Uma das maneiras interessantes de se medir a sobrevalorização de uma moeda é comparar o preço do big Mac em dólares no país em questão com o preço do mesmo em dólares no resto do mundo. Teoricamente uma mesma cesta de produtos deveria ter o mesmo preço ao redor do mundo, especialmente se todos os bens que compõe essa cesta fossem transacionáveis, sujeitos a arbitragem do comércio internacional. Obviamente que não são e existem n diferenças entre preços de custo de mão de obra, imóveis, impostos etc… entre países que fazem com que o preço deste bem seja relativamente distinto ao redor do globo.
Entretanto, pelo menos intuitivamente, seria de se esperar que em países mais pobres e com rendas per capita menores, o Big Mac custasse menos já que salários e aluguéis são relativamente menores. De fato, fazendo uma regressão entre nível de renda per capita e preço do Big Mac em dólares não é difícil perceber essa relação. Países mais pobres têm o Big Mac em dólares mais barato. Ocorre que alguns países apresentam-se de forma anômala nessa questão. Por exemplo, no Brasil, um Big Mac hoje custa em dólares quase U$6,00, o terceiro Big Mac mais caro do mundo. Nos EUA custa hoje U$4. Como os salários e imóveis são mais muito mais caros em terras americanas, alguma coisa está errada.
O suspeito aqui é o câmbio. A sobrevalorização cambial brasileira desalinha os preços domésticos em termos internacionais e causa deterioração da conta corrente. Eventualmente nosso déficit externo explodirá e o câmbio voltará para sua posição de equilíbrio. O gráfico abaixo mostra a evolução do preço do Big Mac em dólares no Brasil e nos EUA. Repare que eventualmente os preços se cruzam, mostrando que há uma relação de equilíbrio de longo prazo entre preços nos EUA, no Brasil e a taxa de câmbio. Hoje, em dólar está tudo muito caro no Brasil.
*link The Economist: http://www.economist.com/blogs/dailychart/2011/07/big-mac-index
**2012: http://www.economist.com/blogs/graphicdetail/2012/07/daily-chart-17
Creio que não é desprezível o efeito que alguns denominam de “fetiche da mercadoria”. O Kindle, que no Brasil é absolutamente livre de impostos, inclusive de importação, desde que o STF decidiu estender a ele a imunidade tributária dos livros, é mais caro aqui do que na Europa, onde a Amazon tem que recolher 7% de IVA.