A verdadeira história da Coreia do Sul

*escrito por Uallace Moreira e Felipe Augusto

O espetacular crescimento econômico coreano entre 1960 e 1995 se deve aos Chaebols, grandes conglomerados de capital nacional impulsionados por uma série de políticas governamentais. Acesso preferencial e subsidiado a crédito, protecionismo via desvalorização cambial, subsídios a exportações e garantias estatais. Ainda, o governo limitou a competição e restringiu a entrada de novas empresas. Estrangeiros só podiam ter até 26% das ações de empresas coreanas. Não fosse pela escolha deliberada de criar uma indústria nacional, fornecendo aos Chaebols apoio financeiro e proteção comercial e monetária, a Coreia teria permanecido uma economia agrícola. Ao invés disso, em 30 anos se tornou líder mundial em eletrônicos e telecomunicações. A crise 1997 levou a uma mudança de estratégia, mas ela durou pouco. A crise da Ásia de 1997 foi dura, com a maior queda do PIB na história recente do país de -5,7%, ultrapassando apenas a queda do PIB do final da Guerra da Coreia (1950-1953).

Variáveis que explicam a crise na Ásia em 1997; Primeira Variável – O papel das agências de riscos (credit rating agencies: criaram um cenário de euforia na região, e depois criaram um ambiente de pânico, contribuindo para a fuga de capitais e os ataques especulativos. Segunda variável – O papel do FMI: A sugestão de manutenção de elevada taxas de juros para atrair capital e equilibrar o câmbio teve efeito inverso.  Isso resultou na corrosão da confiança dos investidores, com a perspectiva de que os países da região iriam quebrar. Terceira Variável – A política de contenção do crédito proposta pelo Banco de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements): a Proposta de reduzir o volume de crédito pelos bancos comerciais e de desenvolvimento. Mesmo considerando a crise das empresas com o câmbio valorizado e crise da região, impactando na dinâmica das exportações desses países. Ou seja, o BIS vai propor uma política monetária pró-cíclica. Quarta variável – A interferência do FMI e a sua atuação distorcida: O FMI foi criado com a finalidade de oferecer mecanismos de equilíbrio e evitar crises nas contas externas, principalmente aos países periféricos com problemas estruturais. Mas a partir dos anos 1980, o FMI passou a propor condicionalidades – como reforma trabalhista e na governança corportativa – que trouxeram maior vulnerabilidade externa, como o caso da Coreia.

Vendo que a economia não se recuperava, Kim Young-sam e depois Kim Dae-jung, adotaram políticas contrárias ao FMI: a) Redução dos juros para estimular o crédito; b) Déficit orçamentário, com maior gasto do governo. Não foram as medidas do FMI que contribuíram para a recuperação: a) A crise se aprofundou mais porque o FMI impedia a virada na política macro até maio de 1998 e o mercado financeiro não se estabilizou, b) Se não fosse o FMI, o país teria se recuperado mais rápido. A Coreia rompeu com o FMI, dado que sua agenda não promovia a recuperação econômica.  principalmente porque as sugestões de ajustes fiscal e monetário na Coreia estavam impedindo o país de se recuperar. Os Chaebols voltaram a reconquistar poder depois disso. Se no auge dos anos 1990 os 30 maiores Chaebols representavam 16% do PIB, atualmente só a Samsung já tem 16,4%. Nada disso prejudicou o crescimento coreano. Pelo contrário. Se em 2003 a renda per capita da Coreia representava 51% da dos EUA, em 2020 ela atingiu 70%. Crescimento que coincidiu com a volta do Estado coreano à liderança do processo de desenvolvimento. Após a crise de 1997, cresceu a percepção no país de que medidas como a liberalização financeira trouxeram instabilidade ao país sem o crescimento prometido. O governo havia perdido os meios de direcionar a atuação dos Chaebols para a realização de investimentos produtivos. Seguiram-se medidas como a nacionalização de bancos locais, a expansão dos bancos públicos e novos modos de conceder crédito de maneira estratégica, como os fundos de venture capital estatais. Até hoje a participação dos bancos estatais nos empréstimos coreanos é muito elevada.

Como explicar a crise asiática de 1997?

Refs:

http://www.levyinstitute.org/publications/yes-it-did-happen-again

 

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