Mapa da produtividade de uma economia. O que falta no Brasil?

Os clássicos trabalhos de Bela Balassa e Paul Samuelson dos anos 60 ja apontavam para o destaque do setor de bens transacionáveis como fonte primordial de ganhos de produtividade de uma economia; algo que depois ficou conhecido na literatura de macro-aberta como Efeito Balassa-Samuelson nas taxas reais de câmbio. O setor de bens não-transacionaveis de uma economia, especialmente os serviços não sofisticados apresentam praticamente o mesmo nivel de produtividade em qualquer pais do mundo, pobre ou rico. O serviço prestado por um garçom, por exemplo, em NY, Sao Paulo ou Zurich e’o mesmo. Nao importa se ele esta levando ouro, diamante ou areia para a mesa do cliente, a produtividade do serviço não sofisticado garçom e’ medida por quantidade de pratos levados ate as mesas; do motorista de ônibus, táxi e avião, numero de passageiros transportados; por lojistas do shopping center, numero de produtos vendidos por vendedor de loja, no prédio, numero de vezes que o porteiro abre o portão e no cabeleireiro gramas de cabelo removidas por pessoa por cada cabeleireiro! Tudo igual em Zurich, Ny e Sao Paulo.

Seguindo essa discussão, o mapa acima procura organizar os macro-setores de uma economia em termos de seus potenciais para gerar produtividade. Na perspectiva Balassa-Samuelson e mais recentemente dos trabalhos de Dani Rodrik, Ricardo Hausmann e Cesar Hidalgo no Atlas na complexidade e’ possível imaginar uma divisão setorial de uma economia em 5 macro-setores que contribui bastante para entender os avanços e retrocessos da produtividade agregada ou “produtividade total dos fatores (PTF)”. Segundo aponta o Atlas da Complexidade Economica com dados para 120 países, 750 produtos e 50 anos, os países hoje considerados ricos são aqueles que tem os setores 1 e 4 muito bem desenvolvidos: são economias complexas com um setor de serviços complexo. O setor 4 depende dos setores 1 e 2. Os países pobres são aqueles “presos” nos setores 3 e 5, basicamente produzem commodities para exportação e tem um setor de serviços de baixíssima qualidade. Alguns países conseguiram migrar para a posição intermediária dos setores 2 e 4, talvez o caso do Brasil. Nos últimos anos a economia brasileira regrediu, entretanto, para o setor 3. Em termos de analise de complexidade, os setores poderiam ser rankeados como: 1,2,4,3,5. Dentro de cada macro-setor existem alguns exemplos de tipo de bens e serviços encontrados e um breve resumo dos tipos de economia de escala e retornos existentes. A produtividade total de fatores de uma economia (PTF) depende essencialmente da configuração setorial em termos desses macro-setores. Uma ótima explicação para o resíduo de Solow.

Quando existem retornos crescentes de escala em uma firma ou setor, o aumento da quantidade de utilização de um fator de produção determina um aumento mais do que proporcional da quantidade do produto final. Por exemplo, um aumento de 10% da força de trabalho determina um aumento de 15% da produção. Empresas ou setores que operam com custos fixos relevantes em geral exibem esse tipo de retorno de escala. Nesse caso, um aumento de quantidade produzida reduz o custo marginal de produção e significa, portanto, um maior produto marginal do fator adicionado. Essas empresas e setores têm, portanto, fortes estímulos para expandir produção na busca de aumentos de lucros. As atividades com altos retornos crescentes exibem também, em geral, fortes externalidades de redes e dinâmicas de aglomeração onde os “first movers” ganham posição de destaque no mercado. São dinâmicas com “lock in” e portanto “path dependent” que formam importantes redes locais produtivas, especialmente nos setores industriais e manufatureiros. Commodities e serviços não sofisticados, por outro lado, apresentam em geral retornos decrescentes de escala e não são produzidos em redes complexas. O acréscimo de insumos produtivos tende a aumentar o custo marginal de produção e diminuir produto marginal do fator. Uma concentração excessiva do tecido produtivo de um pais em atividades produtivas desse tipo tende a diminuir a produtividade agregada dessa economia.

Complexidade e Renda per Capitaatlas_mapa

ver otimo paper empirico sobre o tema, formalização da discussãoPor que a produtividade não aumenta no Brasil?,  Construindo Complexidade e mapa de complexidade