Catch-up tecnológico e superação da Armadilha da Renda Média: o caso da China no setor de semicondutores

*escrito por Uallace Moreira, professar da UFBA e professor visitante na Universidade de Seoul, Korea

Muitos ficaram surpresos quando anunciaram que a China começou a produzir chips de 7nm. Neste texto, de minha autoria, publicado pelo IPEA, como resultado de um trabalho de consultor da Comissão de Estudos Econômicos para América Latina (CEPAL), mostro como a China construiu seu caminho para avançar em semicondutores e o catch-up tecnológico. Segue um breve resumo do Texto para Discussão, disponibilizado no final do texto. A metodologia e o arcabouço teórico schumpeteriano do ciclo de vida da tecnologia (Keun Lee) e o Sistema Setorial de Inovação (Franco Malerba),   permitem mostrar que a dinâmica de catch-up pode ser explicada em função da facilidade ou dificuldade associada à natureza particular dos regimes de tecnologias e mercado e, em seguida, analisando como os atores, tais como empresas e governos, respondem ao regime de tecnologias e mercado em relação à exploração das potencialidades ou superação dos limites impostos pelos regimes ao processo de catch-up e superação da armadilha da renda média, considerando especificamente o caso da China. Um dos indicadores apresentados na pesquisa sobre a evolução do Sistema Nacional de Inovação na Chia é a relação do investimento em P&D como proporção do PIB. A China elevou o investimento em P&D como proporção do PIB de 0,56% em 1996 para 2,19% em 2018. Com isso, ultrapassou o percentual dos países de renda média (1,57% em 2018), mas ainda está um pouco abaixo da média dos países ricos (2,59% em 2018). Dada a velocidade do processo de inovação na China, dos ambiciosos planos de investimentos em inovação – Made In China 2025 e o 14º Plano Quinquenal – é bem possível que a China ultrapasse o percentual médio dos países ricos em investimento em P&D, aproximando-se dos percentuais dos países da OCDE e da União Europeia, como também de outros países líderes como Alemanha (3,09%, em 2018) e Coreia do Sul (4,81%, em 2018).

Analisando mais especificamente o setor de semicondutores, no período recente, o crescimento da participação da China no mercado de semicondutores ainda se concentra em elos da cadeia produtiva de semicondutores do back-end, como encapsulamento, montagens e testes.  Mas o objetivo da China é entrar no Front End,elo superior da cadeia de semicondutores. Entre vários indicadores analisados na pesquisa, um dos que chamam mais a atenção é a liderança disparada da China no mercado consumidor de semicondutores. O mercado de consumo de semicondutores da China cresceu para atingir um novo recorde de 58,5% de participação no mercado global. Isso é amplamente usado pela China em suas políticas como variável estratégica de imposição de condicionalidades na formação de joint ventures entre empresas nacionais e empresas estrangeiras. Como resultado do crescimento da produção, as receitas da indústria de semicondutores também vêm apresentando crescimento considerável, saindo de US$ 5 bilhões em 2000 para US$ 89,3 bilhões em 2015. Ao analisarmos os principais fabricantes na China, observem que entre as dez primeiras empresas de semicondutores operando no país, quatro empresas são chinesas: HiSilicon Technologies Co., Ltd., SMIC, Unisplendor (Spreadtrum Communications Inc.) e Xincha  Grup. Essas quatro empresas chinesas que constam no top 10 correspondem a 22,7% das receitas  das cinquenta maiores fabricantes de semicondutores na China, e as seis empresas estrangeiras respondem por 45%. O crescimento da SMIC é um exemplo da aliança entre Estado, empresas nacionais e institutos de pesquisa – ou seja, o resultado do fortalecimento do Sistema Nacional de Inovação da China para lograr maiores avanços no setor de semicondutores. Aliás, importante lembrar que é justamente a SMIC a empresa chinesa que anunciou a produção de chips de 7nm.

 

Fonte:

MOREIRA, Uallace. Catch-up Tecnológico e Superação da Armadilha da Renda Média: O Caso da China no Setor de Semicondutores, Texto para Discussão 2789, IPEA, 2022.  Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=39482&Itemid=466

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