Industrialização e desindustrialização nos estados brasileiros. Uma compensou a outra? NÃO!

*escrito por Pablo Felipe Bittencourt

Gráfico 1: Participação da Indústria no PIB dos estados e sua variação entre 2002 e 2020 

 Fonte: Economia FIESC

O gráfico acima circula, em azul, um grupo de estados em que a industrialização avançou e, em vermelho, um grupo no qual identifica-se desindustrialização. No círculo azul, estão os estados da expansão da fronteira agrícola nacional, marcada pelo processamento de alimentos. Pernambuco é exceção, local de investimentos de montadora de veículos, inclusive em P&D. O grupo em vermelho concentra a maior parte da indústria brasileira, caracterizada por setores de baixa intensidade tecnológica. A desindustrialização baseada nesses setores poderia até ser considerada “normal” para o período, como mostrou a original contribuição de Morceiro e Guilhoto (2023). Ocorre que, se tivéssemos passado por um processo natural de desindustrialização, os setores tradicionais teriam evoluído em uma mutação virtuosa, definida por migração para atividades tecnologicamente mais sofisticadas (SAVIOTTI, 2005), tais como esforços para desenvolver nano fibras à indústria têxtil e à ceramista ou biotec para alimentos. Mas não foi nem tem sido assim. Há muito já se observa (CÁRI, et.al., 2013) que, mesmo em Santa Catarina, território de diversos bons exemplos de esforço tecnológico, a mutação virtuosa não se concretizou. A indústria permanece muito básica!Veja leitor, isso não significa dizer que não houve modernização produtiva pela aquisição de maquinário ou implementação de melhorias organizacionais. O ponto essencial é a manutenção da passividade nos processos de inovação, limitadores da capacidade de reconhecer oportunidades tecnológica e de dominá-las. Já entre os setores mais intensivos em tecnologia, uma dicotomia: por um lado, prosperaram as empresas de maior porte, cujos esforços tecnológicos já estavam consolidados (WEG, Tupy e Embraco/Winrpool), inclusive pela forte relação com atores do sistema local de inovação (Departamentos de Engenharia da UFSC). Enquanto isso, aspequenas e médias viveram um processo de desindustrialização que restringiu suas capacidadesempreendedoras, desintegrando etapas da produção em favor da China, mesmo sob influência local de efeito de demonstração e spinoffs das maioresempresas. Enfim, desindustrialização é um processo, não virtuoso no nosso caso. Seu preço tem sido a insuficiente capacidade de gerar e gerir a mudança tecnológica. A dependência desse passado restringe a nossa capacidade de crescimento. A industrialização da fronteira agrícola significa fazer mais do mesmo, no máximo mascara o problema fundamental. Não houve avanço tecnológico significativo. Nossa indústria permanece muito básica! Reindustrializar/Neoindustrializar é reverter essa tendência!

Referências

CÁRIO, S. A. F., NICOLAU, J., SEABRA, F., & BITTENCOURT, P. (2013). Processo de desindustrialização em Santa Catarina. Santa Catarina: Fiesc/UFSC.

MORCEIRO, Paulo César; GUILHOTO, JOAQUIM JOSÉ. Sectoral deindustrialization and long-run stagnation of Brazilian manufacturing. BrazilianJournal of Political Economy, v. 43, p. 418-441, 2023.

SAVIOTTI, P. P. Crescimento da variedade: implicações de política para os países em desenvolvimento. LASTRES, HMM; CASSIOLATO, JE; ARROIO, A. Conhecimento, sistemas de inovação e desenvolvimento. Rio de Janeiro: UFRJ, Contraponto, 2005.

1 thought on “Industrialização e desindustrialização nos estados brasileiros. Uma compensou a outra? NÃO!”

  1. Mineração nem deveria ser considerada “indústria”. Sem a mineração, os números da indústria brasileira viram piada.

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