*escrito com Uallace Moreira
A formação da Parceria Econômica Regional Ampla, ou RCEP (Regional Comprehensive Economic Partnership), pode significar o enfraquecimento e derrota dos EUA na “guerra fria” contra a China. O RCEP marca um revés histórico para os EUA quase 4 anos depois que Trump deixou a Parceria Trans-pacífica (Trans-Pacific Partnership- TPP) de 12 nações, deixando Tóquio para assumir o papel de liderança e promover o TPP. O RCEP constitui duas inovações importantes: o primeiro movimento bilateral para reduzir as barreiras entre o Japão e a Coreia do Sul; o segundo movimento é que é a primeira vez que três das quatro maiores economias da Ásia compartimentaram a coesão econômica. O RCEP marca a primeira vez em que os rivais China, Japão e Coréia do Sul formam um bloco trilateral significativo. Nos próximos cinco a 10 anos, a região da Ásia-Pacífico se tornará o motor do desenvolvimento econômico mundial em termos de produção e consumo. Nesse gráfico, já fica claro enquanto a participação da Europa e EUA estagna no comércio mundial, a participação da Ásia cresce.
A parceria Japão-Coréia do Sul do acordo é talvez a mais impressionante de todas. Durante anos, os Estados Unidos procuraram aproximar seus dois aliados em disputa, mas falharam. As relações Tóquio-Seul estão agora em um ponto mais baixo, em uma disputa tensa sobre compensação por trabalho forçado em tempo de guerra. A RCEP rompe o impasse geopolítico entre Tóquio e Seul. Isso fornece um sinal importante para os investidores de que a região ainda está comprometida com a integração comercial. O RCEP visa eliminar cerca de 65% das tarifas e cotas sobre produtos importados e exportados. Ele define padrões comuns para “regras de origem”, tornando mais fácil a produção de bens além-fronteiras.
Para Pepe Escobar, o Ocidente nunca deixou de distorcer a Cinturão e Rota, recusando-se a reconhecer que “a iniciativa que eles tanto caluniam é, na verdade, enormemente popular na grande maioria dos países situados ao longo das Rotas da Seda. A RCEP dará um novo foco à Iniciativa Cinturão e Rota – cujo estágio de “implementação”, segundo o cronograma oficial, só terá início em 2021.” O financiamento de baixo custo e os empréstimos especiais em moeda estrangeira oferecidos pelo Banco de Desenvolvimento da China irão se tornar muito mais seletivos. China, Japão, Coreia do Sul e os países da ASEAN já formam uma cadeia de produção regional de suprimentos no leste da Ásia. A RCEP cria excelentes condições para que tais países possam aumentar seu nível de penetração nas cadeias globais da criação de valor. Como mostra a figura abaixo , na EU, 69,5% do comércio é feito entre os próprios países da região. No ASEAN, 66,9% do comércio também é feito entre os países do bloco. A menor participação no comércio intra-regional acontece no Mercosul, com o comércio entre os países da região representando apenas 21,8%. Além do mais, dados do comércio da China apontam para um maior fortalecimento do comércio Intra-Regional. O total de importações e exportações da China com os 10 países membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático aumentou 2% no ano, para US $ 297,8 bilhões. O bloco representou 14,7% do comércio total da China no período, ante 14% em 2019. A União Europeia, que anteriormente era o maior parceiro comercial da China, reduziu o comércio total com a China em 5% no ano, para US $ 284,1 bilhões, em parte devido à saída do Reino Unido do bloco. Os EUA, 3º no ranking, sofreu uma queda de 10% em meio à deterioração dos laços bilaterais. A UE e os EUA representaram 14% e 11,5% do comércio total da China no primeiro semestre, respectivamente.
Além do crescimento do comércio entre os países da Ásia, com liderança da China, o investimento chinês também se ampliada no Asean, fortalecendo mais o comércio intra-regional. Os investidores chineses fizeram investimentos diretos não financeiros em 159 países e regiões, totalizando US $ 51,5 bilhões no primeiro semestre de 2020, uma queda de 0,7% em relação ao ano anterior, segundo dados do Ministério do Comércio. Por outro lado, o investimento em países e regiões na Iniciativa do Cinturão e Rota aumentou quase 20%, para US $ 8,12 bilhões. A iniciativa é uma estratégia global de desenvolvimento de infraestrutura adotada pela China em 2013 para investir em quase 70 países e organizações internacionais. Os investimentos no primeiro semestre nos 10 países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) cresceram 53,1%, para US $ 6,23 bilhões. Ainda é muito cedo para afirmar que a RECP terá sucesso e, de fato, enfraquecerá os países da Europa e os EUA. Mas se essa aliança se consolidar, o comércio intra-regional tende a se fortalecer mais ainda, consolidando a Ásia como a região mais dinâmica no mundo.
Fontes:
https://asiatimes.com/2020/11/us-sidelined-as-china-korea-and-japan-unite/
https://www.brasil247.com/blog/a-rcep-se-une-as-novas-rotas-da-seda