Em seu maravilhoso livro sobre Os Ensaios de John Cary, Sophus Reinert trata do elo perdido na historia do pensamento economico que acabou colocando a teoria econômica num beco sem saída para explicar o desenvolvimento econômico. O desserviço maior foi feito por D.Ricardo com a “estapafúrdia” hipótese de que “o que se produz não importa”. Como se produzir bananas e computadores fosse a mesma coisa! Sophus da uma contribuição inestimável para a reconstrução da historia do pensamento econômico de uma maneira menos viesada. Em seu livro “Translating Empire” mostra a importância da manufatura para o progresso econômico na visão de economistas ingleses, franceses, alemães e italianos da época. A causa do declínio das cidades italianas, especialmente Veneza, estaria na perda de capacidade manufatureira para as cidades dos países baixos e depois Inglaterra. Antônio Serra tinha já identificado essas diferenças entre Nápoles e Veneza no início dos 1600. Tudo isso e muito mais no imperdível livro de Sophus Reinert, filho do grande economista norueguês Erik Reinert! No século XVII, houve um declínio das cidades italianas e um fortalecimento das manufaturas na Holanda e na Inglaterra. Vários fatores contribuíram para esse declínio e ascensão, impulsionando o desenvolvimento industrial nos países do norte da Europa. Abaixo estão algumas causas e exemplos específicos desse processo:
- Instabilidade política e guerras: A Itália enfrentou um período de instabilidade política durante os séculos XVI e XVII, com conflitos e disputas entre diferentes estados e potências estrangeiras. Essas guerras frequentes prejudicaram a estabilidade econômica e enfraqueceram as cidades italianas, que já haviam sido centros econômicos importantes durante o Renascimento.
- Mudanças nas rotas comerciais: Com a descoberta de novas rotas marítimas e o surgimento de potências coloniais, como a Espanha e Portugal, o comércio internacional passou por mudanças significativas. As rotas comerciais se deslocaram para o Atlântico e para o norte da Europa, diminuindo a importância das cidades italianas como intermediárias comerciais.
- Políticas protecionistas: Holanda e Inglaterra adotaram políticas protecionistas que incentivaram o desenvolvimento de suas manufaturas. Altas tarifas de importação foram impostas aos produtos estrangeiros, protegendo as indústrias locais e estimulando o crescimento da produção doméstica. Essas medidas contribuíram para a ascensão das manufaturas nesses países.
- Revolução comercial e marítima: A Holanda e a Inglaterra foram pioneiras na Revolução Comercial e Marítima, expandindo seus impérios coloniais e dominando o comércio internacional. A Companhia das Índias Orientais Holandesas e a Companhia das Índias Orientais Inglesas foram exemplos de organizações que controlavam o comércio com o Oriente e garantiam o monopólio das rotas comerciais lucrativas.
- Inovações tecnológicas: Holanda e Inglaterra investiram em inovações tecnológicas que impulsionaram o desenvolvimento das manufaturas. A Revolução Industrial teve início nessas regiões, com avanços na indústria têxtil, metalúrgica e naval. A introdução de máquinas a vapor, como a máquina a vapor de Thomas Newcomen e, posteriormente, a máquina a vapor de James Watt, transformou a produção e aumentou a eficiência das indústrias.
Um exemplo específico do declínio das manufaturas italianas é a indústria têxtil. Anteriormente, a Itália era conhecida por sua produção de seda e outros tecidos de luxo. No entanto, com a concorrência das manufaturas holandesas e inglesas, que eram capazes de produzir em maior escala e a preços mais baixos, as manufaturas italianas perderam espaço no mercado internacional. Em suma, o declínio das cidades italianas no século XVII e a ascensão da Holanda e da Inglaterra foram influenciados por fatores como instabilidade política, mudanças nas rotas comerciais, políticas protecionistas e inovações tecnológicas. Esses eventos contribuíram para o fortalecimento das manufaturas nos países do norte da Europa, enquanto as manufaturas italianas perderam espaço no mercado internacional.
Livro aqui:
Antonio Serra explica a riqueza de Veneza e pobreza de Nápoles nos 1600
*nas palavras de Sophus Reinert em seu magnifico livro Translating Empires, sobre a tradicao de eocnomistas italianos:
O que aconteceu na velha Itália se repete hoje em cidades e países. É o caso de Detroit por exemplo. No Brasil o polo têxtil de Americana SP perdeu sua vitalidade. O passado precisa ser observado pelos estadistas evitarem o declino.
Exatamente!