A China vai ajudar o Brasil (de novo!)

O preço do minério de ferro subiu 75% em 2020. Existe novamente no mundo um boom de preços de commodities. A arroba do boi, a soja, o minério de ferro e o preço de tantas outras commodities estão perto de máximas, graças, principalmente, à demanda firme da China. A correta coordenação econômica do governo chinês, usando regulação e instrumentos de mercado, tornou o país o destaque mundial na reposta à Covid-19. A China caminha a passos largos para se tornar a maior e mais relevante economia do mundo e as commodities brasileiras se beneficiam novamente de outra onda de crescimento do país. A eleição de Biden nos EUA não deve mudar muito a relação conflituosa de China com EUA. Uma briga que tem limites na verdade pois a China tem ainda grande dependência do mercado de consumo americano. Os EUA por sua vez transferiram parte relevante de suas fábricas para a China. Com o acirramento dos conflitos com os EUA, o governo chinês redobrará os esforços para impulsionar a demanda doméstica liderada pelo consumo e o investimento em autosuficiência tecnológica, principalmente considerando um cenário onde há indícios de diminuição da globalização. Essa nova estratégia tem sido chamada de “Dual Circulation Strategy”, que segue duas linhas de ação: 1ºestratégia: fortalecer o mercado interno, 2º estratégia: investimento tecnológico. Primeiro, a China vem tentando aumentar o consumo das famílias na composição do seu PIB, tornando assim o mercado interno uma das principais variáveis do crescimento, reduzindo a participação das exportações. O valor bruto das exportações da China caiu pela metade como proporção do PIB desde 2007 e o consumo interno respondeu no ano passado por 60% do crescimento do PIB. Mas o consumo privado em 2019 ainda era baixo, de 39% do PIB, acima dos 35% em 2010. Em segundo lugar, a ênfase no aumento da autossuficiência econômica é uma extensão de estratégias anteriores, incluindo “Made in China 2025”, como um plano para alcançar o domínio em um conjunto de tecnologias avançadas e a agenda para reforma estrutural do lado da oferta.

A recuperação da China ajudou o Brasil via aumento do preço das commodities no mercado mundial. A moeda brasileira apesar de valorização recente tem ainda uma das piores performances do mundo, tornando os ativos brasileiros ainda baratos em dólar. Esse rally que inflou preços de ativos no mundo inteiro continua beneficiando muito o Brasil apesar dos temores fiscais. Para inflação no Brasil a trajetória mais provável para 2021 é de arrefecimento de preços de atacado com a estabilização da taxa de câmbio no patamar de R$5,5. A inflação deve convergir para a meta de 3,75%. Os preços no atacado devem voltar para a casa dos 5% ao ano. Os salários seguem muito deprimidos no Brasil. Com o fim do auxílio emergencial e medidas de estímulo de crédito do BC podemos ter mais desaceleração do PIB. O consumo e investimento agregados seguem ainda muito baixos. Existe grande capacidade ociosa na indústria, no setor imobiliário, no varejo em geral e no mercado de trabalho. Nosso PIB deve crescer algo como 3% em 2021, abaixo do necessário para recuperar a queda próxima a 5% em 2020. Os juros extremamente baixos em 2020 deram algum fôlego de retomada ao setor de construção civil via crédito, mas sem aumento consistente de emprego e renda, o movimento não será sustentado. O câmbio mais desvalorizado continua ajudando a indústria, mas, sem um vigoroso impulso de demanda esse movimento pode se exaurir. O setor de serviços está ainda abaixo do nível pré crise. O varejo físico tem situação dramática. A inflação não deve voltar com força, pois a crise no mercado de trabalho dificulta os repasses de preços do atacado para o varejo. No front cambial, o BC tem muita munição que não está utilizando.

 

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