Em 2022 o Brasil foi o maior exportador mundial de soja, açúcar, carne bovina congelada e carne de aves. O Brasil já está no time de países com maiores reservas de petróleo do mundo graças à descoberta do pré-sal. Já estamos entre as maiores produções de petróleo do planeta com quase 4% da oferta mundial. Nosso setor de mineração segue também robusto. Os grandes projetos da Vale se concretizaram com uma das maiores capacidades produtivas do mundo. Nosso volume de exportação é enorme, além do boom de preços do mineiro de ferro, níquel, litium, e cobre. Para os investidores estrangeiros, o Brasil se consolida como o paraíso das commodities. A moeda brasileira readquiriu seu status de “commodity-currency”: moedas que se apreciam muito em booms de commodities. No setor agro a situação também é exuberante. Só para China exportamos mais de US$ 3 bilhões em carnes em 2022. O setor agro brasileiro teve um superávit de U$105 bilhões em 2021, compensando nosso déficit de bens tecnológicos e industriais. Em 2021 o saldo negativo do setor industrial chegou a US$ 53 bilhões, o pior resultado desde 2015, mesmo num ano em que o superávit total da balança fechou em nível recorde. O boom de preços de commodities decorrente da pandemia e do conflito com a Ucrânia acabou favorecendo o Brasil com alta de preços de bens agrícolas e energéticos. A alta de preços de commodities sempre nos favoreceu no passado, inclusive quando viramos grau de investimento em 2008. No cenário atual não teremos falta de dólares e investidores estrangeiros seguirão comprando Brasil. Nosso grande desafio continua sendo, entretanto, gerar empregos de qualidade para 90 milhões de pessoas. Sem a recuperação de nossa indústria não conseguiremos tamanha façanha. O atual boom de commodities resolve nosso problema de divisas e ajuda no controle da inflação ao contribuir para a apreciação da moeda brasileira; fica faltando ainda a essencial retomada de nosso desenvolvimento industrial e tecnológico.
A situação brasileira de contas externas hoje é muito melhor do que nas crises dos anos 1970, 1980 e 1990. Temos reservas internacionais robustas e nossa dívida externa pública é muito baixa. O déficit externo em conta corrente de 2021 fechou próximo de 1,75% do PIB, abaixo do volume que entrou de investimento direto externo. O superávit da balança comercial do último ano foi de US$ 61 bilhões, muito beneficiado pela explosão do preço de commodities que continua em 2022. Temos hoje U$320 bilhões de reservas cambiais. A grande acumulação de reservas entre 2004 a 2013 acabou aumentando a potência de intervenção do BC no mercado de câmbio via swaps ou leilões reversos para domar a trajetória do real. Essa posição robusta de reservas e a utilização de um regime de câmbio flutuante administrado provou-se muito mais eficiente para nos proteger de crises. Hoje nossa taxa de câmbio ainda está na posição mais desvalorizada dos últimos 20 anos quando levamos em consideração o que aconteceu com as outras moedas e com a inflação no Brasil e no mundo; aquilo que os economistas chamam de “câmbio real efetivo”. Pelo padrão histórico, a tendência é que a moeda brasileira ganhe valor ao longo dos próximos anos. O Brasil está bem melhor do que países emergentes frágeis. Nos últimos 20 anos os governos brasileiros trocaram o passivo externo público de dólares para reais; trocaram a dívida externa por dívida interna. O custo da dívida interna hoje subiu muito e deve passar dos 10% ao ano, mas ainda assim será sempre financiada em reais e não em dólares. O problema de ter muita dívida externa pública é que sem reservas e com fuga de capitais o dólar dispara e leva junto a inflação.
O grande risco de déficits em conta corrente está na necessidade de financiamento externo para fechar a conta de dólares. Se nosso comércio externo não é capaz de gerar dólares para pagar as contas de rendas, sobra para a conta capital fazer o financiamento do balanço de pagamentos. Ou seja, passamos a depender de fluxos de capitais estrangeiros que vem para Bolsa e para títulos brasileiros para ajudar a fechar esse gap externo. O problema dessa estratégia é que são dólares emprestados que vêm e vão, são dólares voláteis. A atração de capitais aumenta nosso passivo externo e passamos a dever mais para os estrangeiros. Enquanto estão otimistas, há financiamento farto. Mas, no caso de uma reversão de humor, o estrago é grande. A boa notícia é que hoje, apesar de termos mais de 100 bilhões de dólares de swaps, estamos ainda com uma posição externa bastante sólida e o boom mundial de commodities nos ajuda muito.
Ideais chave:
1)Em 2022 o Brasil foi o maior exportador mundial de soja, açúcar, carne bovina congelada e carne de aves.
2)O Brasil já está no time de países com maiores reservas de petróleo do mundo graças à descoberta do pré-sal.
3)O boom de preços de commodities decorrente da pandemia e do conflito com a Ucrânia acabou favorecendo o Brasil com alta de preços de bens agrícolas e energéticos.
4)Pelo padrão histórico, a tendência é que a moeda brasileira ganhe valor ao longo dos próximos anos. O Brasil está bem melhor do que países emergentes frágeis.
5)A boa notícia é que hoje estamos ainda com uma posição externa bastante sólida e o boom mundial de commodities nos ajuda muito.