A quebra de dois bancos nos EUA levou o BC americano a anunciar uma linha de crédito de curto prazo lastreada em títulos públicos para ajudar bancos pequenos e médios. A medida permite a esses bancos levantar empréstimos de até um ano diretamente com o FED contra depósitos de títulos públicos como colateral. Com isso os bancos em dificuldade não precisam vender a mercado e com prejuízo sues títulos públicos para honrar saques. Essa nova janela de liquidez complementa a atual janela de 90 dias em que bancos podem tomar recursos do BC americano depositando ativos públicos e privados. A diferença da nova linha está no prazo mais longo e na ausência de descontos (haircut) nos colaterais. Recursos sacados nessas duas janelas já ultrapassam o montante de U$300 bilhões em duas semanas, mostrando que a situação não estava tranquila no balanço dos bancos pequenos e médios.
Além dessa linha o FED anunciou de forma conjunta com o FDIC que todos depósitos do Sillicon Valley Bank seriam honrados, inclusive acima do valor regulatório de U$250 mil. Algo inédito na história recente. Vale lembrar que hoje o volume de depósitos no sistema financeiro dos EUA é de mais de 15 trilhões de dólares, quase o valor do PIB americano e quase o dobro do tamanho do balanço do FED. Isso mostra que seria quase impossível para o FED garantir todos os depósitos; mostra também que sem confiança o sistema bancário americano poderia mesmo ruir. Uma corrida bancária generalizada e hoje, digital, seria insuportável para os bancos. Tanto a secretaria do tesouro americano, Janet Yellen, quanto o presidente do FED, Jerome Powell, têm se esquivado quando interrogados sobre esse possível socorro. A venda forçada do Credit Suisse para o UBS também ajudou a acalmar a situação na Europa. Por lá a regulação mais rígida das autoridades ajuda a impedir prejuízos com operação em títulos públicos longos.
A alta de juros do FED em 2022 trouxe grandes prejuízos a carteira de títulos públicos dos bancos nos EUA, algo que começou a aparecer no início de 2023. Além disso parte relevante dos recursos antes destinados a depósitos nos bancos foi desviado para fundos de curto prazo que hoje pagam algo como 4% ao ano. Os bancos não aumentam a remuneração pagas para depósitos para não perder lucratividade, mas acabam vendo seus recursos drenados por clientes para veículos mais rentáveis. Esse movimento tem dificultado novas captações para bancos pequenos e médios. Todo esse stress no mercado bancário mundial terá como resultado provável uma pausa no ciclo de alta de juros nos EUA. A contração de crédito feita por bancos em dificuldade ou receosos tem efeito análogo a choques de juros promovidos por bancos centrais. Os bancos farão de modo involuntário o que os BCS tentavam fazer com altas de juros: contrair crédito. Os efeitos sobre renda, emprego e inflação também serão similares: atividade mais fraca que resultará em inflação menor.
Ideias chave
- A quebra de dois bancos nos EUA levou o BC americano a anunciar uma linha de crédito de curto prazo lastreada em títulos públicos para ajudar bancos pequenos e médios.
- A medida permite a esses bancos levantar empréstimos de até um ano diretamente com o FED contra depósitos de títulos públicos como colateral. Com isso os bancos em dificuldade não precisam vender a mercado e com prejuízo sues títulos públicos para honrar saques.
- A contração de crédito feita por bancos em dificuldade ou receosos tem efeito análogo a choque de juros promovidos por bancos centrais: contração de crédito.
- Os efeitos sobre renda, emprego e inflação também será similares: atividade mais fraca resultará em inflação menor.
- Todo esse stress no mercado bancário mundial terá como resultado provável uma pausa no ciclo de alta de juros nos EUA.