Para os clássicos do desenvolvimento econômico a industrialização sempre foi o caminho por excelência para se desenvolver e aumentar a produtividade de um país. Os argumentos estruturalistas têm como pilar a ideia de que o setor industrial e’ a chave para o aumento de produtividade de uma economia como vimos acima. Desde o argumento da tendência declinante dos termos de troca, passando pela ideia de Prebsich de que os ganhos de produtividade são incorporados a salários nos países industrializados e se tornam queda de preços em países da periferia, não é possível imaginar desenvolvimento econômico nesse arcabouço de pensamento sem a ideia de industrialização. Toda literatura estruturalista sobre desindustrialização e ate mesmo doença holandesa parte dai (Bresser 2013). Como argumentava o economista Nicholas Kaldor, seguindo Gunnar Myrdal, a dinâmica tecnológica e de produtividade dependem fortemente do processo de acumulação de capital, do próprio nível de produção agregado e da industrialização da produção. Nesse sentido, estabelece-se uma relação de causalidade entre a taxa de crescimento da produtividade e a de crescimento da produção industrial em que um aumento na produção provoca aumento da produtividade. Há, portanto, uma relação positiva entre a taxa de crescimento da produtividade do trabalho e a de crescimento da produção industrial, conhecida na literatura como “lei de Kaldor-Verdoorn”. A correlação entre o crescimento do produto industrial e o desempenho geral de uma economia pode ser entendida, portanto, a partir dos aumentos de produtividade encontrados no setor industrial.
Há duas explicações na literatura kaldoriana para tal efeito. A primeira diz respeito à transferência de trabalhadores de setores de baixa produtividade (trabalho precário) para atividades industriais que apresentam produtividade elevada. Como há excesso de oferta de trabalho (surplus labor) nos setores tradicionais e de baixa produtividade, a transferência de trabalhadores aos setores modernos tem pouco ou nenhum impacto no nível de produção dos setores tradicionais. De acordo com Kaldor (1966), esse processo caracteriza a transição das economias da imaturidade para a maturidade, em que imaturidade significa um estado de permanente oferta de trabalho nos setores de trabalho precário e subsistência, portanto de baixa produtividade. A segunda razão para a correlação entre o produto da indústria e o aumento da produtividade relaciona-se à existência de retornos crescentes de escala estáticos e dinâmicos em atividades manufatureiras como mencionado acima. Retornos estáticos dizem respeito a economias de escala encontradas dentro das firmas e retornos dinâmicos referem-se a aumentos de produtividade derivados de “learning by doing”, externalidades positivas e “spill-overs” tecnológicos. O setor industrial se destaca também numa economia pois de todos os subsetores produtivos é o que mais exerce efeitos de encadeamento para frente e para trás nas cadeias produtivas dos outros subsetores e em seu próprio subsetor. Isto ocorre porque a indústria de transformação demanda insumos e oferta produtos de e para todos os demais setores da economia, como também porque os elos de ligação entre os setores produtivos intra-indústria são mais densos. Movimentos de expansão ou contração no setor manufatureiro afetam mais o conjunto da economia do que impulsos observados fora desse setor. Essa primazia da indústria pode ser facilmente observada nas economias mundo afora a partir da analise das matrizes insumo-produto de cada país.
O Atlas da Complexidade Economica traz uma contribuição interessante para a discussão da importancia da industrializacao no pensamento estruturalista; do ponto de vista de uma análise estritamente empírica feita pelo algoritmo do Atlas, fica claro que manufaturas se caracterizam em geral como bens mais complexos e commodities como bens menos complexos. O mapa abaixo apresenta as 34 principais comunidades de produtos do Atlas divididos em relação as suas características de complexidade e “conectividade”. É possível observar no mapa que maquinário, produtos químicos, aviões, navios e eletrônicos se destacam como bens mais complexos e conectados entre si. Por outro lado, pedras preciosas, petróleo, minerais, peixes e crustáceos, frutas, flores e agricultura tropical apresentam baixíssima complexidade e conectividade. Cereais, têxteis, equipamentos para construção e alimentos processados situam-se numa posição intermediaria entre os bens mais complexos e menos complexos. Do ponto de vista conceitual o Altas também traz um ganho relevante para o argumento estruturalista da industrialização na medida em que cria uma nova dimensão para comparação entres bens. Com o avanço tecnológico das ultimas décadas fica cada vez mais difícil distinguir se um produto é manufaturado, semi-manufaturado ou bruto, ou ainda, se um produto é industrial ou quase industrial. Dos 4.500 produtos analisados na base mais ampla do Atlas fica muito difícil dizer no detalhe quem é industrializado e quem não é. Por outro lado, é possível construir um ranking em termos de complexidade desses 4.500 produtos e das 32 comunidades que abrigam esses produtos. Nos resultados do Atlas fica bastante claro que os países hoje considerados ricos se especializam na produção das comunidades complexas concentradas em manufaturas e os países pobres se especializaram na produção das comunidades não complexas concentradas em recursos naturais.
texto clássico Allyn Young (1928)
Construindo complexidade: uma nova maneira de encarar o processo de desenvolvimento econômico

Ótimo relatório da Unctad sobre o tema: https://unctad.org/en/PublicationsLibrary/ditccom2019d1_en.pdf?fbclid=IwAR3F9VFbHyVWah6Dc3GSVA9ncyo4iaWAofFt1LPHM4W35ev64Sa4RmbF2nA


Excelente Paulo, como sempre. Trago uma contribuição em relação às conexões entre desenvolvimento e a problemática ambiental. Apesar da inegável contribuição da indústria ao desenvolvimento econômico, segundo estudiosos da sustentabilidade é justamente após a era industrial que o homem começa a transformar o meio ambiente em escala nunca vista no planeta, ao ponto de comprometer sua própria sobrevivência… Será que a 4 revolução industrial pode resolver esse conflito?
O economista Erik Reinert tem desenvolvido análises interessantes conectando indústria e meio ambiente. Dá uma olhada nas coisas dele
Obrigado pela atenção e sugestão! Vou pesquisar.
Schot e Geels (2008) trazem abordagem da inovação para a sustentabilidade, considerando entradas, materiais, processos, produtos (serviços) e consumo! tema do meu projeto de pós doc!!