Bancos centrais adotam retórica mais dura

Os bancos centrais estão adotando uma retórica mais incisiva preocupados com a inflação ainda elevada. Ontem, observamos uma queda nas bolsas americanas devido ao discurso ambíguo do presidente do Fed no congresso. Powell diz que eles não mencionaram a palavra “pausa”, ou seja, estão preocupados em ressaltar que não necessariamente haverá um aumento das taxas de juros nos Estados Unidos na próxima reunião, mas que elas podem subir até o final do ano em uma ou duas ocasiões, provavelmente de 0,25 pontos percentuais. Consequentemente, as bolsas reagiram com queda nos Estados Unidos, ficando um pouco preocupadas com o discurso de Powell e de outros diretores do Fed que também seguiram na mesma direção. No Brasil, o mercado acionário continuou em alta, o Ibovespa atingiu novamente a marca de 120.000 pontos, o dólar caiu para R$ 4,76 e as taxas futuras de juros recuaram de 11% na ponta longa. A alta nas commodities também contribuiu para esse cenário, e vale destacar a recomendação de compra da Petrobras feita por três bancos americanos, o Morgan Stanley, o J.P.Morgan e a Goldman Sachs; o que impulsionou o desempenho das ações da empresa. Esse movimento é até surpreendente, considerando que tantos analistas estão recomendando a compra de ações da Petrobras nos últimos meses.

O Banco Central da Inglaterra elevou a taxa de juros hoje em 0,5 ponto percentual,  levando-a para 5% devido à inflação que está acima do esperado no país. Na Turquia, também houve um aumento significativo nas taxas de juros para 15%, lembrando que a inflação na Turquia está em um patamar semelhante ao da Argentina, chegando a quase 100%. O Banco Central da Suíça também aumentou as taxas de juros. Os bancos centrais estão sendo firmes tanto em suas ações quanto em sua retórica. Um destaque importante é o comunicado do Banco Central Brasileiro divulgado ontem pelo COPOM, que manteve as taxas de juros em 13,75%, conforme esperado, mas veio com um comunicado mais contundente do que se imaginava. Houve algumas indicações sutis de que os juros podem cair no segundo semestre, provavelmente em Agosto ou Setembro. Vale ressaltar a exclusão do parágrafo que mencionava que os juros poderiam subir caso a inflação aumentasse, o que parece ser desnecessário nesse momento, considerando a desaceleração da inflação no Brasil. Além disso, também foi retirada a previsão de que a inflação ficaria abaixo de 3% se as taxas de juros fossem mantidas em 13,75% até o final do próximo ano, o que indica que os juros devem cair.

Em suma, o Banco Central enfatizou a importância da prudência e da cautela, mencionando que perseverará e que as próximas medidas dependerão das expectativas de inflação, especialmente no longo prazo. Eles demonstraram insatisfação com a dinâmica das expectativas de inflação, mencionando a queda acentuada das commodities, que deve continuar, mas já foi em parte observada. Por outro lado, destacaram que o horizonte relevante para a política monetária começa foi para 2024, mostrando que já estão considerando esse período. O balanço de riscos segue neutro, ou seja, a inflação pode subir ou cair, e eles mencionaram elementos que podem contribuir para uma inflação menor do que o esperado. Ao afirmar que o balanço de riscos é neutro, concluem que não têm inclinação para cortar os juros de forma agressiva. No geral, o tom é firme, e não há grandes novidades ou mudanças no discurso. Há uma sugestão sutil de que os cortes de juros podem começar no segundo semestre. No entanto, acredita-se que seja mais provável que comecem em Setembro, não em Agosto, embora algumas instituições ainda mantenham a possibilidade de um corte de 0,25% em agosto. Essa percepção de um Banco Central firme e contundente pode até levar a uma maior valorização da moeda brasileira, mantendo uma diferencial de juros alto em relação ao resto do mundo, o que pode acelerar a deflação de curto prazo, especialmente no atacado. Vale lembrar que a valorização da moeda nacional reduz o preço em reais de todos os bens transacionáveis, incluindo commodities e produtos industriais. Estamos observando uma deflação acentuada nos índices de preços no atacado, o que pode ser acelerado caso o câmbio continue se apreciando após esse discurso mais contundente do Banco Central Brasileiro. O arcabouço fiscal também foi aprovado no Senado, com algumas alterações, agora precisando retornar à Câmara, o que pode levar pelo menos mais quinze dias para ser votado novamente.

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