Educação não é tudo que o Brasil precisa para se desenvolver!

*escrito com João Romero

Será q não produzimos e exportamos bens mais sofisticados em função de baixa educação? Não é bem assim. Educação é importante, mas não é tudo. Capital humano envolve tb conhecimento tácito, adquirido via experiência/prática (na atividade e formação de redes – relação c/ investidores, fornecedores, distribuidores, unis,etc). Produzir p/ ganhar experiência é fundamental p/ acumular capital humano. Educação é fundamental para o desenvolvimento. É imprescindível p/ a produção de bens high-tech, q demandam pessoal qualificado, conhecimento científico e P&D, e ajuda tb a melhorar a qualidade do setor público. Mas educação sozinha não é suficiente pro desenvolvimento. Aumento da educação sem politicas voltadas p/ o setor produtivo gera fuga de cérebros (perda de capital humano). Se não temos empresas q demandam trabalhadores qualificados, vários sairão do país p/ trabalhar fora, onde sua qualificação é demandada. Trabalhadores mais qualificados são mais demandados em setores high-tech. A classificação tecnológica dos setores se baseia na intensidade de pesquisa dos mesmos (%P&D ou %qualificados). Sem setores high-tech, há baixa demanda por capital humano. Do ponto de vista setorial educação não é a principal restrição no Brasil. No país como um todo o capital humano é insuficiente, mas setorialmente não: o capital humano total existente poderia suprir a demanda do setor high-tech p/ produzirmos mais desses bens.O probl. é outro. A produção de bens industriais (sobretudo high-tech) esbarra (em parte) na escala de produção e na experiência requeridas para a produção competitiva desses bens. Isso não é novidade. Esse argumento é encontrado em livros-texto como Krugman, Obstfeld e Melitz (2015, cap. 7).

A produção de bens high-tech ou de maior complexidade depende do gradual acúmulo de capacidades (técnicas, tácitas, etc) em densas redes de produtores, como mostraram @cesifoti et al (2007) em artigo publicado na revista Science. Da perspectiva da complexidade econômica, a “educação produtiva relevante” do país é o conhecimento tácito que está nas empresas e nas atividades e, portanto, não se aprende na escola. É uma questão de on the job experience. Medindo a complexidade, o Atlas da complexidade capta bem melhor o conhecimento relevante para produzir. Um músico ou um tenista tem, por exemplo, enorme conhecimento tácito relevante. Se ler partituras fosse o bastante, qualquer um que tivesse aprendido isso poderia ser um excelente músico; conhecer as regras de tênis e os movimentos básicos tornaria qualquer pessoa um potencial campeão. Conhecimento e know-how de produção estão embutidos nas redes sociais produtivas, assim como o conhecimento tácito dos grandes músicos e artistas está “embutido” nessas pessoas. O aprendizado produtivo relevante é social: nas economias, pessoas aprendem com outras pessoas mais experientes sobre como fazer coisas em geral e produzir bens e serviços. Não é possível ser um médico sem antes ter feito residência, ou ser um controlador de tráfego aéreo apenas tendo lido livros e manuais sobre o tema. O mesmo se aplica à capacidade de produzir computadores, carros, aviões, pneus e qualquer outro bem ou serviço. O aprendizado produtivo tem aspectos experimentais e sociais que dificultam a acumulação de know-how e conhecimento, condicionando-a a condições preexistentes nas economias e sociedades.

De forma semelhante, uma ampla literatura enfatiza a importância do arranjo institucional voltado p/ incentivar e dar suporte à produção de bens high-tech, os chamados sistemas nacionais de inovação. Bancos de desenvolvimento tb têm papel crucial no desenvolvimento produtivo. Dada a importância de alcançar escala mínima p/ produção eficiente,é preciso viabilizar recursos p/ q empreendedores/inovadores possam criar suas empresas e ganhar experiência. Em suma, o processo de desenvolvimento é longo e complexo, e envolve o acúmulo das capacidades produtivas requeridas pra produzir bens high-tech, através de ganhos de escala, experiência, formação de redes, pesquisa, educação, construção de instituições, etc.

Refs:

https://www.jstor.org/stable/2295952?seq=1

https://exame.abril.com.br/carreira/fuga-de-cerebros-faz-brasil-cair-para-80-lugar-em-ranking-global/amp/#click=https://t.co/IGfpWF1KlC

https://diplomatique.org.br/brasil-o-desenvolvimento-interditado/

https://science.sciencemag.org/content/317/5837/482

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0048733308001431

https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/17487870.2016.1216416?journalCode=gpre20&

2 thoughts on “Educação não é tudo que o Brasil precisa para se desenvolver!”

  1. Educação não é tudo, mas é boa parte. O problema é que quando as pessoas falam em educação, muitos pensam em formar engenheiro, matemáticos e afins. Uma pesquisa do banco mundial (não lembro o ano) mostrou que o país é péssimo em administrar empresas, sendo a maioria desta pequenas empresas, de carater familiar, sem formação profissional dos gestores. Em uma entrevista do Nelson Marconi e o Andre Lara, o Andre disse que o Brasil tem que parar de discutir sem tem que o estado intervir na economia e sim como o Estado deve faze-lo, pois essa é a discussão no exterior. O problema é que para combater o senso comum da sociedade com a ciência, nós precisamos de mais economistas bem formados( e me desculpe paulo gala) de preferencia que não trabalhem no mercado financeiro. Além disso aumentar a educação não é só aumentar o numero de profissionais e sim melhorar sua formação, oque inclui os cursos de pós e a geração de P&D.

  2. Certo. Vimos, e.g., o governo do PT que até investiu na educação pública, mas não teve uma política de desenvolvimento nacional, semelhante a um carro potente mas sem direção. Resultado: desastre.

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