FED mantem juros em 5,5%, Copom corta a SELIC

A “Super Quarta-feira”, que incluiu as decisões do FED e do Banco Central Brasileiro, trouxe decisões em linha com as expectativas. No Brasil vimos a manutenção do ritmo de corte da SELIC de meio ponto percentual. A SELIC passou de 13,25% para 12,75%, e no comunicado, o COPOM deixou claro que os cortes devem continuar nesse ritmo nos próximos encontros de forma unânime. O comunicado foi praticamente idêntico ao da reunião anterior, com apenas algumas atualizações indicando uma atividade econômica um pouco mais robusta do que o previsto. Nos Estados Unidos, a taxa de juros de longo prazo continua a subir, mas, no geral, a mensagem do FED em relação à preocupação com o quadro inflacionário não apresentou grandes mudanças em relação ao que já vinham comunicando. É importante destacar que a inflação, tanto no cenário de referência considerado pelo Banco Central quanto nas projeções do relatório Focus, está acima da meta tanto para este ano quanto para o próximo e até mesmo em 2025. Para este ano, esperamos uma inflação próxima a 5%, no próximo ano entre 3,5% e 4%, e para 2025, algo em torno de 3,2% a 3,3%. Portanto, fica difícil vislumbrar um aumento no ritmo dos cortes, especialmente em um cenário em que nem a inflação atual nem as expectativas de inflação estão próximas da meta. Parece mais provável que continuemos com esse ritmo gradual de redução da taxa de juros, e mais adiante, haverá um debate sobre onde esse ciclo de cortes terminará. Atualmente, minha visão é de que isso acontecerá em torno de 9,5%, mas certamente não será uma decisão sem controvérsias e debates dentro do COPOM. Acredito que em breve veremos uma discussão sobre esse nível de taxa de juros no Brasil. Nos Estados Unidos, o FED manteve a taxa em 5,5%, sem grandes surpresas, mas o discurso do Presidente Powell foi um pouco mais rígido e assertivo. Um destaque importante foi a referência ao “soft landing”, ou seja, a ideia de que a economia americana pode realizar uma desaceleração suave, o que seria o cenário ideal. Porém, ele também destacou que esse cenário não está garantido, já que existe a possibilidade de um crescimento econômico mais forte que exigiria aumentos nas taxas de juros do FED. O DOTPLOT, que mostra as projeções dos diretores do FED, apontou para mais aumentos no próximo ano, eliminando praticamente os cortes que eram previstos em maio e junho. Como resultado, as taxas de juros de longo prazo nos EUA subiram para 4,46%, atingindo o nível mais alto desde 2007. A retórica de Powell parece ter surtido efeito, com a manutenção das taxas de juros acompanhada de ameaças de futuros aumentos, algo comum na comunicação dos bancos centrais. Em relação ao Banco da Inglaterra, houve uma surpresa ao manter a taxa de juros em 5,25%, após 14 aumentos anteriores, quando o mercado esperava um aumento de 0,25%. Vale ressaltar que a situação da inflação no Reino Unido é pior do que nos Estados Unidos e na Europa. Isso representa uma mudança de cenário e a interrupção do ciclo de aumentos. Ontem, tivemos um dado de inflação melhor do que o esperado no Reino Unido. O Banco Central Suíço também manteve a taxa de juros em 1,75% após cinco aumentos, o que reforça a ideia de que os bancos centrais estão se aproximando do fim do ciclo de aumento das taxas. Amanhã teremos a decisão do Banco Central do Japão, que certamente não deve alterar as taxas de curto prazo, mas pode sinalizar algo em relação à política de juros de longo prazo. Com isso, encerramos uma semana importante de decisões dos bancos centrais. Ontem, ao longo do dia, as taxas de juros de longo prazo estavam caindo no início do pregão, mas depois da reunião do FED, viraram e subiram um pouco, especialmente após o discurso mais duro de Powell. O dólar também se valorizou um pouco em relação ao real, chegando a R$ 4,88, enquanto o IBOVESPA registrou uma leve alta. Uma outra boa notícia que tivemos ontem foi o índice de preços ao produtor (PPI) na Alemanha, que está em queda e desacelerando, o que contribui para o cenário de desinflação. Há dois grupos de economistas no mundo atualmente: os que acreditam que a inflação está convergindo e os que acreditam que ela ainda persistirá por um tempo, causando mais problemas. Eu me alinho ao primeiro grupo e acredito que a desinflação é o cenário mais provável. No próximo ano, espero que tenhamos uma desinflação mais sólida, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, mas os riscos ainda persistem, e não podemos afirmar com certeza que a batalha contra a inflação foi totalmente vencida.

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