*escrito por Felipe Augusto
Interessante relatório da @DistanceTimes sobre um braço da política industrial chinesa pouco comentado, mas com grande potencial de incomodar concorrentes no futuro próximo: os programas “little giants” e “single champions”. Os programas têm como alvo pequenas e médias empresas (PMEs) “especializadas e avançadas”, selecionadas e apoiadas pelo governo chinês por sua posição de liderança em elos industriais críticos ou por seu potencial para estabelecer tal posição. “Single champions” são empresas que focaram por muito tempo em determinados segmentos de produtos especiais e de nicho da indústria, possuindo tecnologia ou processo produtivo de ponta e possuindo relevante participação de mercado no mundo. Essas empresas se beneficiam de políticas preferenciais tanto a nível nacional como provincial. Por exemplo, o MDIC chinês (MIIT) se comprometeu a dar “apoio prioritário”, como acesso a Fundos, e províncias como Zhejiang oferecem subvenções de acordo com os gastos em P&D. Desde 2016, 1.286 empresas foram consideradas “single champions”. A maior parte delas está localizada em províncias do litoral e em segmentos como máquinas, químicos, materiais, metais e minerais.
Já as “little giants” são as melhores PMEs especializadas e avançadas, focadas em segmentos de nicho de mercado, com forte capacidade de inovação, alta participação de mercado, domínio da tecnologia principal e que são pioneiras em qualidade e eficiência. É uma espécie de etapa anterior às “single champions”. Pequim já selecionou mais de 9 mil “little giants” até o momento. A China oferece apoio estatal direcionado. Por exemplo, de 2021 a 2025, o governo destinará 10 bilhões de RMB em subsídios para mil “little giants”. Também fornece serviços para ajudar no crescimento de seus negócios, como computação em nuvem e design industrial, e consultoria sobre “se” e “como” abrir o capital e sobre a aplicação de propriedade intelectual. Os segmentos mais contemplados são similares, mas há diferenças importantes. Metais, minerais e máquinas de energia renovável são mais relevantes entre as “single champions”, refletindo a dominância chinesa em segmentos como terras-raras, turbinas eólicas e paineis solares. Já os semicondutores aparecem com maior relevância entre as “little giants”, refletindo a grande mobilização nacional mais recente de desenvolver esse setor, especialmente após as medidas restritivas adotadas pelos EUA. Esses programas são fundamentais para a China se tornar mais autossuficiente em recursos materiais e tecnológicos, evitar “pontos de estrangulamento” nas cadeias de suprimentos e exercer maior influência e controle sobre a indústria global. Segundo o relatório, os programas chineses desafiam a teoria das vantagens comparativas. A China busca segurança industrial e influência, e investe nos elos a montante e a jusante, inclusive naqueles em que a ortodoxia defenderia que o país deveria depender de importações.






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