Países produtores de cobre no mundo são mais desiguais (guardadas as devidas questões idiossincráticas) do que todos países produtores de máquinas e peças necessárias para a produção de papel. A comparação abaixo entre Chile e Malásia é bem ilustrativa. Chile com renda per capita PPP de 21,044U$ e escolaridade média de 9,8 anos, com Gini de 0,49 e posição 72 (ruim) no ranking de complexidade produtiva em 2012. Malásia com renda per capita próxima de 22.314U$ PPP, 9,5 anos de escolaridade média, Gini de 0,39 e posição de 24 no ranking de complexidade econômica, patamar bem melhor do que o chileno.

Regressão desse Paper: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0305750X15309876
O Chile continua ainda com uma estrutura produtiva de baixa sofisticação que não estimula acumulo de capital humano, inivação e complexiade produtiva. O aumento da complexidade permite um desenvolvimento mais inclusivo da economia, contribuindo para criação de circuitos virtuosos de desenvolvimento cultural, social e tecnológico que se retroalimentam para formar uma rede produtiva mais sustentável. Uma vez que os ganhos de produtividade sejam distribuídos entre os elementos da rede, cria-se o ambiente propício para o desenvolvimento comum onde as inovações e ganhos de eficiência, o desenvolvimento cultural, social e tecnológico promovem os ganhos de produtividade que, por sua vez, se bem redistribuídos, promovem novas ondas de ganhos de produtividade, mais diversidade e complexidade, num ambiente geral de criação de riquezas aliado ao desenvolvimento humano e da qualidade de vida.

O Chile é desigual pois tem um sistema produtivo ruim, com baixa complexidade e pouca sofisticação. Faltam oportunidades, faltam bons empregos e faltam bons salários: não tem nem empresas nem produtos para gerar essas oportunidades. Um produto sofisticado ou complexo requer maiores habilidades produtivas e, portanto, gera salários mais altos. Um produto sofisticado ou complexo gera uma divisão de trabalho relativamente extensa e isso leva à criação de empregos. Assim, um produto sofisticado ou complexo constrói uma classe média forte. Um produto sofisticado ou complexo gera longas “escadas de carreira”. Isso é importante porque promove a mobilidade social entre os grupos de renda. Uma maior coleção de produtos sofisticados ou complexos na pauta de exportação de um país gera maior “spill over” salarial para outros setores e empregos. Gravei um video sobre o tema:
“SUCESSO” do CHILE
Escrito por Daniel Bispo
O Chile tem 18 milhões de habitantes e um território 11 vezes menor que o do Brasil. Exporta, em valor, cerca de 70 bilhões de dólares todos os anos. A nível de América Latina, um país com quase 25 mil dólares de PIB per capita, como é o Chile, está em uma situação confortável. Na ditadura de Pinochet, o crescimento médio anual do PIB per capita foi de somente 1,6%. Em comparação, no Chile democrático, o crescimento médio anual foi de 4,3%. O país é extremamente dependente da exportação de minérios. Só em 2017, as exportações minerais responderam por quase 60% das exportações do país. E, a maior exportadora de minérios do país, é a estatal CODELCO. Como exemplo dessa dependência, de 2017 para 2018, houve um aumento internacional do preço do cobre, que foi suficiente para fazer o país mais que duplicar sua taxa de crescimento de um ano para o outro, saindo de 1,7% para 3,5%.
O Chile é um exemplo de modelo pragmático, pois abusou do intervencionismo, com a política de bandas cambiais, nas décadas de 70 e 80. O estado fomentou uma política de industrialização no meio agrícola, aperfeiçoando e oferecendo competitividade aos vinhos e peixes nacionais. Então, se constitui um erro falar que o Chile não tem indústria, pois sua produção industrial per capita, na atualidade, é o dobro da brasileira. Mas, ao mesmo tempo, nesse mesmo período, o Chile privatizou a previdência social, privatizou a educação superior (que já foi revista) e ostenta índices de desigualdade absurdos, entre os maiores do mundo. Ou seja, onde o estado se demitiu de suas funções, é onde os chilenos mais tem reclamações a fazer.
O Chile é um país rico, em relação a América Latina, porque tem uma enorme quantidade de riqueza natural para distribuir seus benefícios entre poucas pessoas e tem uma mínima complexidade econômica, principalmente fomentada pelo estado.
FONTES:
http://portuguese.xinhuanet.com/2018-06/09/c_137241654.htm
https://oec.world/pt/profile/country/chl/
https://oec.world/pt/profile/country/bra/
https://www.bbc.com/portuguese/geral-47670966



Reflexão interessante, obrigado pelo artigo.
Bom dia Professor, a situação do Chile é agravada por que os serviços de utilidade pública são privados , o índice de gini consegue captar isto?
nao captura isso
“O chile continua ainda com uma estrutura produtiva de baixa sofisticação que não estimula acumulo de capital humano, inovação e complexidade produtiva. O aumento da complexidade permite um desenvolvimento mais inclusivo da economia, contribuindo para criação de circuitos virtuosos de desenvolvimento cultural, social e tecnológico que se retroalimentam para formar uma rede produtiva mais sustentável. Uma vez que os ganhos de produtividade sejam distribuídos entre os elementos da rede, cria-se o ambiente propício para o desenvolvimento comum onde as inovações e ganhos de eficiência, o desenvolvimento cultural, social e tecnológico promovem os ganhos de produtividade que, por sua vez, se bem redistribuídos, promovem novas ondas de ganhos de produtividade, mais diversidade e complexidade, num ambiente geral de criação de riquezas aliado ao desenvolvimento humano e da qualidade de vida.”
Concordo com o artigo, mas a economia chilena obteve êxito e excedente de riqueza enquanto havia sobrevalorização do cobre, tal qual o Brasil com minério de ferro e soja e virá com o petróleo cru. O que acontece que as economias não viram a chave do desenvolvimento das cadeias complexas industriais, porque há fatores internos dos dirigentes desses países de enxergar qual o papel desses países no cenário mundial.
Veja o caso do Brasil, coexistem no mesmo lugar cadeias com alta complexidades tecnológicas (indústria aeronáutica, exploração de petróleo em águas profundas, agronegócios desenvolvido, indústria de fármacos e estudos de genética) e, ao mesmo tempo, essas cadeias não migram ou distribuem entre os outros elos das demais cadeias para um ambiente propício para o desenvolvimento com as inovações e ganhos de eficiência. Não é tão simples que os ambientes se conversem de modo a haver uma dinâmica nacional de desenvolvimento.