O índice IBOVESPA registrou a pior sequência de quedas consecutivas desde o ano de 1970, estabelecendo um novo recorde. No entanto, é importante observar que essas quedas têm sido relativamente pequenas, situando-se em torno de 0,50% por dia. Estão longe das quedas mais acentuadas que caracterizaram grandes crises anteriores que chegavam a acumular perdas de mais de 20%. O dólar se valorizou em relação ao real e voltou para a casa dos R$5. Esse movimento recente levou a uma valorização de 5% da moeda americana em ralação à brasileira ao longo do mês. As taxas de juros de prazo mais longo atingiram 11%, refletindo um cenário de aversão ao risco e um movimento de venda dos ativos do “Kit Brasil” (real, bolsa e juros). Esse movimento é caracterizado pela queda da bolsa, desvalorização da moeda brasileira e aumento das taxas de juros de longo prazo. Parte desse cenário é influenciada pelo atraso na votação das medidas fiscais em discussão no congresso. No entanto, é importante ressaltar que parte significativa da explicação reside no contexto internacional. Moedas emergentes têm enfrentado desvalorizações em relação ao dólar, não apenas o real brasileiro. O peso chileno, por exemplo, caiu mais de 5% nos últimos trinta dias, e outras moedas como o rand sul-africano, o won coreano e peso filipino também estão se desvalorizando. O fortalecimento do dólar reflete uma demanda global pela moeda americana, influenciada por indicadores econômicos robustos dos Estados Unidos.
A produção industrial nos EUA registrou um aumento de 1% em julho, superando as expectativas. Além disso, o setor varejista também apresentou um crescimento significativo de 0,7% no mesmo mês. Há especulações sobre um possível crescimento de 5% no PIB americano no terceiro trimestre, embora isso ainda esteja sujeito a incertezas. As políticas de redução do balanço do Federal Reserve (FED) em quase 1 trilhão de dólares também têm impacto nas taxas de juros de longo prazo. Ao retirar-se do mercado de títulos de longo prazo, o FED provoca uma pressão que eleva as taxas de juros. O déficit primário dos Estados Unidos, projetado para ultrapassar dois trilhões de dólares este ano, também contribui para esse cenário de pressão sobre as taxas. A ata recente do Federal Open Market Committee (FOMC) também trouxe uma postura mais rígida por parte dos diretores do FED, sem afirmar explicitamente o término do ciclo de elevação das taxas de juros. Isso adiciona uma dose de incerteza ao mercado, que está dividido quanto à possibilidade de mais uma alta nas taxas na próxima reunião em setembro. Os juros de 10 anos nos EUA foram a máxima desde 2008 tocando os 4,30%. As bolsas sofrem uma correção de 5% por lá e os juros de hipotecas e de títulos públicos de 30 anos também estão em máximas de uma década. A situação dos ativos brasileiros é impactada por esses fatores internacionais, resultando na queda da bolsa, desvalorização do real e aumento das taxas de juros de longo prazo. A China também continua a ser uma preocupação, com sinais de desaceleração econômica e notícias negativas no setor imobiliário e questões relacionadas a dívidas públicas e privadas. No Brasil o Índice Geral de Preços da FGV (IGP-10) registrou mais uma deflação de 0,13%, e começa já a captar o impacto da desvalorização do real nos preços internos. Há uma virada nos preços de commodities em reais, como o da soja, que subiu quase 6% na última medição do IGP. A tendência é que a moeda brasileira se valorize no médio prazo à medida que as tensões internacionais se acalmem, mas por ora efeito deflacionário da apreciação da moeda brasileira e queda de preços de commodities está passando.
Ideias chave:
1) IBOVESPA registra pior sequência de quedas consecutivas desde 1970, quebrando recorde.
2) Dólar se valoriza, atingindo R$5, com aumento de 5% no mês.
3) Taxas de juros de longo prazo no Brasil atingem 11%, indicando aversão ao risco e movimento de venda de ativos do “Kit Brasil”.
4) Moedas emergentes se desvalorizam, incluindo peso chileno, rand sul-africano, won coreano e peso filipino.
5) Fortalecimento do dólar reflete demanda global, impulsionado por indicadores econômicos fortes nos EUA, redução do balanço do FED, e ata recente do FOMC que indica possível alta de juros
6) Preocupações com China continuam com sinais de desaceleração econômica e problemas no setor imobiliário