*escrito por Felipe Augusto
Relatório final da investigação do Departamento de Comércio dos EUA sobre risco à segurança nacional decorrente das importações de carros e autopeças é mais um documento histórico que escancara a mudança de rumos da econômica política americana. O estudo concluiu que as importações excessivas e os sérios efeitos delas sobre a produção nacional dos EUA estão enfraquecendo a economia interna do país a ponto de prejudicar a segurança nacional. A Legislação americana estabelece um conceito amplo de segurança nacional, que inclui o impacto da competição externa sobre o bem-estar das empresas nacionais, o desemprego, a redução das receitas do governo, a perda de habilidades técnicas e de investimentos, entre outros. O Relatório explicou que o setor automotivo foi um grande motor do crescimento econômico do país, gerando muitos dos avanços tecnológicos mais importantes do último século. Afirmou também que as mais diversas aplicações militares são fortemente dependentes das inovações do setor. O Relatório lamentou a perda de protagonismo da indústria automobilística americana, cujas empresas de capital nacional chegaram a produzir no país 48% dos carros mundiais nos anos 60 e 70. Em 2017, elas tinham passado a produzir apenas 12% deles (no país ou no exterior). Pressionadas por competidores estrangeiros protegidos por seus governos, as empresas americanas passaram a terceirizar parte da produção a fim de reduzir custos. No México, por exemplo, os salários médios representavam cerca de 1/7 dos salários nos EUA. Emprego desabou. Além disso, houve enorme desnacionalização. Em 1985, a produção das empresas automobilísticas de capital americano representava 97% da produção do país. Em 2017 ela caiu para 42% da produção e apenas 20% do consumo interno. Déficit comercial do setor explodiu.
O que mais preocupa os americanos: 1) Bons empregos e inovação dependem da indústria. EUA representaram apenas 20% do P&D mundial em automóveis e 7% em autopeças em 2017. Japão e Europa registraram 70% e 90%, respectivamente. 2) Predomínio do capital estrangeiro significa que governos estrangeiros podem dificultar o compartilhamento de tecnologias sensíveis e avançadas das suas empresas, para as quais contribuíram com forte proteção de mercado. Japoneses ainda possuem quase 100% do seu mercado. A investigação foi finalizada ainda no governo Trump, mantida em sigilo e divulgada recentemente. Diz muito sobre a virada no debate público americano. Trump queria tarifas. Biden tem sido ainda mais intervencionista e focará nos carros elétricos.
Relatório aqui:
Plano Biden para carros elétricos:
China já virou maior exportador de carros