Emissão monetária e deficit publico não geram necessariamente inflação


Uma das grandes controvérsias entre economistas até hoje diz respeito à chamada questão da neutralidade da moeda. Para economistas de corte mais keynesiano, a moeda tem efeitos reais na economia, ou seja, é capaz de afetar nível de produção, emprego e renda. Para economistas da linha neoclássica a moeda tende a ser neutra, especialmente no longo prazo. Quer dizer, injeções de moeda no sistema apenas causam inflação, não alterando o curso das variáveis reais. Esse, alias, foi o grande ponto da revolução keynesiana. No seu primeiro livro, Treatise on Money, Keynes acreditava ainda na visão quantitativista da moeda MV=PQ, onde M é a quantidade de moeda, V é a sua velocidade de circulação, P nível de preços e Q nível de produção. Segundo essa visão, V tende a ser constante, logo aumentos de M causam aumentos de P, para um mesmo Q. Um dos grandes passos intelectuais de Keynes foi romper com essa visão, ao perceber que V poderia ser muito volátil, ou seja, a velocidade de circulação da moeda poderia variar muito devido a mudanças nas preferências da demanda por liquidez. Na Teoria Geral, Keynes desenvolve a idéia de preferência pela liquidez. Procura demonstrar os motivos para se demandar moeda e liquidez em determinadas situações econômicas. E aqui entra seu conceito de incerteza. Na presença de uma ignorância muito forte em relação ao futuro, um ativo ultra líquido (moeda) é capaz de oferecer proteção aos portfólios dos investidores. Ou como diz Keynes: ‘our desire to hold money as a store of wealth is a barometer of the degree of our distrust of our calculations and conventionsconcerning the future … The possession of actual money lulls our disquietude; and the premium which we require to make us part with money is the measure of the degree of our disquietude’. Aula que gravei sobre o tema aqui:


5 thoughts on “Emissão monetária e deficit publico não geram necessariamente inflação”

  1. Sempre leio autores neoclássicos e – nunca – vi autor algum dizendo que injeções de moeda “apenas” causam inflação e que não alteram curso das variáveis reais, isso não é verdade. Nem escola de Chicago defende isso. O modelo da inflação é uma fórmula que se houver aumento da produção com aumento da expansão monetária de forma proporcional, não vai haver inflação, todos os autores neoclássicos defendem isso, nunca afirmam que “expansão monetária = inflação sempre”. Além disso, se a expansão monetária ocorrer em um momento que a população não está comprando haverá mais liquidez e não vai ter aumento da inflação no curto prazo, mas se o aumento da produção não ocorrer logo, esse excesso de liquidez gera inflação. Ainda mais se algum keynesiano tiver a péssima ideia, como o Mantega fez, de diminuir artificialmente as taxas de juros incentivando a população a consumir mais, mas se os investidores não expandirem a produção, gera o Brasil de hoje, a demanda sobe mas a produção não sobe junto então aumenta inflação e a população se endivida muito mas a instabilidade gerada pela inflação causa queda dos empregos e o endividamento das famílias dá um pico, o alto endividamento que não é natural causado pela baixa artificial dos juros gera uma recessão PIOR AINDA, e foi o que aconteceu no Brasil e Zimbabwe. É melhor ter PACIÊNCIA, coisa que Keynes nunca teve nem keynesianos. O pior dos keynesianos é a pressa, e a ausência de diminuir impostos e desregulamentar para estimular a produção, só aumento da demanda não necessariamente aumenta produção se para produzir é horrivelmente difícil pela alta burocracia e tem pouco lucro pelos altos impostos.

  2. Estou ainda por conhecer algum neoclássico ou monetarista que afirme que V seja constante. Essa é uma hipótese simplificadora derivada do “On the Balance of Trade”, do David Hume. Mas na matriz teórica subjacente ao diagrama de Hicks-Hansen ela já aparece como uma função crescente da taxa de juros. V não é constante ou estável, a teoria apenas diz que, em condições de normalidade conjuntural, alterações nela são pequenas ou previsíveis o bastante para não afetar significativamente alterações em M. Mas é claro que, diante de um crise de grandes proporções, como a ocorrida no período utilizado no vídeo, não seria de se esperar este comportamento em V. Aliás, como mostra a mensuração dela feita pelo Fed, V sofreu uma queda de 35% desde o início da crise, alcançando o menor valor do registro histórico pra esta variável (remontando a 1959).

  3. “Dirigir bêbado não necessariamente provocará acidentes. Logo, não é necessário haver leis que restrinjam o consumo de álcool na direção”.

Deixe uma resposta