Vale a pena ler o livro BoomBustology de Vikram Mansharamani, professor de Yale e practitioner do mercado acionário. Mais um livro que trata de bolhas é verdade. Não chega nem perto do clássico Crashes, Manias and Panics do Kindleberger, mas ainda assim vale a pena ler. A analise da possível bolha chinesa é interessante. E os updates das mudanças recentes na teoria econômica. O livro se baseia num curso popular que o autor leciona em Yale que procura identificar bolhas. Aliás o subtítulo do livro é “spotting financial bubbles before they burst”, essa a arte da boombustologia.
A abordagem parte de cinco perspectivas atuais e inspiradoras para tentar detectar as bolhas e o mistério por trás de seu funcionamento. São elas: microeconomia, macroeconomia, psicologia, política e biologia. Na microeconomia o autor defende o uso da teoria da reflexividade de George Soros (perception affects reality as much as reality affects perception). Nesse registro o mercado financeiro está longe de ser eficiente. Funciona muito mais com dinâmicas de expectativas eufóricas ou depressivas. Os preços de mercado estão mais para uma ilusão do que para um retrato adequado dos fundamentos. Oscilam na verdade entre movimentos de auto-correção em direção aos fundamentos e profecias auto-realizáveis baseadas em expectativas. “Most of the time, efficiency logic works and deviations from equilibria tend to self-correct. However, there are instances in which reflexive dynamics are able to overcome the self-correcting force and creative self-fulfilling extremes” (pg. 22).
A macroeconomia defendida pelo autor é basicamente a minskyana. Estabilidade cria instabilidade. Em momentos de calmaria os agentes econômicos se alavancam e tomam risco, trazendo instabilidade ao sistema. Ao longo do tempo estruturas de financiamento do tipo hedge vão se tornando especulativas e depois Ponzi. Depois de um longo ciclo de estabilidade a alavancagem do sistema se torna insuportável. O crédito explode, o preço dos ativos dispara e todos se endividam. Eventualmente essa dinâmica chega ao fim e o sistema entra numa espiral de deflação e tentativa de redução de débitos. O preço dos ativos desaba, a economia entra em recessão, o desemprego aumenta, etc, etc… Da psicologia o autor toma emprestado vários conceitos para derrubar a idéia de forte racionalidade dos agentes econômicos.
Faz uma boa leitura da contribuição do Kahneman (Premio Nobel de Economia) que não deixa pedra sobre pedra na teoria de racionalidade da microeconomia tradicional. Da perspectiva de ciência política traz uma analise curiosa das distorções causadas pelo governo na economia, seguindo uma inspiração da literatura de direitos de propriedade. Bom. E por fim empresta da biologia o ferramental de análise das epidemias para aplicar ao estudo da economia e das bolhas. Fica um poupurri interessante de teorias. Ajuda sim a entender o mundo econômico. Depois vem os estudos de caso. As grandes bolhas observadas na historia, vistas a partir destas lentes. Bolha das tulipas na Holanda, crise de 1929 e a grande depressão, a bolha japonesa, a crise asiática e por fim a bolha imobiliária americana que resultou na gigantesca crise de 2008. São análises rápidas e concisas. Para que não quer ler os clássicos sobre o assunto como o The Great Crash, The Devil take the hindmost vale a pena.