Os países ricos são ricos pois tem domínio tecnológico ou, como dizem os economistas, estão na fronteira tecnológica. Não existe outro caminho para se desenvolver, aumentar a renda per capita, enriquecer e reduzir as desigualdades que não seja avançar no domínio tecnológico. E não existe país que tenha chegado à fronteira tecnológica do mundo sem possuir um setor industrial forte. A produção industrial per capita das nações mais desenvolvidas é, no mínimo, de 5 mil dólares; em muitos casos, chega a 10 mil dólares por ano. Alemanha, Suécia, Coreia do Sul, Suíça, Estados Unidos, Finlândia e Dinamarca, por exemplo, têm indústrias super high tech e produção industrial per capita altíssima. Nesse sentido o Brasil precisa se reindustrializar e também desenvolver serviços complexos e sofisticados que caminham junto com o setor industrial. O problema é que esse processo tem de ser feito em um ambiente de mercados extremamente concentrados. É um mito a ideia de que vamos simplesmente promover uma abertura comercial e conquistar mercados. Estamos falando de um cenário em que as multinacionais têm 30%, 40% as vezes até 60% do comércio mundial de alguns produtos. Nosso desafio maior é enfrentar essa concentração, bater os players tradicionais e construir empresas do porte de uma Boeing, de uma Siemens, de uma Pfizer no Brasil. Precisamos reconhecer essa assimetria de competição em um mercado cada vez mais concentrado. Nosso objetivo deve ser o de encontrar vantagens comparativas que nos permitam bater as companhias que já dominam os grandes mercados mundiais. Precisamos de políticas públicas que turbinem nossas empresas, para que elas consigam galgar espaços tecnológicos. Precisamos de políticas que apoiem essas empresas mediante exigência de contrapartidas, como a conquista de mercados mundiais, metas de exportação e avanços em sofisticação tecnológica. Já temos algumas companhias nacionais com domínio tecnológico e alcance global, mas elas ainda são exceções à regra. É preciso mais, muito mais.
O Brasil tem agora a oportunidade da transição verde, da sustentabilidade. Já somos um dos maiores players mundiais em etanol e energias a partir de biomassa, e temos grande potencial para o hidrogênio verde. Além disso, 10% da energia nacional é gerada por parques eólicos localizados no Nordeste. Isso é mais do que é gerado em Itaipu. Energia fotovoltaica também já representa 10% de nossa matriz, além do nosso conhecido potencial hídrico. Essas oportunidades caíram no colo do Brasil, mas, para aproveitá-las, precisamos desenhar políticas públicas que fomentem o desenvolvimento do país nessa área. Não vamos fazer isso apenas porque queremos salvar o planeta, mas também porque é o caminho para retomarmos a industrialização em setores que ainda não estão tomados, nem desenvolvidos, nem dominados pelas gigantes multinacionais. De tempos em tempos o Brasil se beneficia de um boom mundial de commodities. Contudo, não estamos lidando satisfatoriamente com o desenvolvimento tecnológico industrial. Não temos políticas públicas desenhadas para aproveitar esse bom momento e reindustrializar o país. É o velho dilema brasileiro: quando temos uma bonança proporcionada pelas commodities, contamos com fluxo de dólares, reservas elevadas e crescimento nos setores extrativistas e do agronegócio. Quando o boom passa ressurgem os problemas sociais, a economia desacelera e o desemprego aumenta. Precisamos de políticas públicas que aproveitem o fluxo de divisas para investir na reindustrialização. Seria criar, por exemplo, uma indústria nacional de fertilizantes nitrogenados para dar segurança ao agronegócio. O conflito bélico na Ucrânia revelou o altíssimo risco de ficarmos na dependência da Rússia e da Bielorrússia nessa área. Nesse contexto missões industriais estão colocadas de maneira mais forte do que nunca. Não podemos cair no canto da sereia do boom de commodities. Não devemos repetir os erros do passado. É necessário e urgente desenhar uma agenda de reindustrialização com políticas públicas, missões, metas e projetos industriais, usando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outras fontes para a promoção do desenvolvimento verde. Esse é um dos grandes desafios colocados para o Brasil no contexto de transição para a economia verde e para a sustentabilidade.
Ideias chave
1) Os países ricos são ricos pois tem domínio tecnológico ou, como dizem os economistas, estão na fronteira tecnológica.
2) Não existe outro caminho para se desenvolver, aumentar a renda per capita, enriquecer e reduzir as desigualdades que não seja avançar no domínio tecnológico
3) Nesse sentido o Brasil precisa se reindustrializar e também desenvolver serviços complexos e sofisticados que caminham junto com o setor industrial
4)Precisamos de políticas públicas que turbinem nossas empresas, para que elas consigam galgar espaços tecnológicos.
5)O Brasil tem agora a oportunidade da transição verde, da sustentabilidade. Já somos um dos maiores players mundiais em etanol e energias a partir de biomassa, e temos grande potencial para o hidrogênio verde.
6)É necessário e urgente desenhar uma agenda de reindustrialização com políticas públicas, missões, metas e projetos industriais, usando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outras fontes para a promoção do desenvolvimento verde.