Bolsas em alta, juros em queda

Nos últimos dias os rendimentos dos títulos de dez anos nos EUA recuaram para menos de 4,60%. Até o início da semana passada, as taxas desses títulos estavam em 5%. Vale destacar que essas taxas são uma referência importante para a precificação de diversos ativos, incluindo ações, câmbio e juros, tanto nos EUA quanto no resto do mundo. Essa forte queda nos rendimentos dos títulos de dez anos tem impactado positivamente o mercado financeiro brasileiro. A Bovespa registrou uma alta notável, atingindo 120 mil pontos, enquanto as taxas de juros de longo prazo caíram de 12% para menos 11,50%. Além disso, o real se valorizou, com o dólar caindo para menos de R$4,90. Esse movimento pode ser explicado por diversos eventos recentes. Primeiramente os discursos do presidente do Federal Reserve (FED), Jerome Powell, têm sido cautelosos mas sugerem que o ciclo de aumento de juros nos EUA pode estar chegando ao fim. Outro evento importante foi a divulgação do relatório de emprego (Payroll) de Outubro que mostrou a criação de apenas 150 mil vagas nos Estados Unidos, bem abaixo das expectativas de 180 mil e muito menos do que as 300 mil vagas criadas em setembro. A taxa de desemprego subiu para 3.9%. O desempenho mais fraco do mercado de trabalho americano levou o mercado a apostar em cortes de juros nos EUA a partir de maio ou junho do próximo ano. A queda nos preços do petróleo abaixo dos US$80 também sugere uma perspectiva de inflação mais branda, apesar dos conflitos no Oriente Médio. Na China houve deflação no Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de 0,2% em outubro. Este declínio está fortemente associado à redução nos preços da carne de porco, um componente essencial na dieta chinesa. Além disso, os preços ao produtor (PPI) também apresentaram deflação, com uma queda de 2,6%. Essa tendência de deflação, já observada nos últimos meses, também contribui para reduzir a inflação no cenário global; a China desempenha um papel crucial como a grande fábrica do mundo, exportando para diversos países.

No Brasil a questão fiscal continua sendo uma preocupação, bem como a discussão sobre a meta do resultado primário para o próximo ano. A última ata do Comitê de Política Monetária (COPOM) indicou pelo menos mais dois cortes de 0,50 pontos percentuais na taxa Selic, que deve encerrar o ano em 11,75% e cair para 11,25% em janeiro. Depois desses movimentos o COPOM pode desacelerar o ritmo de cortes. A primeira prévia do IGPM para novembro indicou uma deflação de 0,27, revertendo parte das leituras de alta de outubro. O IPCA do IBGE fechou outubro em 0,24%, abaixo das expectativas de 0,29%, com destaque para a desaceleração nos serviços com alta de 0,19% e redução nos preços dos combustíveis. Esses elementos contribuíram para um comportamento mais favorável da inflação, que, em doze meses, está em 4,82%, e provavelmente encerrará o ano abaixo do teto da meta de 4,75%. Os indicadores de atividade econômica no Brasil mostram sinais de enfraquecimento. O cenário de crescimento mais lento no terceiro e quarto trimestres deste ano contribui para uma inflação mais controlada, aliviando a pressão sobre o mercado de trabalho. Embora seja uma má notícia em termos de crescimento, a boa notícia é que a inflação permanece controlada, permitindo ao Banco Central continuar cortando as taxas de juros, possivelmente para baixo dos 10%. Esse panorama mais favorável de inflação pode trazer um final de ano mais promissor para preços de ativos no mercado financeiro.

 

Ideias chave:

1)Rendimentos dos títulos de 10 anos nos EUA caíram para menos de 4,50%, Bovespa atingiu 120 mil pontos, Taxas de juros de longo prazo no Brasil caíram de 12% para menos de 11,50%

2)Discursos de Jerome Powell sugeriram possível fim do ciclo de aumento de juros nos EUA, relatório de emprego de outubro nos EUA mostrou criação de apenas 150 mil vagas, abaixo das expectativas.

3)Desempenho mais fraco no mercado de trabalho americano levou a apostas em cortes de juros nos EUA a partir de maio ou junho do próximo ano, queda nos preços do petróleo e deflação na China indicam perspectiva de inflação mais branda globalmente.

4)Questão fiscal e meta de resultado primário para o próximo ano continuam sendo preocupações no Brasil, COPOM indica pelo menos mais dois cortes de 0,50 pontos percentuais na taxa Selic.

5)Primeira prévia do IGPM para novembro mostrou deflação de 0,27%, o IPCA fechou outubro em 0,24, abaixo das expectativas, contribuindo para uma inflação em 12 meses de 4,82%

6) Panorama mais favorável de inflação pode trazer um final de ano promissor para os preços de ativos no mercado financeiro.

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