Os Estados Unidos estão em recessão? O que deveria ser uma pergunta com resposta simples acabou virando um debate. O PIB da economia americana caiu no primeiro e no segundo trimestre de 2022, configurando uma “recessão técnica”: termo que economistas usam para dois trimestres consecutivos de queda na produção agregada de um país. Não há divergências aqui. O que o governo Biden e o próprio FED argumentam é que essa queda no PIB se deveu a fatores atípicos como, por exemplo, a queda das exportações americanas no primeiro trimestre do ano. A controvérsia está no cenário de queda de PIB com mercado de trabalho muito robusto e desemprego em mínimas de 50 anos. Nessa situação não poderíamos dizer que os EUA estão numa crise econômica ou numa grande recessão. Esse é o debate no momento. Uma contração do PIB com desemprego muito baixo; algo perfeitamente possível e que já foi observado em outros momentos da história. O que importa, no entanto, não é a recessão em si, mas o contexto de atividade econômica num cenário de alta de juros e inflação muito elevada. Aqui os dados são mais claros. A economia americana está desacelerando com indicadores de PMI já em zona de contração e vendas de casas cedendo em relação a meses passados. As pesquisas de confiança dos consumidores também mostram sinais de preocupação.
A inflação americana não deu ainda sinais mais claros de que vai ceder, apesar da crença do mercado em relação a esse prognostico. O petróleo e o preço dos alimentos recuaram 20% em dólar nos últimos 30 dias. O minério de ferro e todas outras commodities também cederam. Tudo isso trará sim uma trajetória mais benigna para a inflação no segundo semestre. O mercado de juros dos EUA já precifica isso, colocando um movimento mais brando para a política monetária do FED nos próximos meses. O mercado resolveu chamar isso de “pivot do FED”, situação em que o BC americano fica com a mão mais leve em relação a alta de juros. O problema é que os diretores do FED ainda não admitiram isso! A ideia está na cabeça do mercado e os ativos financeiros já precificam esse abrandamento monetário no futuro. As bolsas americanas voltaram para um patamar bem mais elevado e os juros longos cederam para níveis que invertem a curva de juros; significa dizer, o mercado acredita que no futuro crescimento, juros e inflação serão menores do que hoje.
No Brasil algo parecido se passa. Nossa curva de juros também está invertida com juros longos menores do que os curtos. O mercado acredita que inflação e juros serão menores no Brasil do futuro. A sinalização de interrupção do ciclo de alta da SELIC pelo BC brasileiro causou um mini rally de ativos brasileiros. O ibovespa superou o patamar de 107 mil pontos e nosso juros de 10 anos veio abaixo de 12,5%. No relatório Focus o mercado já enxerga inflação de 2022 próxima de 7% ante uma expectativa de quase 9% há algumas semanas. Para 2023 o mercado acredita em inflação de 5% e para 2024 menos ainda. A redução do ICMS sobre combustíveis e o próprio corte do preço da gasolina e diesel tiveram enorme efeito na inflação brasileira de Julho e Agosto. A queda dos preços agro no mundo também tem contribuído nessa direção. Nosso desemprego ainda está muito elevado e pressiona salários para baixo. A apreciação da moeda brasileira também reduz os preços dos bens comercializáveis tanto de exportação quando importação. Será que a inflação vai mesmo ceder no Brasil e no mundo? É sempre bom lembrar que a economia está mais próxima da meteorologia quando o assunto é futuro. Podemos imaginar sim um cenário mais benéfico para inflação com atividade mais fraca nos EUA, Europa e Asia, num contexto de queda de preços de commodities e juros mais elevados em todo lugar. Mas todo cuidado é pouco quando montamos cenários e tentamos apreciar o que está revelado na bola de cristal.
Ideias chave:
1)O PIB da economia americana caiu no primeiro e no segundo trimestre de 2022, configurando uma “recessão técnica”
2) A inflação americana não deu ainda sinais mais claros de que vai ceder, apesar da crença do mercado em relação a esse cenário.
3) O petróleo e o preço dos alimentos recuaram 20% em dólar nos últimos 30 dias. O minério de ferro e todas outras commodities também cederam.
4) No Brasil algo parecido se passa. Nossa curva de juros também está invertida com juros longos menores do que os curtos. O mercado acredita que inflação e juros serão menores no Brasil do futuro.
5) A sinalização de interrupção do ciclo de alta da SELIC pelo BC brasileiro causou um mini rally de ativos brasileiros. O ibovespa superou o patamar de 107 mil pontos e nosso juros de 10 anos veio abaixo de 12,5%
6) Podemos imaginar um cenário mais benéfico para inflação com atividade mais fraca nos EUA, Europa e Asia, num contexto de queda de preços de commodities e juros mais elevados em todo lugar. Mas todo cuidado é pouco quando montamos cenários e tentamos apreciar o que está revelado na bola de cristal