Qual é a importância da indústria no processo de desenvolvimento econômico de países? Acho que sem uma indústria pujante, diversificada e sofisticada não dá para se desenvolver. Claro que uma boa base de recursos naturais ajuda muito. E se a indústria for conectada a essa base e gerar inovações idiossincráticas ligadas à abundância natural do país, melhor ainda. No Brasil a discussão continua. Em 2011 a revista The Economist promoveu um debate para discutir a real necessidade de um setor industrial robusto para que uma economia se desenvolva e seja saudável. Esse debate segue, obviamente, a esteira da crise de 2008 que deixou EUA e UK de joelhos. E parece que Alemanha e China, potências industriais, estão melhores. De um lado meu querido amigo e competente professor de Cambridge UK, Ha-Joon Chang, defende com unhas e dentes o papel chave das manufaturas no coração de uma economia. De outro, o professor medalhão de Columbia, campeão do livre comércio, Jagdish Bhagwati. Vamos à contenda:
http://www.economist.com/debate/days/view/714#pro_statement_anchor
Ha-Joon argumenta que:
i)a base manufatureira de um país é o determinante mais importante de sua prosperidade
ii)até países como Suíça e Cingapura, tidos como exemplos de serviços, tem uma base industrial impressionante. Estão em 1º e 3º no ranking de mundial de produção de manufaturas per capita.
iii)somente países com uma base de recursos naturais absurdamente grande em relação a população são ricos sem ter industrias (Austrália)
iv)é verdade que após certo nível de renda per capita surge uma desindustrialização relativa. Mas isso ocorre em termos de emprego relativo da mão-de-obra. Não em termos de produção e consumo per capita de bens industriais
v)os ganhos de produtividade observados nos setores de serviços não são genuínos e se devem a imprecisões de medidas, especialmente aumentos de preços relativos entre serviços e manufaturas (Efeito Baumol-Balassa-Samuelson)
vi)os serviços sofisticados de alta produtividade dependem em larga medida da indústria (advogados, marketing, finanças, design, TI)
vii)a perda de competitividade industrial gera necessariamente crises no balanço de pagamentos (faltam dólares!), pois a necessidade de se importar para consumo vai superando cronicamente a capacidade do país exportar bens manufaturados.
viii)é verdade que cada vez mais serviços são exportáveis, mas não numa magnitude necessária para cobrir o buraco da falta de manufaturas
Bhagwati argumenta que:
i)existe uma espécie de fetiche em relação ao setor industrial das economias
ii)esse fetiche começou a ser espalhado por ninguém mais, ninguém menos do que Adam Smith!
iii)segundo Bhagwati essa foi uma das piores falácias de Adam Smith. Criticar o setor de serviços por sua baixa produtividade
iv)um dos maiores divulgadores dessa falácia foi o economista de Cambridge, N. Kaldor, que ficou muito preocupado com a desindustrialização observada na Inglaterra nos anos 60
v)mas Kaldor ignorava o fato de que os serviços modernos são altamente produtivos. Trabalho recente de Dale Jorgenson de Harvard, um dos maiores especialistas em medidas de produtividade mostra que o setor de varejo está entre os mais produtivos de uma economia. Os serviços são sim muito produtivos!
vi)esse argumento voltou a ser reproduzido no debate das potato chips x micro chips. Melhor produzir batatas chips ou chips de computador? Mas segundo Bhagwati a produtividade nas fábricas da batata Pringles hoje é muito maior do que nas loucas e caóticas fábricas de chips da Ásia.
Quem tem razão? Os economistas continuam brigando. A pesquisa da The Economist aponta o seguinte resultado: 76% a favor da importância da indústria, 24% contra! Qual é o seu voto?

Paulo, a discussão nos termos que está posta por Bhagwati é equivoada. Quando nosso Ha-Joon fala em indústria, o que ele está falando é em empresas que têm um elevado valor adicionado per capita e, por isso, pagam altos salários. O desenvolvimento econômico é, em grande parte, causado pela transferência de mão-de-obra de setores com baixa para setores com alto valor adicionado per capita.
Para mim, mais importante , seria dizer como conseguir essa base manufatureira. A experiência brasileira deveria ser retratada. Bastante protegida e mecanismos artificiais provavelmente a ênfase passada, presente. Para o futuro, acredito que mantenham a mesma lógica.