*escrito com Uallace Moreira
Depois que o Japão manifestou ser contrário à participação da Coreia no G7, por convite dos EUA, muitas questões foram levantadas sobre o histórico de conflitos entre as duas nações e o papel do estado em cada uma delas. Se no Japão a aliança entre governo e Zaibatsu era essencial para que o país pudesse dar continuidade ao seu desenvolvimento, esse modelo foi transferido para a Coreia em uma aliança estabelecida entre o Estado e as grandes empresas familiares coreanas, os Chaebols. O Japão inspirou o fortalecimento do nacionalismo na Coreia, característica esta fundamental para compreender a presença de um Estado forte e o processo de implementação da política de desenvolvimento nesse pais. Apesar de um passado de muitos conflitos o Japão acabou se tornando parceira estratégico no desenvolvimento da Coreia. O Japão foi uma peça fundamental no financiamento da indústria siderúrgica coreana, principalmente no financiamento da construção da estatal Pohang Iron and Steel Company (POSCO), tendo em vista que tanto os EUA, como instituições internacionais que sempre deram apoio à Coreia como Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), foram contrarios ao projeto coreano de desenvolvimento da indústria siderúrgica. Com o Terceiro Plano Quinquenal em 1973, tornaria mais imperativa a necessidade de recursos externos para complementar o vultoso volume de capital para os objetivos dos planos de desenvolvimento. A retomada das relações políticas e comerciais da Coreia com o Japão, e o surgimento do Euromercado pode ser considerado providencial para a Coreia do Sul.
A retomada das relações diplomáticas com o Japão não se limitará à entrada de recursos, mas também a retomada de relações comerciais com o Japão o qual será um grande mercado consumidor dos bens coreanos, além das parcerias no processo de aprendizado tecnológico. A dimensão da importância do Japão para a Coreia durante o período fica em evidência quando se analisa a participação do Japão no valor total das exportações, participação esta que ficou em 23% entre 1967-1971. Portanto, fica claro que se os recursos externos dos EUA foram importantes para a Coreia nos anos 1940 e 1950, enquanto os recursos japoneses foram relevantes nos anos 1960 e 1970. Nos anos 1980, enquanto a América Latina sofreu com a contração de entrada de recursos externos nos anos 1980, a Coreia do Sul teve uma situação privilegiada, principalmente em decorrência da sua relação com o Japão, tanto na concessão de crédito como também no seu comércio exterior e no processo de absorção de tecnologia, propiciando assim um ambiente externo oportuno para que a Coreia pudesse manter a política de desenvolvimento do seu parque industrial atrelado a taxas de crescimento elevadas. EUA e Japão, entre os anos 1970 e 1980, eram os principais parceiros comerciais da Coreia. Quando considerado a origem das importações da Coreia, o Japão tinha uma participação que variava entre 29% até 40%. Quando analisado o destino das exportações da Coreia, o Japão tinha uma participação entre 14% a 38%. A partir dos anos 1990, com a ascensão da China como uma das principais economias mundiais, Japão e os EUA perdem relevância como principal parceiro comercial da Coreia, com a China ocupando hoje entre 26% a 28% do destino das exportações da Coreia. A participação do Japão saiu de 19% em 1990 para 5% em 2019.