Trabalho aplicado de Giesteira, Caliari e Orsolin (2023) realiza uma análise comparativa do dinamismo econômico e tecnológico dos setores industriais do Brasil, CNAE 3 dígitos, durante o período 2007-2020, com vistas a identificar correspondência entre essas variáveis de resultado e a prática de política industrial (PI) setorial. Para a análise de dinamismo econômico e tecnológico, foi considerada a taxa de crescimento média das seguintes variáveis em comparação com a taxa média da indústria de transformação: valor da transformação industrial (VTI), exportações (EXP) e pessoal ocupado em atividades técnicas (POTEC). A aplicação da análise de cluster permitiu estabelecer grupos distintos de dinamismo setorial.
Para a observação da prática de política industrial, foram definidos cinco instrumentos: desoneração fiscal, financiamento BNDES, FINEP (reembolsável e não-reembolsável) e compras públicas. Os resultados categóricos desses instrumentos foram cruzados com os dados de dinamismo econômico e tecnológico, além de características setoriais (intensidade tecnológica e orientação da demanda) através de técnicas descritivas e da análise de correspondência múltipla. Os resultados sugerem: i)ter havido pouca coordenação entre o emprego dos instrumentos, ii)que a grande parte dos setores não se distinguiu dos padrões gerais da indústria de transformação, iii)que performances excepcionais não estão relacionadas à diversidade de instrumentos, mas que os setores de maior intensidade tecnológica parecem ter respondido particularmente bem à combinação de financiamento do BNDES e da FINEP e uso de poder de compra público.
Ao se observar setores de alta ou média alta tecnologia que se destacaram em um ou mais critérios (integrando “clusters” de desempenho), apenas seis obtiveram destaque (Tabela 3), quais sejam: Veículos ferroviários e Instrumentos óticos etc (destaques em aumento da inovatividade), Farmoquímicos, Equipamento bélico, Equipamento Eletromédico e Instrumentos Médicos (destaque em dinamismo e competitividade) e Químicos orgânicos (destaque em competitividade). É marcante em todos os casos a importância da participação do estado, seja como demandante – no caso de material ferroviário, indiretamente – seja como indutor da oferta, em químicos orgânicos, sendo que em alguns setores atuou “nas duas pontas” (complexos de saúde e de defesa). De forma geral, os autores destacam que os resultados a partir dos indicadores de política industrial (PI) mostram que a diversidade de instrumentos de PI não estava necessariamente relacionada a melhores resultados econômicos e tecnológicos, pois setores classificados com alta diversidade de PI não apresentaram resultados melhores que a média da indústria. PIs específicas, porém, estão relacionadas a dinamismo econômico. Por um lado, o financiamento do BNDES está relacionado a setores de menor intensidade tecnológica, setores tradicionais que já possuem vantagem comparativa e que criaram dinamismo no VTI e exportações, demonstrando resultados econômicos importantes. Por outro lado, setores de maior intensidade tecnológica (média-alta e alta) possuem maior relação com os instrumentos FINEP reembolsável e compras públicas (Farmoquímicos, Equipamento bélico pesado, armas de fogo e munições, Aparelhos eletromédicos e eletroterapêuticos e equipamentos de irradiação, Construção de embarcações e Instrumentos e materiais para uso médico e odontológico e de artigos ópticos).
os critérios mostraram um padrão contraditório entre o desempenho dos setores e o recebimento de recursos conjuntos do BNDES e da Finep. Os setores que se destacaram no que tange aos recursos do BNDES receberam recursos da Finep muito abaixo da participação desses setores no VTI. O mesmo vale para os que se destacaram no que tange aos recursos da Finep, visto que esses mesmos setores receberam recursos do BNDES muito abaixo da participação desses setores no VTI. Dessa forma, é observado que os setores que foram destaques se beneficiaram ou do BNDES ou da Finep. Apenas dois setores se beneficiaram conjuntamente (acima da média do VTI) por recursos do BNDES e da Finep. O mais interessante é que esses foram os únicos setores de alta tecnologia de toda a amostra que se destacaram em termos de desempenho conjunto em VTI, exportações e POTEC. Além disso, também foi observado que esses dois setores se beneficiaram por compras públicas durante o período analisado.