Bancos centrais podem reduzir taxas de juros para aliviar crise de crédito

A quebra do banco do vale do silício levou a um derretimento dos juros nos títulos de dois anos nos EUA. Em dois dias a taxa caiu quase 50 pontos, algo que só havia acontecido duas outras vezes nos últimos 40 anos: na crise da bolsa americana em Outubro de 1987 e na estouro da bolha ponto com em Setembro de 2001. O mercado de juros sentiu com força o encerramento dessa instituição forçado pelas autoridades regulatórias americanas. O banco do vale do silício tinha obviamente muita exposição ao setor de tecnologia, além de extremo crescimento de depósitos nos últimos anos em um período muito curto. O boom das empresas tech inflou o balanço do banco em 2021 e 2022. Parte desses recursos foi canalizado para títulos públicos e títulos imobiliários. As altas de juros do FED em 2022 trouxeram grandes prejuízos a essa carteira, algo que finalmente apareceu nos resultados do banco divulgados no começo de março. O desempenho e o funding para as empresas tech do vale do silício também começou a minguar ainda na metade de 2022. Os lucros e os preços de ações afundaram. Esse movimento dificultou novas captações para o banco e por fim com todo o pânico dos últimos dias surgiu uma corrida bancária por parte dessas empresas para sacar seus recursos; o banco sucumbiu.

Ato contínuo o BC americano anunciou uma linha de crédito de curto prazo lastreada em títulos públicos para ajudar bancos pequenos e médios a conseguir recursos sem ter de liquidar suas carteiras com prejuízos. Além disso anunciou de forma conjunto com o FDIC que todos depósitos do Sillicon Valley Bank serão honrados, inclusive acima do valor regulatório de U$250 mil. O Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) é uma agência federal dos Estados Unidos cuja principal função é a de garantia de depósitos bancários. Foi fundada por Franklin D. Roosevelt em 1933. Ou seja, o governo americano veio com força socorrer bancos temendo um contágio para todo o sistema americano. O Signature Bank também foi liquidado pelas autoridades monetárias e vários outros bancos sofrem enorme stress no momento. O choque de juros promovido pelo BC americano tem causado enormes prejuízos nas carteiras de títulos públicos, privados e ações. O controle da inflação não virá sem custos e o mercado financeiro americano começa a trazer sinais preocupantes. Os juros elevados de hipotecas também têm trazido grandes dificuldades ao mercado imobiliário. Apesar de o desemprego continuar baixo e da atividade econômica ter surpreendido para cima, os sinais de stress financeiro estão aumentando. Alguns fundos imobiliários nos EUA já colocaram travas de resgate devido a dificuldades de liquidez. No Brasil o caso Americanas e as dificuldades de outras varejistas e empresas de grande porte em rolar suas divididas também demandam atenção. O BC brasileiro disse que não há crise de crédito por aqui mas que monitora a situação com atenção. O choque de juros promovido no Brasil, nos EUA e mundo afora para controlar a inflação traz em seu bojo efeitos duros para empresas e famílias muito endividadas. Estamos agora assistindo parte dessas consequências. Daqui por diante os movimentos de altas de juros devem terminar e num próximo passa caminharemos para cortes. No Brasil, além do agravamento recente da situação do mercado de crédito, os sinais de desaceleração de atividade econômica se acumulam. Houve queda do PIB no quarto trimestre de 2022 e os dados de janeiro e fevereiro desse ano não são bons. O BC brasileiro se defronta agora com uma situação ainda mais complexa: inflação elevada, tensão no mercado de crédito e atividade econômica parando. Algo similar ocorre nos EUA. O próximo passo da política monetária será aliviar o choque de juros para ajudar o sistema financeiro a se equilibrar.

 

Ideias chave

  • A quebra do banco do vale do silício levou a um derretimento dos juros nos títulos de dois anos nos EUA
  • O boom das empresas tech inflou o balanço do banco em 2021 e 2022. Parte desses recursos foi canalizado para títulos públicos e títulos imobiliários.
  • As altas de juros do FED em 2022 trouxeram grandes prejuízos a essa carteira, algo que finalmente apareceu nos resultados do banco divulgados no começo de março.
  • Ato contínuo o BC americano anunciou uma linha de crédito de curto prazo lastreada em títulos públicos para ajudar bancos pequenos e médios a conseguir recursos sem ter de liquidar suas carteiras com prejuízos.
  • O choque de juros promovido pelo BC americano tem causado enormes prejuízos nas carteiras de títulos públicos, privados e ações. O controle da inflação não virá sem custos e o mercado financeiro americano começa a trazer sinais preocupantes.
  • No Brasil o caso Americanas e as dificuldades de outras varejistas e empresas de grande porte em rolar suas divididas também demandam atenção.
  • O choque de juros promovido no Brasil, nos EUA e mundo afora para controlar a inflação traz em seu bojo efeitos duros para empresas e famílias muito endividadas. Estamos agora assistindo parte dessas consequências.

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