No livro “How China Escaped Shock Therapy: The Market Reform Debate,” Isabella M. Weber fornece uma análise envolvente e abrangente da transformação econômica da China, lançando luz sobre a abordagem gradual do país em relação às reformas orientadas para o mercado. Esta obra é leitura essencial para quem busca um profundo entendimento do desenvolvimento econômico da China e dos debates complexos que moldaram sua trajetória de reforma. O livro começa examinando o contexto histórico em que as reformas econômicas da China ocorreram. Ele traça as origens do debate entre a terapia de choque, uma transição rápida e radical para uma economia baseada no mercado, e o gradualismo, uma abordagem mais cautelosa e pragmática. Ao aprofundar as bases ideológicas dessas duas abordagens, a autora oferece valiosos insights sobre as visões contrastantes que influenciaram o caminho de reforma da China. Trata-se de uma pesquisa empírica rigorosa, baseada em entrevistas com fontes chinesas internacionais e fontes primárias.
Weber mostra como o pensamento neoliberal penetrou na China na década de 1980 e, em dois momentos, quase venceu a luta política dentro do Partido Comunista por reformas do tipo “big bang”. Essa visão defendia a rápida liberalização de preços, causando dor de curto prazo para evitar dor de longo prazo, e exigia um forte ajuste fiscal e aperto monetário para evitar uma espiral inflacionária. Esse grupo era composto por economistas inspirados em teorias neoclássicas, muitos dos quais basearam seus argumentos no sucesso de Milton Friedman e em modelos matemáticos em busca de preços de equilíbrio. Até mesmo Deng Xiaoping, o principal líder na época, teria se tornado defensor da terapia de choque durante uma breve fase em 1988. Isso levou a uma inflação elevada, e as políticas de liberalização foram rapidamente revertidas, mas o embrião para a convulsão social que eclodiu em 1989 estava lançado. Do outro lado do conflito político, havia um grupo de burocratas defendendo o que a autora chama de “gradualismo experimental”. Em vez de um modelo teoricamente derivado, o novo sistema deveria ser induzido por meio de experimentação e pesquisa empírica. Essa é a essência do pragmatismo chinês: no caso da reforma, apenas partes não essenciais da economia poderiam ser liberalizadas, enquanto o Estado mantinha o controle sobre tudo que fosse considerado essencial. Em resumo, esse grupo argumentava que o excesso de demanda agregada não deveria ser resolvido por meio de supressão (austeridade fiscal e aperto monetário), mas por meio de um aumento significativo da oferta. A escassez deveria ser gerenciada em nível setorial, com o Estado mantendo o controle sobre energia e commodities essenciais. O foco seria na rápida industrialização do país.
Qual era a base intelectual desse grupo? De acordo com Weber, a resposta está na história e no método. A autora mostra como os debates sobre temas básicos de economia política fazem parte da civilização chinesa há 2.000 anos. Ela revisa textos antigos, como o “Guanzi”, e argumenta que a responsabilidade do Estado em disciplinar mercados e estabilizar os preços dos grãos para evitar convulsão social tem sido uma preocupação constante nos tempos imperiais. Do ponto de vista metodológico, em todos esses textos, ela encontra a necessidade de estudar as relações econômicas de maneira concreta e adaptar as políticas públicas de forma experimental. O pragmatismo, afinal, é congruente com uma longa linha de pensamento tradicional. A autora enfatiza que não está buscando uma explicação sinocêntrica baseada exclusivamente na experiência civilizacional. Burocratas dos anos 1980 também examinaram diversos outros casos, incluindo Brasil e América Latina. Lições essenciais vieram dos Estados Unidos e das experiências de estabilização de preços nos países ocidentais no pós-Segunda Guerra Mundial. E da própria experiência bem-sucedida do Partido Comunista em controlar preços quando assumiu o poder em 1949. Weber entrega uma narrativa institucionalista sobre o sucesso do modelo econômico chinês que não cai no velho erro de ver o Estado como um monólito.
Um dos aspectos mais admiráveis do livro é a análise minuciosa dos fundamentos teóricos tanto da terapia de choque quanto do gradualismo. As autoras apresentam habilmente os argumentos e críticas de cada abordagem, fornecendo uma perspectiva matizada sobre as vantagens e desvantagens de cada estratégia. Essa análise detalhada ajuda os leitores a entender as complexidades e desafios enfrentados pelos formuladores de políticas da China ao navegarem por águas desconhecidas. Ao longo do livro, Weber e Wu fornecem uma avaliação equilibrada das experiências de reforma da China, reconhecendo tanto os sucessos quanto os fracassos. Elas destacam o papel crucial das instituições políticas e a interação entre política e economia na formação da trajetória de reforma da China. Ao explorar as complexidades das dinâmicas de poder e interesses envolvidos, as autoras pintam um quadro realista dos obstáculos enfrentados pela China durante sua transformação econômica. A inclusão de estudos de caso sobre iniciativas de reforma específicas enriquece ainda mais o valor do livro. Ao analisar setores-chave, como agricultura, empresas estatais e setor financeiro, as autoras oferecem insights detalhados sobre os desafios e resultados das reformas econômicas da China em diferentes áreas.
Pronto, taí, é simples assim. Bom, o que me chama atenção hj na China é um outro ponto com respeito aos avanços em vários setores, um deles o tecnológico. Avanços tecnológicos na China não seguem os mesmos ritos dos países ocidentais, principalmente dos EUA e da UE. Qdo. há, ou surge algo tecnicamente disruptivo, nos principais países ocidentais é comum primeiro ter se uma análise de qdo. esta nova “coisa” vai ao mercado e com isso galgar-se um degrau para cima naquilo que já havia sido disponibilizado anteriormente, exemplo: do 4G para o 5G, nos países ocidentais, primeiro aguardam que o 4G dê todo o retorno, e um pouco mais de lucro … para depois lançar o 5G. Na China não é assim. Na China, qq novo degrau tecnológico que dê pra subir, não há hesitação, e vamos que vamos … Assim seus avanços são muito mais rápidos e permitem um escalonamento “disruptivo” de concorrência com o resto do mundo, deixando todo mundo atônito com que o fazem e acontece.
Eu lendo este livro, mto bom .
Expectativa para leitura! João Neutzling de onde?! Clovis Florianópolis