*escrito com Fausto Oliveira
Não é de hoje que as tentativas do Brasil em constituir uma autonomia produtiva digna e promissora recebem o feroz ataque dos oligopólios internacionais. A história de Delmiro Gouveia é exemplar. Em 1914, o cearense Delmiro estabeleceu a fábrica de linhas para costura Companhia Agro Fabril Mercantil, dona da marca de linhas Estrela. O Brasil não fazia linha de costura, era tudo importado da Machine Cotton, da Inglaterra.
Para fazer sua fábrica de linhas em Pedra (AL), Delmiro teve antes que construir a primeira hidrelétrica do Brasil, a usina de Angiquinho, na cachoeira de Paulo Afonso. Com recursos públicos, ele construiu 520 km de estradas entre Pedra e outros locais. Já em 1916, a fábrica de Pedra produzia 500 mil carretéis por dia. A Machine Cotton, dona das linhas Corrente, tomou iniciativas de guerra comercial suja contra Delmiro. Por exemplo, registrou a marca Estrela nos países vizinhos ao Brasil, dificultando a exportação. Pressionou comerciantes a não vender Estrela, baixou seu preço a um nível impraticável (dumping) e exerceu força política via diplomacia. Por exemplo, impôs ao presidente Washington Luis a revogação de um decreto que tarifava a importação de linhas.
Delmiro foi assassinado em 10 de outubro de 1917. Sob tantos ataques, os herdeiros de Delmiro venderam a fábrica de Pedra à Machine Cotton, que simplesmente despejou o maquinário no rio São Francisco. Relato do deputado alagoano Afonso de Carvalho ao Congresso Nacional, em 15 de abril de 1948. “…parte destas máquinas, com estupefação de toda a população do São Francisco, foi atirada ao rio”.
Hoje quase ninguém mais sabe disso, mas na época o assassinato de Delmiro foi atribuído à Machine Cotton, que o teria mandado matar por jagunços.

Acredito que Angiquinho seja a primeira hidrelétrica do nordeste e não do Brasil. Em 1889 foi fundada a usina hidrelétrica de Marmelos Zero, em Juiz de Fora-MG.