O Copom iniciou novo ciclo de alta da SELIC, surpreendendo o mercado. Reconhecendo a piora do balanço de riscos para a inflação, o comitê decidiu iniciar nova rodada de aumentos com votação dividida. Sabemos que a inflação está no teto da meta e decorre de dois processos atualmente em curso na economia: realinhamento de preços de bens transacionáveis e não transacionáveis (graças à desvalorização cambial principalmente) e recomposição de preços administrados que vinham defasados há tempos. A continuidade do primeiro processo depende obviamente da trajetória futura da taxa de câmbio e da evolução dos preços transacionáveis relevantes para Brasil em dólar.
No front de preços de serviços (não transacionáveis) o BC terá boas notícias; a inflação do próximo ano dependente de salários, aluguéis e imóveis será bem menor, ajudada pela estagnação da atividade econômica. A queda de aproximadamente 50% YoY nas vendas de imóveis do primeiro semestre desse ano, grande redução de lançamentos, forte onda de distratos na entrega das obras e enorme aumento de estoques de imóveis comerciais e residências apontam para desaceleração de preços finais. A redução dos salários médios de admissão e perda de força do CAGED também são uma indicação do processo de acomodação de preços de não transacionáveis em curso. Resta saber se vai chover e como se comportará o preço da energia, dos pedágios, tarifas de ônibus e gasolina em 2015. Todas essas variáveis estão em jogo na definição do tamanho e duração do novo ciclo de alta da SELIC. Por enquanto um aumento total de 1% em quatro doses de 0,25% parece estar no radar.