Jerônimo de Uztariz, o grande economista mercantilista da Espanha dos 1700

Uztariz defendia a aplicação do colbertismo na Espanha e propunha os modelos de França e Holanda como padrões a serem imitados. Sua grande obra: Teoría y práctica de Comercio y Marina, apareceu publicada em 1724 em tiragem muito limitada, destinada apenas às pessoas mais próximas e publicada sem licença oficial. Seis anos após sua morte, o seu filho Casimiro, que foi secretário do Ministério da Guerra e do Conselho de Estado, publicou versão revista e ampliada. Desta vez, a obra de Uztariz alcançou ampla difusão e tornou-se um clássico. Foi traduzido para o inglês e publicado em Londres (1751) e Dublin (1752), para o francês (1753) e também para o holandês e o italiano. Na Espanha foi publicado pela terceira vez em 1757. Voltaire mencionou Uztariz em sua obra Essai sur les moeurs, como “o famoso Uztariz, um estadista, que escreveu em 1723 para o bem de seu país”. Uztariz é também o único economista espanhol citado por Adam Smith em A Riqueza das Nações (1776).

Em sua obra Uztáriz identifica a riqueza nacional com os metais preciosos, o que não é novidade, mas acrescenta que o principal não é impedir a fuga desses metais por meio de restrições, mas fazê-los entrar e permanecer por meio de uma balança comercial favorável. O remédio geral é a promoção das manufaturas e a reorganização do comércio. Uma nação não pode ser grande sem grande comércio, e o comércio útil é impossível sem a posse de manufaturas. Para obtê-los, é necessário o apoio do governo, manifestado na concessão de incentivos e franquias aos fabricantes e vendedores. Ao mesmo tempo, uma redução dos impostos internos, acompanhada de uma reorganização das tarifas de entrada e saída de mercadorias, aumentaria o consumo interno e as exportações, já que os excessivos impostos pagos na Península ibérica e nas alfândegas encareciam os produtos espanhóis aos estrangeiros. No entanto, as restrições à entrada desses produtos devem ser feitas em conjunto com o desenvolvimento da indústria nacional, para não causar problemas de desabastecimento.

Para Uztariz, a causa do declínio espanhol não foi a emigração de pessoas para as Índias, como outros diziam, mas sim um comércio desfavorável. Ele era a favor da promoção da indústria privada nacional, mas contra o desenvolvimento da manufatura real. Solicitou a instalação de representações comerciais espanholas nos principais portos estrangeiros. Pediu a reforma da Junta Comercial, com a introdução nela de homens preparados e experientes. Defendeu a abertura de canais fluviais e a melhoria de estradas e portos. Recomendava a criação de academias para promover o comércio e as ciências e artes em geral. Uztariz é de particular interesse não só porque seu trabalho foi muito influente mas também devido ao conhecimento pessoal de Uztariz sobre a Holanda durante um período de uma carreira militar de quase 20 anos. Ele frequentou o Real Academy em Bruxelas e serviu nos Países Baixos durante o serviço militar e posteriormente como capitão da infantaria, antes de se tornar primeiro-ministro do vice-reinado espanhol da Sicília em 1705. Uztariz sendo espanhol e tendo vivido na Holanda e na Itália por 23 anos tinha um visão privilegiada sobre a importância das manufaturas para o desenvolvimento dos países. Em um de suas famosas frase diz: “Manufaturas são uma mina muito mais frutífera de ganhos, riquezas e fartura do que as de Potosí”.

 

Referências:

  1. BITAR LETAYF, Economistas españoles del siglo XVIII, Madrid 1968
  2. CARRERA PUJAL, Historia de la economía española, III, Barcelona 1945
  3. COLMEIRO, Historia de la economía política en Español de España, 1865 (reed. Madrid 1965)

REINERT, ERIK, How Rich nations got Rich Essays in the History of Economic Policy, 2004 (texto_Reinert)

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