A taxa de cambio tem dupla natureza: de um lado o preço relativo entre bens tradables e non-tradebles e de outro o preço de um ativo financeiro. A dinâmica de determinação da taxa de câmbio é fundamentalmente financeira, especialmente num contexto de abertura da conta capital. Do ponto de vista da relação de preços tradables e non-tradables o país vem entrando numa situação problemática na medida em que a apreciação do câmbio real dificulta cada vez mais a inserção da produção doméstica na economia mundial. Os preços brasileiros quando convertidos para dólares alcançam níveis surpreendentes, eliminando a competitividade de nossas indústrias, inclusive das mais eficientes. Como preço relativo entre tradables e non-tradebles, o câmbio afeta fortemente a dinâmica tecnológica do país, na medida em que impacta decisões de investimento, produção e inovações. O nível do câmbio real tem um papel fundamental na dinâmica macroeconômica a partir de uma perspectiva de longo prazo. Ao influir na determinação da especialização setorial da economia, notadamente no que diz respeito a estímulos à indústria, o impacto do nível do câmbio na dinâmica de produtividade é elevado. Sobrevalorizações cambiais são especialmente nocivas para processos de desenvolvimento econômico, pois reduzem substancialmente a lucratividade da produção e investimento nos setores de bens comercializáveis manufatureiros. Ao realocar recursos para os setores não manufatureiros, especialmente para a produção de commodities (com retornos decrescentes de escala), e para setores não comercializáveis, as sobrevalorizações cambiais acabam por afetar toda a dinâmica tecnológica da economia. Subvalorizações, por outro lado, estimulam a produção e investimento nos setores manufatureiros onde retornos crescentes de escala são possíveis. (paper P. Krugman sobre o tema: krugman1987)
Ao definir a rentabilidade da produção de manufaturas através da relação de preços tradabels-non tradebels, o câmbio real acaba por definir a viabilidade de setores econômicos importantes para o aumento da produtividade geral da economia. Sobrevalorizações podem impedir a transferência de mão de obra dos setores de baixa produtividade para os de alta produtividade já que o preço dos bens não comercializáveis fica artificialmente elevado. Um dos canais importantes de progresso técnico e aumento de produtividade fica assim bloqueado, impedindo a economia de transitar da situação de imaturidade para a maturidade nos termos kaldorianos. Uma moeda competitiva, por outro lado, pode ser um estímulo adequado para a integração de trabalhadores em atividades de alta produtividade e retornos crescentes. Para concluir vale destacar os impactos da volatilidade cambial no desempenho da economia. Num ambiente de conta capital aberta a determinação da taxa de câmbio é financeira e depende da tradicional dinâmica minskyana de “boom” e “bust”. O preço relativo tradables-non tradables passa a ser determinado no mercado financeiro com dinâmicas bastante complexas. Ou seja, a rentabilidade da produção manufatureira, que é fundamental para o desenvolvimento econômico de longo prazo, passa a depender dos humores do mercado financeiro. ver meu paper sobre o tema, Construindo complexidade e paper que formaliza a discussao
Cálculos feitos por Emerson Marçal no CEMAP http://cemap.fgv.br/sites/cemap.fgv.br/files/u4/Nota-Cemap-05.pdf, http://cemap.fgv.br/, a diferença entre as duas linhas calcula o desvio do câmbio em relação a sua posição correta.
As correlações são de forma alguma evidentes. No momento de grande valorização do cambio entre 2003 e 2010 as exportações industriais brasileiras cresceram a taxas razoáveis e no período em que a taxa se desvaloriza, as exportações cresceram a taxas muito mais baixas, elas parecem ter sido muito mais sensíveis ao ritmo de variação da demanda externa do que da variação da taxa de cambio
A deval de 2002 da forte impulso às exportações indústrias que começam a perder força perto de 2008. A sobrevalorização cambial que começa a se formar a partir de 2005/2006 cobra seu preço já a partir de 2009. O déficit da balança manufatureira se amplia bem a partir de 2007/2008. De forma resumida o câmbio real sai de uma posição subvalorizada entre 2002-2005 para uma posição sobrevalorizado entre 2006 e 2014
Paulo, o câmbio subvalorizado ñ atrapalharia a modernização da indústria, uma vez que deixaria a importação de maquinário e tecnologia mais cara?
pelo contrario! aumenta o lucro da indústria! que dai compra maquinas
mas esse lucro n seria “corroído” por termos uma moeda fraca?
minha dúvida seria: é melhor vender muito tendo um moeda fraca ou vender menos tendo uma moeda forte?
vender muito tendo uma moeda fraca! isso promove a evolucao tecnologica das industrias, veja China: https://www.paulogala.com.br/politica-cambial-na-china/
Isso n iria privilegiar o setor exportador, q hj no Brasil é, predominantemente, composto pelo setor agrícola e extrativista?
Por outro lado, pequenos e médios empresários e empreendedores n seriam prejudicados c um dólar caro?
E, como sou leitor assíduo dos seus textos, sei q uma economia de baixa complexidade, baseada em commodities, dificilmente se desenvolve plenamente. Então, esse cenário de câmbio desvalorizado ñ seria empecilho para o desenvolvimento de uma indústria de alta complexidade? (falando somente do caso Brasil)
caro, pelo contrario! a unica maneira de estimular exportacao de manufatruas e’ cambio competitivo!
Desculpe insistir no assunto, mas o que me aflige é: cambio desvalorizado p o BRASIL EXPORTAR O QUE?????? vamos estimular exportação de soja, carne e minério de ferro???
A China exporta smartphones e componentes eletrônicos, por exemplo. P ela faz sentido ter moeda fraca p favorecer o setor exportador.
Mas o nosso parque industrial está atrasado e sucateado e n produzimos produtos manufaturados de alta complexidade capazes de competir no mercado internacional. Como superar esse empecilho?
so uma combinacao de politica industrial inteligente + cambio competitivo
sim, só uma combinação, mas mudar um enquanto não muda o outro, pode trazer efeitos contrários para o país. Causando até uma inflação msm com desemprego…
Boa tarde Paulo, também sou leitor de carteirinha seu. E tenho uma questão sobre esse artigo.
Você mesmo diz que é pragmático. E nos ensina sobre a complexidade da economia, como vários fatores interferem na mesma, e não um só, e portanto nem sem sempre uma coisa tem efeito desejado quando outras estão em desacordo.
No caso das manufaturas, diz que necessitamos de uma combinação de cambio competitivo + política industrial. Portanto, só cambio competitivo pode não funcionar, fora vários outros fatores como ciclos econômicos, etc.
Sendo assim, uma moeda subvalorizada, poderia não causa efeito significativo em influenciar as manufaturas? Ainda mais em um país atrasado tecnologicamente, que não consegue superar monopólios tecnológicos, então apenas a subvalorização da mesma não seja suficiente para isso?
E a subvalorização da moeda, incentiva a exportação em geral, não só de manufaturas, mas também de commodities. Consequentemente a desvalorização pode atingir um benefício maior as commodities que as manufaturas, ocasionando em um foco contrário ao desejado?
Isso tudo no caso de um país subdesenvolvido é claro. Me parece que no caso de um país desenvolvido, já bem industrializado, o artigo parece fazer mais sentido, sua desvalorização com toda certeza terá muito mais impacto em exportações de manufaturas, todo mundo vai correr comprar smarthphones e notebooks se estes ficarem mais baratos.
Porém, como tudo, existem outros fatores, outros pós e contras, e um país desenvolvido e industrializado, que muitas vezes possui monopólios tecnológicos, sua venda é garantida pelo monopólio, logo um preço maior garante mais lucro. E a valorização do câmbio pode garantir um lucro maior, mas óbvio que necessita dum valor ideal, onde proporciona melhor relação lucro x quantidade de vendas.
Parece lógico que a taxa de câmbio tem impacto diferente em cada país, devido seus outros fatores distintos. E a afirmação de que a taxa de câmbio incentiva as manufaturas parece bem correta, porém, acredito que ela possa ter efeitos contrários, em caso específicos, principalmente de países subdesenvolvidos, levando em conta outros fatores que podem ter peso tão significantes quanto. Ainda mais no mundo tecnológico de hoje, onde as industrias não dependem tão mais de mão de obra, e muito mais de máquinas sofisticadas, e monopólios tecnológicos para se manter.
Ficaria muito grato se pudesse comentar o que pensa sobre isso.
exato, acontece isso mesmo. thanks!
Pra mim desvalorizar o cambio agora é como pegar um time que nao faz gol e por atacantes também na zaga. Se contentar com os gols que começa a fazer, mas nao ver que o indice de vitórias está pior.
eu assisti essa palestra, eu que fiz essa pergunta e contínuo indignado (no bom sentido de ter sede de conhecimento e de soluções práticas, de ser convencido, se de fato isso for bom) com a resposta pouco objetiva dos professores que admiro. Mas eu creio que como humanos, vocês não acertam sempre, muito menos eu que mais provável que esteja errando do q vcs nessa, mas nao consigo d vdd no meio de uma equação complexa e incalculavel de tantas variáveis, intuir que desvalorizar o cambio nas nossas atuais condições, sem politicas protetivas, etc. é bom.
Veja a inflacao q o cambio está causando msm em condicoes d desemprego.