O volume de crédito contratado nos EUA caiu em mais de U$100 bilhões nos últimos 15 dias de Março. Foi a maior queda desde a pandemia. Algo semelhante foi visto na crise de 2008. As altas de juros do FED têm direcionado recursos de depósitos a vista dos bancos para fundos de investimento de curto prazo. Os bancos não aumentam a remuneração pagas para depósitos para não perder lucratividade, mas acabam vendo seus recursos drenados por clientes para veículos mais rentáveis. Esse movimento tem dificultado novas captações para bancos pequenos e médios. Essa drenagem dos balanços implica em cortes de crédito para reduzir alavancagem em bancos que já tem apetite por risco reduzido depois da quebra do Sillicon Valley Bank. Os empréstimos imobiliários de bancos pequenos caíram em mais de U$30 bilhões nas últimas duas semanas, cifra somente observada nas quedas da crise de 2008. As altas de juros do BC americano começam a ter efeitos mais fortes e preocupantes na economia dos EUA.
O desemprego americano segue ainda na casa de 3,5%, mas a criação de vagas começa a dar sinais de desaceleração. A relação entre número de vagas disponíveis e pessoas desempregadas caiu de 2 para 1,6, mínima de algumas semanas. As taxas de juros para crédito high yield de menor qualidade já se aproximam de 10% ao ano. A curva de juros precifica cortes já no segundo semestre e os temores em relação a uma recessão aumentam a cada dia. O stress no mercado bancário americano terá como resultado provável uma interrupção no ciclo de alta de juros. A contração de crédito feita por bancos em dificuldade tem efeito similar a choques de juros promovidos por bancos centrais. Os bancos farão o que os BCS tentavam fazer com altas de juros: reduzir crédito. Os efeitos sobre a economia serão de atividade mais fraca que resultará em inflação menor.
No Brasil o volume de crédito na economia alcançou R$5,3 trilhões em fevereiro, com uma leve retração de 0,1% no mês em relação a janeiro. O estoque de crédito para empresas diminuiu 0,7% no mês, para R$2,1 trilhões, enquanto para pessoas físicas houve aumento mensal de 0,4%, somando R$3,2 trilhões. Na comparação interanual, considerando a mesma base de comparação, tanto a variação do crédito para as pessoas jurídicas quanto para as pessoas físicas desacelerou em fevereiro respectivamente para 5,9% e 17,4%. A forte alta da taxa SELIC para 13,75% ao ano encareceu muito o custo do crédito em geral no Brasil e tem desestimulado novas contratações de empréstimos. O comprometimento da renda das famílias com serviço da dívida já chega a máximas em meses e a inadimplência tem subido nas últimas semanas segundo dados do BC. Os choques de juros nos EUA, Brasil e resto do mundo tem feito o serviço de segurar o crédito, o preço dos imóveis e de ativos financeiros. Através desses diversos canais a política monetária conseguirá atingir seu objetivo de reduzir a inflação. Mas os efeitos colaterais já começam a aparecer de maneira mais contundente. A sintonia fina das taxas de juros agora é fundamenta para se evitar crises e custos econômicos desnecessários.
Ideias chave:
- O volume de crédito contratado nos EUA caiu em mais de U$100 bilhões nos últimos 15 dias de Março. Foi a maior queda desde a pandemia.
- As altas de juros do FED têm direcionado recursos de depósitos a vista dos bancos para fundos de investimento de curto prazo.
- Essa drenagem dos balanços implica em cortes de crédito para reduzir alavancagem em bancos que já tem apetite por risco reduzido depois da quebra do Sillicon Valley Bank.
- O desemprego americano segue ainda na casa de 3,5%, mas a criação de vagas começa a dar sinais de desaceleração.
- A curva de juros precifica cortes já no segundo semestre e os temores em relação a uma recessão nos EUA aumentam a cada dia.