregos industriais, acelerou a desigualdade e colocou a democracia em risco. O novo foco do governo é “construir e produzir”. Nesse contexto, uma política industrial, cuja simples menção gerava intensa oposição até recentemente, tornou-se prioridade total nos EUA. Não surpreende: industrialização está historicamente ligada não só ao desenvolvimento mas a democratização. E, para isso, pasmem, segundo Sullivan É preciso “escolher setores específicos que são fundamentais para o crescimento econômico, estratégicos do ponto de vista da segurança nacional e onde a indústria privada por si só não faz os investimentos necessários para garantir as ambições nacionais”. A esta altura, o discurso e a prática do governo Biden já haviam escancarado o tamanho da mudança na política econômica americana, mas o discurso de Sullivan trouxe sinalizações ainda mais claras de como a elite dirigente dos EUA encara a nova era.
Discurso:
Cada país tem hoje uma expressão para definir sua política industrial. Os EUA, a boa e velha segurança nacional (aliás, sempre foi assim, segurança nacional, segurança alimentar, segurança energética… ). União Europeia é soberania, principalmente soberania digital. E aqui temos o neologismo “neoindustrialização”