*escrito por Uallace Moreira
Qual o motivo da preocupação de Biden em fortalecer suas cadeias produtivas nacionais? 88% dos chips semicondutores usados pelas indústrias dos EUA, incluindo as indústrias automotiva e de defesa, são fabricados fora dos EUA. No entanto, três questões determinam onde eles são considerados críticos para os EUA como líderes globais em eletrônicos: menor capacidade, alta demanda global e investimento limitado. O presidente Biden está adotando várias medidas para fortalecer a política industrial dos EUA, com foco no fortalecimento do setor de semicondutores. No mundo, temos um cenário de busca pelo domínio no setor de semicondutores, que envolve os EUA, Coreia do Sul, Japão, Taiwan e China. No Brasil? Temos a ACEITEC, que o governo Bolsonaro está fechando. Biden sinalizou apoio de financiamento e comprar públicas para a cadeia de suprimentos em quatro setores: semicondutores, baterias, produtos farmacêuticos e materiais estratégicos. o objetivo é fortalecer a cadeia produtiva nacional. Desde o final da década de 1990, a indústria de semicondutores dos EUA tem sido a líder em participação no mercado de vendas global, com quase 50% de participação no mercado global anual, conforme consta na figura.
Além disso, as empresas de semicondutores dos EUA mantêm uma posição de liderança ou altamente competitiva em P&D, design e tecnologia de processo de fabricação. Depois dos EUA, temos a Coreia do Sul, Japão, Europa, Taiwan e China. A indústria de semicondutores dos EUA mantém a liderança no mercado de vendas de semicondutores lógicos e analógicos. No entanto, para memória e semicondutores discretos, as indústrias de outros países lideram. A Ásia continua a dominar os aspectos terceirizados da produção de semicondutores. Quase 80% das fundições de semicondutores e operações de montagem e teste estão concentradas na Ásia. Nos EUA, Biden já deixou claro que irá direcionar as compras públicas para o mercado interno e para as indústrias norte-americanas, para fortalecer cadeias produtivas locais e empresas nacionais, inclusive priorizando o setor de semicondutores. A disputa tecnológica entre Samsung e TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Co.) pelo domínio tecnológico de semicondutores mostra como a CEITEC (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada) é uma empresa estratégica para a economia brasileira.
A Samsung – Coreia do Sul – está expandindo sua fábrica de semicondutores no Texas em uma intensa concorrência com a TSMC. O objetivo é abrir espaço para equipamentos de manufatura de próxima geração, para superar o título de maior fabricante de chips da TSMC. A Samsung tem realizado amplos investimento na expansão de sua produção de Chips pelo mundo. Recentemente, anunciou com mais detalhes seu plano de investimento de US$ 17 bilhões em uma fábrica nos EUA: o Projeto Silicon Silver para criar cerca de 1.800 empregos nos primeiros dez anos. US$ 5,1 bilhões iriam para prédios e benfeitorias imobiliárias, enquanto US$ 9,9 bilhões seriam gastos em máquinas e equipamentos. O Projeto Silicon Silver da Samsung terá abatimentos de impostos sobre a propriedade que totalizariam cerca de US$ 1,5 bilhão em 20 anos nos níveis municipal e municipal. A produção econômica será de cerca de US$ 8,6 bilhões e os salários totalizariam US$ 7,3 bilhões.
A TSMC já anunciou um plano para construir uma nova fábrica no estado do Arizona. A empresa taiwanesa anunciou que construiria uma nova instalação de chips no Arizona por US$ 12 bilhões, que será inaugurada no próximo ano e deverá entrar em operação em 2024. As características da tecnologia de semicondutores também podem favorecer a China e o país tem implementado políticas de catch up tecnológico para superar os EUA. Alguns acontecimentos recentes apontam para a trajetória de construção da curva de aprendizagem, principalmente em sua estratégia de inovação para fabricação de Chips. A China adquiriu máquinas japonesas de fabricação de chips para entrar em fábricas 3G. A Intang Intelligent Controls assumiu a Pioneer Micro Technology e planeja enviar suas 5 máquinas de litografia para a China. A estratégia chinesa é absorver o conhecimento da fábrica e estrutura tecnológica japonesa, aplicar engenharia reversa, avançar para a inovação, construindo sua curva de aprendizado e logrando seu catch up tecnológico (learning-by-doing).
Recentemente, a China anunciou um Plano de US$ 1,4 trilhão para dominar a indústria mundial de semicondutores até 2025, em resposta às restrições dos EUA. A escassez de semicondutores, causada pela mudança nas prioridades da cadeia de suprimentos devido à pandemia, prejudicou a produção de automóveis nas últimas semanas. Há uma janela de oportunidade para mais empresas se inserirem no setor. Em seus estudos, Lee (2013) mostra que países de industrialização tardia, como a Coreia do Sul e Taiwan, mostraram uma tendência de se concentrarem em setores/produtos tecnológicos de ciclos relativamente mais curtos desde meados da década de 1980 para lograr o catch up tecnológico e superar a armadilha da renda média. O autor parte da ideia de que esses setores, ao gerarem um processo constante de inovações, têm menores barreiras à entrada, abrindo janelas de oportunidades para que países retardatários inovem e alcancem o catch up. Um dos principais setores/produtos apresentados por Lee (2013) que fazem parte do ciclo tecnológico curto é o de semicondutores e chips.
Fontes:
https://www.wsj.com/articles/chinas-rise-drives-a-u-s-experiment-in-industrial-policy-11615381230
https://portaldisparada.com.br/economia-e-subdesenvolvimento/china-eua-tecnologia/
https://rib.ind.br/catch-up-tecnologico-e-a-superacao-da-renda-media-o-papel-do-ceitec-no-brasil/
https://portaldisparada.com.br/economia-e-subdesenvolvimento/guerra-tecnologica-samsung-tsmc/
Leia essa história, Paulo Gala.
Veja a condição imposta pelo governo americano.
https://olhardigital.com.br/2021/03/08/colunistas/dove-oscar-17-o-primeiro-satelite-verdadeiramente-100-brasileiro/
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