Caça KF-21 da Coreia do Sul: Lição de Soberania

*escrito por Uallace Moreira

O lançamento do KF-21 Boramae, primeiro caça a jato coreano, é mais uma lição de como a Coreia constrói sua soberania, com políticas de inovação e industrial, buscando internalizar e nacionalizar sua estrutura produtiva. O desenvolvimento aeroespacial e militar e soberania tem sido um dos setores mais estratégicos do país no período recente. Ainda em 2001, em uma cerimônia na Korea Air Force Academy, o presidente Kim Dae-jung (1998-2003), fez uma promessa aos cadetes presentes: “Vamos permitir que vocês cadetes pilotem jatos de combate desenvolvidos pela Coreia”. É uma obsessão dos coreanos, produção nacional para garantir a soberania e reduzir a dependência de outros países. O Presidente Kim sinalizou com o início do projeto KF-X, o maior programa de desenvolvimento de defesa nacional do país no valor de 8,8 trilhões de won (US$ 7,8 bilhões).

Esta promessa de 20 anos finalmente se concretizou com o KF-21 Boramae, o 1º protótipo do projeto KF-X. De acordo com Ryu Kwang-su, chefe da divisão do programa de aeronaves, na época, ele ouviu a seguinte afirmação: “Quando um diretor de programa da Lockheed Martin olhou pela primeira vez a linha do tempo do projeto KF-X, o oficial disse que o projeto precisaria de um milagre para ter sucesso”.A Lockheed Martin Corporation é uma empresa fabricante de produtos aeroespaciais criada em 1995, resultante da fusão da Lockheed Corporation e da Martin Marietta. A Lockheed Martin levou quase 20 anos e pelo menos US$ 59,2 bilhões para desenvolver os caças F-35.

De acordo com Ryu Kwang-su: “Um gerente da Lockheed Martin olhou para nós e disse que a KAI precisaria do dobro de funcionários para desenvolver o projeto KF-X. Mas dissemos que podemos (Coreia do Sul) fazer isso e fizemos”.Na história de desenvolvimento econômico da Coreia, os EUA sempre disseram a Coreia que não poderia fazer os Planos Quinquenais. Que não poderia desenvolver indústrias estratégicas, tais como indústria automobilística, a indústria de aço; a indústria de eletroeletrônico. Em sua biografia, o presidente Park disse o seguinte:“Os especialistas só tentam me desencorajar identificando riscos e obstáculos. Se eu tivesse ouvido seus conselhos, não teria feito nada”. A Coreia construiu a Hyundai, Samsung e a Posco.

Agora, mais uma vez, a Coreia supera as expectativas em nome da sua soberania. A KAI, que embarcou no projeto em janeiro de 2016, conseguiu criar um protótipo em cinco anos com um orçamento inferior a um sexto do valor. No evento, o presidente Moon-jae, prestou homenagem aos técnicos da KAI, a única fabricante de aeronaves do país que liderou o projeto KF-X desde 2016. O Presidente exaltou o papel dos técnicos e pesquisadores sul coreanos responsáveis pelo desenvolvimento do jato.O Jato é uma verdadeira lição de internalização de tecnologia, através de elevado investimento em pesquisa e desenvolvimento para promover inovação. Desde a concepção à produção, os técnicos coreanos conduziram todas as fases de desenvolvimento do KF-21. A Coreia internalizou equipamentos essenciais essenciais para um caça de 4.5 geração, como o radar AESA.

A proporção de internalização do KF-21 Boramae é de 65%.O processo de internalização da tecnologia para a fabricação do Jato KF-21 Boramae garante soberania nacional e tem vantagens técnicas. Por exemplo, os principais caças KF-16 e F-15K da Força Aérea são todos fabricados nos EUA. Além desses modelos serem fornecidos pelos EUA, o fornecimento de peças era instável e causava problemas nas operações. Nos últimos 5 anos, houve 535 e 548 casos em que a Força Aérea não conseguiu desenvolver os caças F-15K e KF-16, respectivamente, devido à falta de peças. Outra vantagem importante é a liberdade de escolha da arma. Para carregar mísseis fabricados na Coréia em F-15Ks, por exemplo, a Força Aérea tem que pagar dezenas de milhões de dólares aos Estados Unidos em nome da “integração do sistema de armas”. Nesse processo, a Força Aérea deve divulgar os códigos-fonte desses mísseis. A Força Aérea pagou 80 bilhões de won para montar mísseis Taurus sueco-alemães no F-15K.Graças à plataforma independente do KF-21, a Força Aérea agora pode carregar mísseis de fabricação coreana sem ter que se preocupar com taxas extras de instalação. O caça nacional tem um total de 10 estações de armas, com três em cada asa e quatro sob a fuselagem.

A Coreia também vem investindo pesado na indústria aeroespacial. No dia 25 de março de 2021, a Coreia anunciou o lançamento de seu primeiro foguete próprio, com planejamento de pouso na Lua em 2030. O investimento no setor aeroespacial também é essencial para o fortalecer do setor de telecomunicação do país, particularmente considerando os avanços em 6G. Os governos da Coreia, China e Japão estão estimulando e realizando substanciais investimentos para o fortalecimento do complexo industrial militar e espacial. Isso faz parte da política industrial desses países.

Fonte: 

http://www.koreaherald.com/view.php?ud=20210409000706

https://www.paulogala.com.br/coreia-do-sul-uma-historia-de-soberania-nacional/

https://www.paulogala.com.br/governos-da-china-coreia-e-japao-fomentam-o-complexo-industrial-militar-para-competir-na-guerra-tecnologica-mundial/

2 thoughts on “Caça KF-21 da Coreia do Sul: Lição de Soberania”

  1. Existe aquele ditado que diz algo parecido com: “Ninguém falou pra ele que era impossível, daí ele foi lá e fez”. No caso presente, ignorou-se o desestímulo (estratégico) alheio. A diferença da Coréia para o brasil? Lá não teve preguiça, e deve ter tido pouca corrupção. Civilização milenar com objetivo força de vontade e integridade. É o que me parece. Enquanto aqui, com recursos espaço e etc, temos esta infestação de ratos que toma conta do poder e da “justiça”. Povo se revolta quando o timão perde, mas não está nem aí quando não se tem educação decente.

  2. Desenvolvimento tecnológico. .. parabéns Coreia … enquanto o Brasil deve-se ainda levantar à espada é dizer pela segunda vez: Independência ou Morte !!!

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