O FED subiu os juros em 0,5% em sua reunião de Maio e Jerome Powell, presidente do BC americano, disse na entrevista para a imprensa que na próxima reunião deve vir mais 0,5% e não os 0,75% que alguns esperavam. Disse ainda que o ritmo de 0,5% é o mais provável para as próximas reuniões além de junho. O mercado de trabalho dos EUA segue forte com criação de mais de 400mil empregos em Abril. O número de vagas de trabalho disponíveis nos EUA atingiu 11 milhões para uma população de 6 milhões de desempregados; ou seja, existe hoje nos por lá quase duas vagas abertas à espera de um trabalhador desempregado. Apesar do mercado de trabalho aquecido a economia dos EUA começou a dar sinais de desaceleração. Os juros para crédito imobiliário estão em máximas de uma década e as taxas de juros futuros de mercado estão na case de 3%. O encarecimento do crédito já começou a surtir efeito nas decisões de compras das famílias americanas. Os níveis de inflação continuam extremamente preocupantes com taxas acima de 7% ao ano. No dia do anúncio da decisão do FED as bolsas americanas ficaram aliviadas e subiram mais de 3%, no dia seguinte a ficha caiu e os mercados despencaram quase 4%, a maior queda desde o início da crise do Covid. O alívio de uma possível alta de 0,75% na reunião de junho foi substituído por temores em relação a quantidade de altas que serão feitas ao longo de 2022. Powell reiterou várias vezes em sua entrevista coletiva que o BC americano levará os juros até onde for necessário para controlar a inflação; mencionou inclusive que mais duas altas de 0,5% são pra já o cenário mais provável. O mercado estimava uma taxa de juros em 3% no final desse ciclo de alta; esse número já se aproxima hoje de 4%.
No Brasil o Copom aumentou juros em 1% e levou a Selic a 12,75%; anunciou também mais um aumento de menor magnitude na próxima reunião. Não está claro se a nova dose será de 0,25%, 0,50% ou 0,75%. O BC está numa posição inglória: inflação projetada para 2022 em 8%, bem acima da meta de 3,5% e baixo crescimento do PIB. Para 2024 as expectativas estão desancoradas com prognóstico de IPCA a 4% contra uma meta de 3,25%. O crescimento do PIB esperado pelo mercado para 2022 está em 0,6%. Temos uma situação de estagflação: baixo crescimento com alta inflação. O desemprego recuou no Brasil mas continua elevado na casa de 11%. O índice da “miséria”, que é a soma da inflação com desemprego, chega no Brasil a 19% em 2022 e foi de mais de 22% em 2021. É um número que mostra a dificuldade enfrentada pela maioria dos brasileiros no seu dia a dia: carestia e falta de oportunidades de emprego. Os ativos financeiros brasileiros não resistiram às quedas das bolsas no mundo. O índice bovespa zerou os ganhos do ano. A moeda brasileira que tinha chegado a mínima de R$4,60 voltou para o patamar dos R$5,00 e nossos juros longos voltaram a romper a barreira dos 12%. A forte aversão ao risco global não poupou ativos brasileiros. Em termos estruturais continuamos ainda com boas notícias que devem nos ajudar a enfrentar as turbulências causadas pelo choque de juros nos EUA, pela desaceleração da China diante de lockdowns de covid e do conflito entre Rússia e Ucrânia. Nos 4 primeiros meses do ano nossa balança comercial acumula superávit de 20 bilhões de dólares, quase a metade de todo superávit de 2021. O resultado fiscal primário em 12 meses está acima de R$100 bilhões, um número que impressiona até o mais otimista dos analistas brasileiros. A melhora considerável de contas externas e públicas no Brasil se deve a um evento bombástico: o choque de preços de commodities. A impressionante alta do petróleo, gasolina, diesel, querosene, gás, trigo, milho, soja, entre outros, trouxe um boom de arrecadação tributária extraordinário e um mega superávit comercial. Existe chance de fecharmos 2022 com superávit primário nas contas públicas e superávit em dólares nas contas externas. O boom de commodities decorrente da pandemia, das políticas de estímulo dos governos mundo afora e do conflito Rússia-Ucrânia trouxe de volta a inflação, mas também trouxe os dólares e tributos que vão ajudar o Brasil a enfrentar a tempestade atual.
Ideias chave:
- O FED subiu os juros em 0,5% em sua reunião de Maio
- No Brasil o Copom aumentou juros em 1% e levou a Selic a 12,75%
- O BC está numa posição inglória: inflação projetada para 2022 em 8%, bem acima da meta de 3,5% e baixo crescimento do PIB
- Em termos estruturais continuamos ainda com boas notícias que devem nos ajudar a enfrentar as turbulências causadas pelo choque de juros nos EUA
- A melhora considerável de contas externas e públicas no Brasil se deve a um evento bombástico: o choque de preços de commodities
- O boom de commodities trouxe de volta a inflação, mas também trouxe os dólares e tributos que vão ajudar o Brasil a enfrentar a tempestade atual
Pois é! Tivemos boom de comodites na era Lula e agora, mas o resultado para a população foi totalmente diverso nas duas situação. Então, a explicação de que o governo Lula foi bom por conta desse boom continua verdadeira?