Chegando ao final do mês, novamente nos deparamos com um período complexo, e agora o estresse mais significativo vem de fora, especificamente dos juros de longo prazo nos Estados Unidos. Os títulos de dez anos ultrapassaram a marca de 4,50%, chegando até 4,55%, o que representa a máxima em dezesseis anos. Isso nos faz lembrar de um episódio famoso, ocorrido em 2013, que foi o último grande estresse experimentado em relação aos juros de longo prazo. O movimento atual está gerando mais preocupações na estrutura a termo de taxa de juros do que na parte curta da curva. O Banco Central dos Estados Unidos já vem aumentando os juros há algum tempo, mas esse estresse na ponta longa começou a se intensificar nos últimos trinta dias. Isso se deve a uma série de fatores, incluindo o déficit gigantesco nos Estados Unidos, que está em torno de 7,5% do PIB. Além disso, os asiáticos estão comprando menos treasuries para suas reservas, pararam de adquirir títulos de longo prazo. A preocupação com a inflação também ressurgiu, o que aumentou a probabilidade de um novo aumento das taxas de juros pelo Fed. Essa situação está até mais complicada do que a ocorrida em 2013. Naquela época, houve um episódio em que o então presidente do Fed, Ben Bernanke, anunciou o fim das políticas de expansão quantitativa. Esse anúncio causou um grande estresse, com um aumento de mais de cinquenta pontos base nas taxas de longo prazo. Foi um período difícil, mas Bernanke depois acalmou os mercados com a promessa de um processo gradual. Isso se assemelha ao que estamos vivendo agora, uma espécie de “chilique” do mercado, embora haja justificativas para o temor, incluindo preocupações com a inflação e o potencial aumento das taxas de juros pelo Fed. Essa situação também tem implicações eleitorais nos Estados Unidos, uma vez que os sindicatos dos trabalhadores do setor automobilístico estão pedindo aumentos salariais de mais de 20%, e tanto o presidente Biden quanto seu antecessor, Donald Trump, estão se envolvendo na questão em busca de votos nos “estados enferrujados”. Esse aumento salarial teria um impacto inflacionário significativo, o que afetaria ainda mais o cenário econômico. O cenário atual é de tensão, com os juros de longo prazo nos Estados Unidos em alta e preocupações relacionadas à inflação e ao impacto nas eleições. Os ativos brasileiros sofrem com esse cenário: ibovespa em 114k pontos, juros longos se aproximando de 12% e dólar voltando aos R$5,00.
