A importância dos Chaebols para entender a riqueza da Coreia do Sul

*escrito por Felipe Augusto

no seu livro mais recente, Aghion (coautor do artigo) deixa claro que o espetacular crescimento econômico coreano entre 1960 e 1995 se deve aos Chaebols, os quais foram impulsionados por políticas industriais. Não fosse pela escolha deliberada de criar uma indústria nacional, fornecendo aos Chaebols apoio financeiro e proteção comercial e monetária, a Coreia teria permanecido uma economia agrícola. Ao invés disso, em 30 anos se tornou líder mundial em eletrônicos e telecomunicações. no auge dos anos 1990 os 30 maiores Chaebols representavam 16% do PIB, atualmente só a Samsung já tem 16,4%. O percentual de P&D em relação ao PIB cresceu muito desde o início dos 2000 ficando atrás apenas de Israel (4,53%, vs. 1,16% do ). Em pedidos de patentes é o 4º, atrás da China, dos EUA e do Japão, devendo assumir a 3ª posição em breve.

Porém, na medida em que acumulam poder, os Chaebols ficam cada vez menos responsivos ao interesse público. Costumam, por exemplo, apoiar ações como legislações trabalhistas ultraflexíveis e liberalização financeira, vistas como geradoras de instabilidade e injustiça social. Não é uma questão trivial, mas não podemos perder a perspectiva. Nunca geramos campeãs nacionais high-tech em segmentos significativos como a Coreia. Em 1997, ela já tinha 45% da renda per capita americana. Hoje tem 70%. Nós, só 23%. apesar das séries e dos filmes recentes da Coreia retratarem a preocupação da sociedade com a desigualdade social, o país ainda tem uma das sociedade mais igualitárias do mundo. Aghion é coautor de artigo ainda mais recente em que defende a utilização de uma série de instrumentos de política industrial para desenvolver atividades sofisticadas e, com isso, viabilizar crescimento econômico com distribuição de renda. Mesmo quando fala em concorrência, deixa claro que o foco deve ser a criação e a difusão de tecnologia, citando os Bell Labs, centros de P&D da monopolista AT&T nos anos 1950 que, por imposição do Estado, concedeu licenças acessíveis e até treinamento para outras empresas.

O desafio de se lidar com empresas desse porte não é pequeno, mas tudo indica que é muito pior para quem não tem Chaebols para chamar de seus. É fascinante a queda de braço entre Estado e gigantes de tecnologia na China. Expõe uma das maiores tensões do processo de desenvolvimento econômico: a necessidade de gerar campeões nacionais mantendo-os alinhados à estratégia de desenvolvimento nacional. A geração de campeões nacionais, especialmente em setores de alta complexidade tecnológica, é um dos fatores que melhor explicam a superação da armadilha da renda média. Japão e Coreia do Sul, com seus respectivos Keiretsus e Chaebols (conglomerados), são exemplos clássicos. Nesses países, o Estado buscou convencê-los a seguir as estratégias de desenvolvimento nacionais, o que em grande medida significava investir intensamente na aquisição de capacidades produtivas e tecnológicas. Só que isso leva tempo, custa caro e é arriscado. Assim, não bastava apenas apelar para o nacionalismo do empresariado. O controle sobre a economia, em especial sobre o sistema financeiro, dava enorme poder de barganha ao Estado, que poderia lançar mão de vários instrumentos para alinhá-los aos objetivos nacionais. Subsídios, compras públicas, tarifas, tudo convergia para gerar aprendizado produtivo. Deu certo. Empresas como Toyota e Mitsubishi e Samsung e Hyundai se expandiram, viraram referências mundiais e contribuíram para o enorme aumento do nível de vida nos seus respectivos países. Só que a correlação de forças começou a mudar. Tornaram-se “too big to fail”. Passaram a oferecer resistência às estratégias estatais. Pouco a pouco, defenderam maior liberalização, buscando independência do Estado nas fontes de financiamento e nas decisões de investimento. Na China, Big Techs como Alibaba, Tencent e Baidu prosperaram sob proteção da concorrência externa. O Grande Firewall garantiu a elas um mercado de centenas de milhões de usuários, enquanto concorrentes como Amazon, Facebook e Google foram virtualmente excluídos. Políticas antitruste e de proteção à privacidade de dados foram relaxadas para permitir o surgimento dessas campeãs nacionais. Não dá pra dizer que não funcionou. Elas rivalizam cada vez mais com suas rivais americanas.

Referências:

https://voxeu.org/article/fair-and-inclusive-markets-why-fostering-dynamism-matters?utm_source=hootsuite&utm_medium=&utm_term=&utm_content=&utm_campaign=

https://web.archive.org/web/20200112040424/https://www.washingtonpost.com/business/what-parasitemisses-about-inequality-in-south-korea/2020/01/11/fa9bdace-34d6-11ea-971b-43bec3ff9860_story.html

https://www.nytimes.com/2015/01/31/business/international/chinese-agency-softens-criticism-of-alibaba-on-sales-of-fake-goods.html

Lee, Keun. The Art of Catching-up, 2019.

Studwell, Joe. How Asia Works, 2013.

CSIS. Chinese Companies in the Fortune Global 500, 2020.

Naughton, Barry. Is China creating a new type of economic system? Apresentação no youtube, 2021.

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