Debate com MBL sobre Desenvolvimentistas e Liberais

Existem no país hoje, e desde sempre, duas grandes correntes de economistas com visões de mundo bem distintas acerca do desenvolvimento e crescimento. Para o grupo dos liberais, o desenvolvimento econômico tende a ser um processo natural e que depende basicamente de boas políticas internas, tais como: governo parcimonioso que não tribute demais, bom funcionamento da justiça, controle da inflação, educação pública universal de qualidade, bom acesso ao crédito, defesa da concorrência, etc… Se essas políticas forem perseguidas, o desenvolvimento será apenas uma questão de tempo. Para o grupo dos desenvolvimentistas, o processo de desenvolvimento econômico se dá num contexto de intenso conflito entre nações, especialmente no que diz respeito a domínio de técnicas produtivas e capacidade de inovação. As multinacionais dos países ricos defendem com unhas e dentes seus mercados e tecnologias de produção. Para economistas desenvolvimentistas, o padrão de especialização produtiva é chave para entender o processo de desenvolvimento econômico. Ser desenvolvido significa dominar tecnologias avançadas de produção e criar capacidades e competências locais. Produzir castanha de caju ou chips de computador, carros ou havaianas, bananas ou computadores faz diferença. Ou seja, o processo de desenvolvimento não é setor-neutro (depende da composição agricultura, serviços e indústria do PIB) e depende do tipo de produto que um país é capaz de produzir. A produtividade da economia deixa de ser algo que depende dos indivíduos e passa a ser algo sistêmico. Trabalhadores inseridos em setores tecnologicamente sofisticados serão produtivos devido às características intrínsecas do setor e não a dos trabalhadores. A empregada doméstica que é retreinada para trabalhar numa fábrica tem sua produtividade aumentada enormemente, por exemplo.

Como bem apontam os autores dessa vertente, o processo de desenvolvimento se dá num ambiente de competição e nações ricas lutam para preservar suas vantagens competitivas em relação aos países em desenvolvimento, tornando o processo muito mais desigual e assimétrico. Na conhecida expressão do economista alemão F. List, após atingirem um elevado estágio de desenvolvimento os países ricos “chutam a escada”, tentando impedir que países pobres percorram o mesmo percurso. Para a corrente desenvolvimentista, o papel do estado no desenvolvimento econômico é, portanto, fundamental – para bem ou para mal. Sobre o investimento em educação e qualificação profissional há também uma comparação interessante entre as duas visões de mundo. Para a visão inspirada em List, o que e como se produz é essencial para gerar o desenvolvimento econômico. A visão ortodoxa acredita que o desenvolvimento segue essencialmente de boas instituições, de um ambiente macroeconômico estável, o que implica, inclusive, formas não inflacionárias de se financiar o esforço do investimento. São essenciais para esta corrente as características intrínsecas do homem, em particular, o grau e a qualidade média da educação. Para a visão desenvolvimentista, as ocupações em si (tipos de vagas de trabalho) são mais importantes do que a qualificação. Se não houver postos de trabalho qualificados, não adianta qualificar a população.

1 thought on “Debate com MBL sobre Desenvolvimentistas e Liberais”

  1. Em essência, os liberais acreditam na quimera de que a soma dos interesses individuais acaba gerando o Bem Comum, algo que jamais ocorreu na história da humanidade e jamais ocorrerá. Para produzi-lo, ainda não se inventou nada superior a um projeto nacional de desenvolvimento capaz de motivar uma sinergia entre o Estado nacional e os setores relevantes da sociedade – empresários, trabalhadores, academia, mídia etc. O Brasil está a anos-luz de algo semelhante.

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