*escrito com Eduardo Guedes Caetano
Martinho Guedes, pai de Manoel Guedes, e Maria Alves de Almeida Lima casaram-se em 1848 e foram morar em Tatuí. Plantavam, importavam produtos da Europa e EUA e os comercializavam na região. Importaram de Savannah (EUA) sementes de algodão herbáceo, diferente do arbóreo, comum por aqui como cultura nas pequenas propriedades. Desenvolveram o plantio racional do algodão, nova técnica agronômica. Com a revolução industrial fortemente concentrada no setor têxtil, a Inglaterra dependia do algodão. Com a Guerra Civil Americana (1861-1865), a Inglaterra se viu sem matéria-prima. As máquinas inglesas dependiam do algodão americano, o indiano e o egípcio não serviam. Com visão, Martinho importava as sementes de algodão herbáceo, as distribuía entre agricultores locais da região de Tatuí, orientava, e depois comprava o algodão, o beneficiava, e exportava para a Inglaterra com uma qualidade comparável à dos norte-americanos. Com a explosão de preços (de 6$ na década de 1850 para a faixa de 14$ a 23$ entre 1863 e 1866), o algodão herbáceo ficou conhecido como “Ouro Branco”, e Martinho acumulou grande fortuna entre 1863 e 1870, quando os americanos voltaram a produzir e exportar grandes quantidades de algodão, fazendo os preços internacionais caírem muito. Outras regiões, com menos técnica agrícola e, portanto, menos competitivas, enfrentaram grande crise e abandonaram o algodão.
O visionário Martinho continuou produzindo e pretendia verticalizar o negócio, construir a primeira grande fiação e tecelagem, para absorver a produção e criar valor adicionado, mas morreu em 1872. A mulher e o filho, Manoel Guedes, igualmente visionários, conseguiram botar a fábrica São Martinho para funcionar em 1881, sem ferrovias e estradas. Em 1840, a recém-fundada Tatuhy tinha apenas nove ruas em 14 quadras. Com apenas 3.200 habitantes, a maior parte rural, desmembrou-se de Itapetininga em 1844. Em 1885 no estado todo havia apenas nove tecelagens, sendo a São Martinho provavelmente a maior, sendo na verdade um complexo fabril, com olaria, fábrica de correias e outras máquinas. Devido principalmente à produção do “Ouro Branco” e construção e operação da fábrica São Martinho, a cidade tornou-se a quinta mais populosa do estado de SP, segundo o Censo de 1886, com 24.936 habitantes. Ou seja, mais da metade da população da capital São Paulo (47.697 habitantes), que finalmente tinha superado Campinas. Em 1910, a S. Martinho foi também a primeira a ser movida por energia elétrica, vinda de barragem em fazenda de Manoel, que também eletrificou Tatuí, um dos primeiros municípios a ter essa comodidade. O complexo fabril, o palacete e a vila operária, a apenas quatro quarteirões da Praça da Matriz, estão tombados e são únicos no estado de São Paulo, um incrível registro do berço industrial paulista.
Próceres da indústria paulista
1) F. C. Stoneham Ford;
2) S. Boyes;
3) Asdrubal A. do Nascimento;
4) Guiseppe Crespi;
5) Erasmo Teixeira de Assumpção;
6) Manoel Guedes P. Mello;
7) Samuel A. de Toledo;
8) Rodolfo Crespi
9) Dr. J. A. Rubião;
10) F. Matarazzo;
11) Alexandre Siciliano;
12) Guiseppe Puglisi Carbone
https://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300g39d.htm