*Escrito por Luís Felipe Giesteira e Marcos José Barbieri Ferreira para o BLOG
Projetos Estratégicos de Defesa:O caso do caça Gripen NG da FAB. No dia 13 de dezembro de 2013 foi anunciado o resultado do moroso e disputado processo de escolha do caça principal da FAB, o Projeto F-X2. O vencedor foi o Gripen NG, da sueca Saab, batendo os poderosos Boeing F-18 Super Hornet e Dassault Rafale. Anteriormente páreos duros como o Sukhoi S-30 e o Eurofighter Typhoon já haviam sido descartados na seleção preliminar (short list). O que teria levado à FAB a optar por um avião de caça que no jogo de “Super Trunfo” seria provavelmente a carta “mico”? Alguns analistas chegaram a afirmar que o Gripen NG era a pior escolha porque sequer estava pronto. Era um projeto ainda em desenvolvimento, um “avião de papel”. O mesmo ponto que outros escolheram para apontá-lo como o mais vantajoso para o Brasil. Contudo, isso revela algo essencial sobre como “avaliar” as políticas de defesa de um país. O que poder ser ruim para alguns pode ser o ótimo dos outros. Se precisássemos de um caça “de superioridade” mais robusto, com maior capacidade de levar armamentos, provavelmente o F-18 ou mesmo o Sukhoi S-30 teriam sido a melhor opção. Mas o Projeto F-X2 significou não apenas a aquisição de um novo avião de combate, mas fundamentalmente a capacidade da FAB operá-lo com eficiência e autonomia, além de acelerar desenvolvimento tecnológico nacional. Os Mirage 2000 foram desativados em 2013 e os F-5, produzidos nas décadas de 1970 e 1980, estão no final de suas vidas úteis – mesmo tendo seus sistemas eletrônicos e armamentos atualizados para versão “F-5M” há cerca de uma década – e precisam ser tocados, sob pena de o país ficar desprotegido.
Possuindo uma empresa avançada de aeronáutica e algumas parceiras importantes localmente, vem sendo possível desenvolver junto sistemas e componentes relevantes do novo avião, renomeado F-39 (ou Gripen NG Br). Ao fim e ao cabo, o DCTA (onde está o ITA) e a Embraer terão internalizado o domínio da tecnologia supersônica, que é antiga, mas controlada por poucos países. No entanto, o mais importante do Gripen NG é “invisível”: seus sofisticados sistemas eletrônicos, que incorporam o “estado da arte” da tecnologia embarcada em aviões de combate, estando à frente da maioria dos concorrentes. Por essa característica, o Gripen NG cai como uma luva no que é o projeto mais ambicioso da FAB: construir um “domo” eletrônico sobre os quase 20 milhões de Km2 abrangidos pelo Brasil e seu entorno. Um esforço silencioso, mas notável vem sendo feito desde a década de 1970, com o início da implantação do Sistema de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (SISDACTA), destacando-se a absorção de tecnologias inovadoras quando da implementação da sua última fase, denominada SIVAM, no início do século XXI. Sistemas de comando e controle, redes de dados de alta capacidade, comunicações criptografadas, radares e sensores de alta definição, tratamento de imagem, entre outras, tecnologias típicas da Industria 4.0 vem sendo absorvidas e integradas em um grande sistema de sistemas, que permitirá, se tudo der certo, termos uma arquitetura integrada do controle e defesa do espaço aéreo, baseada em softwares e principais componentes críticos desenvolvidos no Brasil. Os caças são uma peça importante dessa rede, mas eles só realizam todo seu potencial integrados a ela. No interior de cada um deles, o sofisticado painel do tipo Wide Area Display – desenvolvidos e fabricados no Brasil pela empresa AEL Sistemas – operarão, interagindo e guiando esses vetores como uma perspectiva integrada de nossos céus. Um outro detalhe importante é o custo disso tudo: cerca de US$ 5 bilhões, uma fração do que vem sendo gasto em programas semelhantes mundo a fora. Imagine-se como estaria sendo “encaixar” os poderosos, mas caríssimos e tecnologicamente blindados F-18 Super Hornet, em nosso orçamento rigidamente limitado por um teto.