Breve história da pirataria tecnológica americana

*escrito com Pedro Cavalcante

No calor da corrida eleitoral à Casa Branca, o candidato a reeleição Donald Trump engrossa o seu tom voz quando se refere à sua política externa  atualmente plasmada em uma longa guerra comercial com a China cuja está fundamentada em inúmeras retaliações diplomáticas e sanções econômicas. Talvez o que mais incomode a Secretaria de Estado dos EUA e tire o sono de Mike Pompeo é a vantagem chinesa na produção e distribuição de equipamentos 5G, a nova geração de internet ultra rápida. A ofensiva orquestrada por Pompeo foi competente no que tange ao uso do mecanismo da guerra psicológica em vários meios de comunicação contra a influência chinesa, que põe em xeque a hegemonia estadunidense no mundo diante do seu crescimento econômico vertiginoso. Diuturnamente, milhões de cidadãos americanos são bombardeados por uma máquina de informações do governo. Dentre as várias acusações feitas, uma delas, é a de que a China está copiando patentes tecnológicas, realizando espionagem industrial dentro do país e roubando a propriedade intelectual americana.

Em 2011 a jornalista Alexandra Harney escreveu: ‘’Quanto mais Pequim pressiona suas empresas e cientistas a apresentarem novas idéias, mais eles parecem copiar o trabalho de outros. Em uma nação com um crescimento econômico tão vertiginoso e um sistema judicial sobrecarregado, os desonestos freqüentemente vencem. O sistema para proteger os honestos simplesmente não é robusto o suficiente. Copiadoras desonestas agem rapidamente para garantir uma vantagem em um mercado em rápido crescimento, e seu sucesso, por sua vez, perpetua a cultura de cópia da China.” ‘’Aos vencedores, os espólios’’ é um ditado americano atribuído que parece ser uma verdade histórica, se levarmos em consideração o percurso trilhado pelos Estados Unidos desde a república até sua elevação a Império global. Quando os Estados Unidos eram ainda apenas treze colônias dominadas pelo poderio britânico, sua economia era baseada na atividade agrícola e o território da Nova Inglaterra era predominantemente rural, enquanto na Inglaterra a Revolução Industrial ocorria a todo vapor. Como resultado destes condicionantes, as colônias dependiam muito da metrópole inglesa, no quesito das importações de matérias-primas e produtos manufaturados. Devido a enorme escassez de recursos como suprimentos militares, desde armas, navios, sapatos e uniformes, segundo um ‘’Relatório de Manufaturas’’ apresentado em 1791 ao recém formado Congresso Americano, Alexander Hamilton, o primeiro secretário do Tesouro da Nação e Tench Coxe, um economista associado e muito próximo do federalista, decidiram que os Estados Unidos deveriam se industrializar e proteger a sua manufatura, e que tal feito só poderia ser realizado atraindo criadores e inventores industriais da Inglaterra. Os britânicos reagiram às investidas de espionagem intelectual dos Estados Unidos com um protecionismo violento, acabando por proibir a exportação de máquinas têxteis e até mesmo a imigração de mecânicos e profissionais ligados à indústria de tecidos.

A reação das autoridades americanas às medidas protecionistas foram ousadas, e enviaram vários americanos para a Grã-Bretanha  em busca de descobrir quais eram os segredos industriais usadas pelos britânicos. Em 1787, Andrew Mitchell foi interceptado por autoridades diplomáticas inglesas, dentro de seu baú estavam modelos e desenhos das grandes máquinas industriais da Inglaterra. A partir daquele momento, a América inaugurou sua pirataria tecnológica, que as startups e grandes empresas tanto temem nos dias contemporâneos. Mitchell foi enviado pelo economista e empresário da Pensilvânia, Tench Coxe, um associado próximo de Alexander Hamilton que logo se tornaria o primeiro secretário do Tesouro dos Estados Unidos. Hamilton e Coxe estavam convencidos da necessidade de a América se industrializar. No apagar das luzes da Segunda Guerra Mundial, o mundo pôde observar atônito o poder arrasador das duas bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki, sob o pretexto de pôr um ponto final no conflito. Aquelas não foram as únicas armas de potencial destrutivo desenvolvidas durante a guerra. Findada a guerra, as autoridades ligadas às potências aliadas, já tinham traçado o ‘’mapa do tesouro’’ para reunir o máximo de tecnologia possível e evacuar toda a logística e material tecnológico dos escombros do derrotado III Reich. Naquele momento, a Alemanha não possuía uma tecnologia notadamente avançada em áreas específicas, mas eles estavam à frente do que se chama de ‘’guerra industrializada’’. A sofisticação evidente dos seus foguetes e bombardeiros jatos deixaram os americanos maravilhados que acabaram desenvolvendo muitas armas com base na sucata que foi saqueada do território alemão.

O confisco do arsenal tecnológico dos nazistas (patentes, projetos e invenções) pelos americanos, e também pelos soviéticos, ajudaram a erguer alguns dos maiores avanços científicos da era moderna, para além do ‘’boom’’ tecnológico do pós-guerra. Dentre os exemplos, podemos citar que armas como o míssil V-2, por exemplo, foram determinantes para o sucesso estadunidense na ciência de foguetes durante a Operação Paperclip, os cientistas que estavam envolvidos no programa espacial dos Estados Unidos foram retirados da Alemanha alguns meses antes do final da guerra. Dessa forma pode-se dizer que o elemento que catapultou os EUA e União Soviética em uma guerra espacial, foi um foguete alemão. Os V-2s roubados do território alemão foram muito úteis, dado que pavimentaram o caminho para o empreendimento de ambiciosos programas que envolviam o lançamento de foguetes americanos, como o foguete RedStone até chegar nas missões Apollo e Saturno. O foguete Saturno foi idealizado por Werner von Braun que após se entregar depois da queda de Hitler, passou a trabalhar para os americanos, na NASA (National Aeronautics and Space Administration).

Referencias:

We Were Pirates, Too

https://democracyjournal.org/magazine/52/technology-from-copycats-to-innovators/

https://www.press.jhu.edu/news/blog/taking-nazi-technology

https://www.pri.org/stories/2014-02-18/us-complains-other-nations-are-stealing-us-technology-america-has-history

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