O discurso duro do banco central americano quanto a subida mais rápida e mais intensa das taxas de juros trouxe quedas as bolsas mundiais e brasileira. O mercado acredita agora que o banco central americano deverá elevar sua taxa básica de juros para 5%. A diretoria do FED parece disposta a realmente subir os juros para ajudar no combate a inflação, por ora. A dúvida que fica agora é sobre uma possível recessão americana. As taxas de juros de hipotecas imobiliárias já passam de 6% ano, maior nível em uma década. Toda estrutura de custo de crédito já está sendo afetada, desde dívidas em cartões de crédito até financiamento de automóveis. A atividade econômica dos EUA já dá sinais de arrefecimento, com destaque para os últimos dados do setor de varejo. Em seu recente “livro Bege” de análise de condições econômicas o BC americano destacou uma moderação do crescimento do PIB associado a inflação persistente; o cenário mais temido por banqueiros centrais. A disparada dos juros longos por lá também causou grande estrago nos mercados de títulos.
A China continua sofrendo muito com sua política de Covid zero a constantes lockdowns, agora como novo surto em Beijing. Importante lembrar que os problemas do setor imobiliário chines já se arrastavam desde 2021 quando eclodiu o caso Evergrande. O governo chines vem desde então aliviando as restrições de alavancagem que havia colocado para os grandes conglomerados da construção civil. Mas essas medidas têm surtido pouco efeito num mercado que já está abarrotado de novas construções e dívidas. Isso para não mencionar os problemas com o setor Tech criados a partir de restrições a listagens de empresas no exterior e quebra de monopólios por parte do governo chines. Esse cenário mais duvidoso por lá tem provocado queda importante nos preços do minério de ferro, que acaba afetando o Brasil. O conflito Russia- Ucrania agrava ainda mais o quadro da economia global que já vinha sofrendo com inflação pós-pandêmica. Covid na China, conflito na Ucrânia, inflação em máxima de 40 anos e alta forte de juros nos EUA não constituem um cenário auspicioso. Diante de tudo isso, o Brasil que vinha como um “queridinho” dos mercados sofreu um baque. A moeda brasileira voltou a se desvalorizar para próximo dos R$5,00 e a bolsa brasileira revisitou os 110.000 pontos. Nossos juros longos voltaram para o patamar de 12%. Frente a esse cenário mais desafiador nosso Banco Central deve levou a SELIC para 13,75%.
Mas o Brasil também tem boas notícias. Nosso setor externo deve apresentar nesse ano os melhores números de nossa história. Um superavit na balança comercial próximo a U$60 bilhões será capaz de neutralizar nosso déficit externo do setor de serviços, levando nossa posição de conta corrente para o equilíbrio. Isso não ocorria desde 2005 e ademais o investimento estrangeiro direto e de portfólio continua fluindo para cá. A melhora fiscal do país também é notável. Saímos de um déficit público primário médio de 2% entre 2016 e 2019 para um déficit próximo de zero em 2022 e 2023. Grande parte disso se deve ao boom de commodities resultante da pandemia e do conflito na Ucrania. As altas de preços de alimentos, minerais e energias beneficiaram sobremaneira nossas contas públicas e externas. A arrecadação de ICMS em cima de combustíveis disparou no final do ano passado, para ficar apenas num exemplo. O Brasil está muito bem nesse novo boom de commodities. O Brasil sofre com o cenário mundial, mas ainda tem muito espaço para se destacar em 2023.
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