*escrito com Ligia Zagato
Coreia do Sul e Singapura são bons exemplos de países que, por diferentes caminhos, conseguiram combinar forças do Estado e do mercado para alimentar o desenvolvimento econômico. Cada um, entretanto, evoluiu para um tipo de sistema econômico. Enquanto a Coreia se tornou um dos maiores produtores de tecnologia do mundo (Lee, 2013), Singapura se converteu em base regional de empresas multinacionais, um centro financeiro e um polo comercial, sobretudo nos setores de transportes e de telecomunicaçoes (Yue, 2005). Muitos autores têm apresentado o caso de Singapura como sendo um caso de sucesso “puramente” movido pelo mercado: distorçُes mínimas de preços; abertura para o mercado externo; fluxos tecnolَgicos e de investimento; prudência fiscal e monetária ; elevada poupança e elevado investimento. Contudo, como afirmam muitos outros autores, Singapura é um exemplo perfeito de como o planejamento estatal e a intervenção do governo na economia podem criar vantagens competitivas nacionais por meio de política industrial seletiva. Assim, a análise de sua história evidencia e indica que as contradiçoes entre essas explicaçُoes sao meramente aparentes, uma vez que o Estado de Singapura agiu de maneira pragmatica, adotando tanto medidas liberais como intervencionistas, mantendo-se fiel apenas ao seu projeto de desenvolvimento.
O processo de catching-up de Singapura, iniciado de maneira mais sistêmica apَs sua independência, que ocorreu em 1965, foi classificado em termos gerais por Goh (2006) como trabalho-intensivo na década de 1960; voltado para exportaçُes na década de 1970; competitivo em custos na década de 1980; e voltado para o desenvolvimento empreendedor na década de 1990, periodo no qual o país mais avançou na construçao de complexidade econômica.A primeira fase de industrializaçao foi, como costuma ocorrer em paises em desenvolvimento, baseada no uso da mao-de-obra barata como meio pragmatico de soluçao dos graves problemas de desemprego que afetavam o país. A isso se seguiu a adoçao de uma estratégia comum entre paises asiaticos à época de adotar um modelo de industrializaçao voltado para exportações. Para atrair mais empresas multinacionals (EMNs), a ilha explorou sua localizaçao comercial estratégica, investiu em infraestrutura fisica e numa força de trabalho cada vez mais qualificada. Assim, ao contrario da maioria dos paises da regiao, como a Coreia do Sul, o pais deixou de lado o desenvolvimento de empresas nacionais nas fases iniciais e não criou empresas locais, o que teria consequências profundas em termos do desenvolvimento de tecnologia nativa.
Na década de 1980, a industrialização estava estabelecida em setores avançados, com manufatura de componentes eletrônicos, engenharia e construçao civil, logistica e finanças com multinacionais. Depois que Singapura começou a se desenvolver economicamente, sua vantagem competitiva em custos diminuiu em termos comparativos e países como China, Indonésia e Tailândia começaram a oferecer custos operacionais mais atraentes. Por isso o país precisou novamente alterar sua estratégia de desenvolvimento na década de 1990, e passou a focar em empreendimentos locais. Para isso, o governo introduziu politicas industriais para maximizar o potencial de crescimento econômico por meio do desenvolvimento empreendedor. Investiu em pesquisa pْublica e incentivou o empreendedorismo das empresas do setor privado na conquista de vantagens competitivas de nicho na economia global, dominada por agentes maiores e oligopolistas (Goh, 2006). Além disso, foram lançados diversos planos nacionais, como o SME Master Plan, de 1998, e o Technopreneurship 21, de 1999 (Yue 2005). Esse esforço de promoçao de P&D nativo ainda esta em processo e é crucial para compreender o atual êxito econômico do pais. Cingapura representa mais um belo caso do modelo de sucesso asiatico: estado + mercado para conquistar o mundo. Singapura é tambem um caso exemplar de erradicação de favelas e fornecimento de moradias de qualidade para todos totalmente desenvolvido pelo poder público.
Goh, A. L. (2006) Evolution of industrial policy-making in support of innovation: the case of Singapore. International Journal of Innovation and Learning, vol. 3, no. 1, 110–125.
Fu, X., Pietrobelli, C. & Soete, L. (2011) The Role of Foreign Technology and Indigenous Innovation in the Emerging Economies: Technological Change and Catching-up. World Development. Vol. 39, 7, 1204-1212.
Yue, C. S. (2005) The Singapore model of industrial policy: past evolution and current thinking. Paper for presentation at the Second LAEBA Annual Conference, Buenos Aires, 28-29 November
Deixar uma sugestão para você explorar: O western spaghetti, situação onde a Itália dos aos 60 e 70 se tornou a maior produtora e exportadora de filmes de faroeste, o gênero é associado hoje a Clint Eastwood, mas muitos não lembram que foi justamente na Itália que ele alcançou o estrelato. O outro é a empresa polonesa Cd Projekt Red, na área de videogames, que tornou a Polônia um dos grandes centros desenvolvedores nesse setor.
boa! isso aparece no ultimo filme do Tarantino!