*escrito por Felipe Augusto
Apesar das tentativas de encontrar modelos alternativos de desenvolvimento econômico, não existe uma estratégia amplamente replicável para desenvolver um que não envolva ter uma economia altamente industrializada. Cerca de 95% das economias que atingiram alta renda passaram por esse período de alta concentração manufatureira e alcançar participação de ao menos 18% a 20% no emprego industrial foi quase suficiente e absolutamente necessário para isso. Brasil nem chegou a ter 16%. a renda aumentou muito no mundo em desenvolvimento entre 2000 e 2015, principalmente por causa do boom das commodities decorrente da demanda chinesa que, ironicamente, ajudou a prender os países em exportações low-tech e de baixa diversificação. O período 1950-1980 foi a “era de ouro”, quando restrições aos fluxos de capital permitiram a implementação de estratégias de desenvolvimento agressivas, inspiradas pelo nacional-desenvolvimentismo, com destaque para o crescimento brasileiro. Tivesse o Brasil mantido as altas taxas de crescimento daquele período, provavelmente já seria rico. Quem apostava nisso era Rostow, reconhecido teórico do desenvolvimento, que em 1961 já considerava que o Brasil logo entraria em uma trajetória de crescimento sustentado. A “era de ouro” foi duramente interrompida por uma série de crises nos anos 1970, mas foi o Volcker Shock, quando o FED aumentou fortemente as taxas de juros americanas entre 1979 e 1981, que acabou tendo o impacto mais duradouro sobre o mundo em desenvolvimento.
O ambicioso nacional-desenvolvimentismo das décadas passadas deu lugar aos ajustes estruturais do FMI, que reduziram a capacidade estatal por meio de privatizações e desregulamentações. Mas essas reformas fizeram pouco para melhorar os fundamentos do crescimento. Nesse contexto, a desindustrialização precoce do mundo em desenvolvimento era como se “uma fruta estivesse apodrecendo antes de amadurecer”, nas palavras de Rostow. A tarefa histórica da industrialização ainda não havia sido finalizada. Paralelamente, o êxodo rural, causado pelo aumento da intensidade de capital na agricultura, pela especialização gerada pela globalização e pela redução dos subsídios estatais pós-1980 gerou um exército de mão de obra em serviços de baixa qualificação nas grandes cidades. Economistas passaram a defender um desenvolvimento liderado por serviços, cujo maior exemplo seriam os call-centers e a indústria de TI indianas. Realidade: 90% dos empregos criados desde a liberalização indiana de 1991 são informais, de baixa qualificação, e longe de TI. Festejados como microempreendedores, esses milhões de trabalhadores informais se veem, na verdade, em um beco sem saída. Precarizados e com baixos salários, e diante da financeirização prematura no mundo em desenvolvimento, usam o endividamento como meio de sobrevivência. Nesse contexto, o Brasil vira exemplo de destaque da queda da complexidade produtiva: de 26ª economia mais complexa do mundo para a 60ª, atrás do Quirguistão e da Macedônia, com o rentismo extrativista cada vez mais central. o grande problema parece ser a superação da armadilha da renda média. O pulo do gato seria a criação de coalizões desenvolvimentistas estratégicas e pragmáticas. Mas, para países como o Brasil, a emergência dessa coalizão parece improvável.
Referências
https://americanaffairsjournal.org/2022/11/the-long-slow-death-of-global-development/
https://www.adb.org/sites/default/files/publication/149984/ewp-420.pdf