O Brasil estava entre os mais pobres do mundo em 1900 de acordo com a versão 2020 da base Maddison. Terminamos o período da República Velha como um país pobre em termos relativos e absolutos apesar de ser o país mais populoso da América Latina com grande mercado interno potencial. Segundo essa mesma base os EUA já estavam no grupo de maiores rendas per capita do mundo nesse período do início do século XX. Em 1800 a renda per capita brasileira era de u$867 e a americana de u$2545. Em 1900 o salto para os EUA foi enorme e a complexidade produtiva da economia já estava próxima da fronteira. O Brasil continuava relativamente estagnado com pouquíssima evolução, industrial, tecnológica e produtiva. O caso da economia americana é particularmente interessante, uma economia riquíssima em recursos naturais mas que se tornou a grande potência industrial do mundo durante muitos anos junto com Alemanha e Japão. A industrialização americana remonta ao final do século XVIII, antes ainda da guerra civil. A indústria de navios e prestação de serviços da Nova Inglaterra, com destaque para NY, Filadélfia, Boston e Baltimore, que prosperou durante o bloqueio continental de Napoleão, e depois a própria indústria de tecelagens que surgiram em Nova Iorque e Filadélfia no início dos 1800. Nessa época o sul ainda era a região mais dinâmica do país puxada por exportações de algodão para a revolução industrial inglesa, mas a demanda por navios da Nova Inglaterra e outros bens manufaturados do norte cresciam criando uma nova dinâmica econômica. O Oeste se integrava como grande fornecedor de matérias primas e agricultura. Assim ia se formando a base da estrutura produtiva da economia americana. Esse tecido econômico evoluiu até 1860, às véspera da grande guerra de secessão. Lá já estariam presentes os elementos que fariam do Norte os vencedores da batalha e a grande potência econômica americana em termos regionais: a base produtiva manufatureira. Estrutura esta criada pelos founding fathers com destaque para A. Hamilton e suas ideias sobre tarifas de importação, investimentos em infraestrutura e criação de um banco público. Enquanto os americanos majoravam tarifas até quase 50% para produtos ingleses com o intuito de proteger sua indústria nascente, o Brasil “independente” baixava tarifas e abria seus portos, matando o pouco de manufaturas que havia por aqui.
No inicio dos 1800 a indústria da Nova Inglaterra começou a florescer: fabricação de casas com artesãos locais fornecendo para as suas comunidades; fábricas de fiação de algodão, descaroçadores de algodão, a indústria de armas com peças intercambiáveis, indústria de ferro, fornos e laminadores foram rapidamente suplantando pequenas forjas locais. Em 1804 foi desenvolvido na Filadélfia um motor a vapor de alta pressão que era adaptável a uma grande variedade de fins industriais. Dentro de alguns anos passou a equipar navios, serrarias, moinhos de farinha, máquinas de impressão, bem como fábricas têxteis. A construção ferroviária também desempenhou um papel importante no transporte de pessoas e de carga para o oeste, aumentando o tamanho do mercado Americano. Com a nova infra-estrutura até mesmo partes remotas do país ganharam a habilidade de se comunicar e estabelecer relações comerciais com os centros de comércio da Nova Inglaterra. Os retornos crescentes de escala das fabricas reinaram e as industrias da Nova Inglaterra passaram então a ser o principal fornecedor do Sul e do Oeste agrícola durante todo o período pós-guerra civil até o século XX. Numa dinâmica aliás muito parecida com o que se observou no sudeste brasileiro. Fazendo o café às vezes do algodão para a dinâmica brasileira e o estado de São Paulo se constituído como nossa “Nova Inglaterra”. Claro que com um século de atraso, já com o bonde da história perdido. Mas ainda assim a comparação é válida. Assim como a Nova Inglaterra se tornou o polo econômico e financeiro dos EUA a partir de sua primazia nas manufaturas, São Paulo também se tornou nosso polo dinâmico e nossa Wall Street. Os Robber Barrons, barões ladroes, americanos reinaram nesse ambiente de pujança manufatureira e industrial do nordeste americano. Ferrovias, aço, navios a vapor, eletricidade floresceram nessa época e catapultaram os EUA para a posição de economia mais importante do mundo já no incio do século XX.
base maddison: https://www.rug.nl/ggdc/historicaldevelopment/maddison/releases/maddison-project-database-2020
no seculo XVIII houve grande desenvolvimento economico no brasil devido ao ciclo do ouro, mas parece não ter trazido beneficios para que se fizesse a revolução industrial no pais.
não havia as pre-codições necessarias para que acontecesse a industrialização no brasil?
exato! não havia mercado interno nem mão de obra assalariada!