A inflação não é mais transitória

A inflação de maio nos EUA surpreendeu e acelerou para 1% ao mês, o mercado esperava algo em torno de 0,7%. Apesar do núcleo da inflação ter se mantido em 0,6%, a reação dos mercados foi péssima. O S&P, principal índice acionário americano, mergulhou numa sequência de quedas seguidas em 5 dias para mais de 10%. Caiu 20% em relação a seu último pico caracterizando o que se chama de um bear market ou mercado de baixa. Os juros de títulos de 2 anos do governo americano tiveram a maior alta num único dia em 14 de junho em mais 13 anos! Muitos tinham ainda a esperança de que a inflação pudesse ser transitória nos EUA sem demandar algo mais enérgico em termos de alta de juros por parte do BC americano. Essa tese caiu por terra com o indicador de inflação de Maio. Os juros vão subir sim e os EUA vão provavelmente entrar em recessão.

Na verdade o PIB americano já caiu no primeiro trimestre desse ano e os indicadores antecedentes que temos para o segundo trimestre apontam para um PIB zero ou até mesmo levemente negativo. Se for esse o caso, os EUA já estão em recessão! As vendas do varejo nos EUA mostraram queda em Maio, a vendas de casas estão despencando e os juros de hipotecas explodiram a 6% tornando o sonho da casa própria hoje nos EUA quase inviável. A surpresa inflacionária moveu o BC americano para uma alta de 0,75% na taxa de juros, algo inesperado há poucos dias. A decisão não foi consensual com Esther George do FED de Kansas City votando a favor de uma alta de 0,5% apenas. Foi a maior alta de juros em 28 anos nos EUA. Apesar de várias sinalizações no sentido de aumentar a taxa em 0,5% o corpo de diretores do FED decidiu passar uma mensagem mais forte em relação a tentativa de controlar a inflação. Hoje os preços ao consumidor sobem nos EUA a uma taxa superior a 8% ao ano, o nível mais alto desde o início dos anos 80.

No Brasil O copom levou a selic a 13,25% e anunciou mais uma alta para a próxima Reunião de mesma magnitude ou menor. Em seu comunicado o comitê passa a falar em colocar a inflação ao redor do centro da meta de 3,25% em 2023. Esse “ao redor” foi lido como uma maior tolerância em relação a inflação que deve fechar o próximo ano na casa de 4%. O Copom não parece disposto a escalar seu choque de juros para tentar uma convergência para a meta já em 2023. Seguiremos provavelmente uma estratégia já adotada no passado de manter a taxa elevada por período “suficientemente prolongado”, que deve significar uma SELIC acima de 13% até pelo menos a metade do ano que vem. A desoneração de ICMS para combustíveis e energia certamente vai ajudar na redução da inflação de 2022, mas o petróleo a U$120 e os constantes aumentos de preços da Petrobras devem neutralizar a redução do custo de combustíveis oriunda do corte de ICMS. Continuamos correndo o risco de chegar num IPCA de 9% em 2022.

O choque de commodities não da sinal de trégua. O conflito na Ucrânia persiste e as sanções ao petróleo e gás russo por parte dos europeus continua a cobrar seu preço em termos de valor do petróleo. Alimentos, grãos e fertilizantes continuam caríssimos. Algumas notícias alvissareiras vieram de melhoras nas cadeias globais de produção, mas nada capaz de contrabalançar ainda o choque de preços de alimentos, combustíveis e energia. O ano de 2022 será marcado como o ano da inflação com taxas correndo acima de 8% nos EUA e Europa. O próprio banco central europeu que vinha de uma década de juro zero anunciou aumento de taxas para Julho e altas subsequentes para todo segundo semestre. Os BCs resolveram combater a inflação com altas de juros mais robustas. O resultado no curto prazo será de redução de atividade econômica e possível recessão. Sera um processo dolorido. A boa notícia é que 2023 será melhor do que 2022.

 

Ideias chave

1)banco central americano levou a taxa de juros básica para 1,5%

2)BC brasileiro colocou a SELIC em 13,25%

3)Banco central europeu anunciou alta de juros para Julho

4)inflação no mundo continua alta, não parece mais ser transitória

5)juros mais altos encarecem crédito e vão reduzir a atividade econômica. Poderemos ter recessão nos próximos meses

2 thoughts on “A inflação não é mais transitória”

  1. Qual seria o risco de enfrentarmos novamente uma era tipo Reagan com juros altos e quebradeira de países?

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