O Brasil não conseguiu subir a escada tecnológica para se tornar um país rico

Desenvolvimento Econômico na verdade é uma subida da Escada Tecnológica. Os degraus mais elevados estão estruturados como mercados monopolistas/oligopolistas/concorrência monopolística; e’ muito difícil subir nesses degraus. Isso acontece hj em outros lugares e já ocorreu varias vezes na história dos países emergentes. Os países e empresas ricas defendem seus mercados com unhas e dentes, video que gravei sobre o tema:

No caso asiático, por exemplo, a assinatura dos chamados “Unequal Treaties” no século XIX, que segundo Ha-Joon Chang se aproximam muito das regras atuais da OMC, impedia o uso de políticas industriais que podem ajudar na escalada tecnológica. Ao tomar emprestada a expressão de Frederich List de “chutar a escada”, Chang chama a atenção para a postura dos países desenvolvidos de dificultar e até no limite impedir o desenvolvimento de países mais pobres que representam, obviamente, enorme potencial de competição para o mundo desenvolvido. Depois de alcançar elevado grau de desenvolvimento tecnológico, países que promoveram fortemente o protecionismo, passam a defender posturas mais liberais já que suas empresas encontram-se em posições muito fortes para competir no mercado mundial. Chutam a escada para evitar que outros subam! O fim das Corn Laws na Inglaterra são um belo exemplo de medidas liberalizantes que acabaram por proteger as indústrias inglesas já estabelecidas. Ao estimular a produção de cereais no continente, os ingleses tentavam evitar o desenvolvimento das indústrias européias, especialmente a francesa e alemã, praticando o chamado “imperialismo de livre comércio”. Podemos ver isso hoje facilmente com o uso do atlas da complexidade econômica. Os mapa acima e abaixo retirados desse atlas mostra o espaço produtivo de 120 países no comércio internacional de 750 produtos em 2012. As cores representam categorias de produtos, sendo os mais sofisticados e complexos do ponto de vista tecnológico as máquinas e equipemos na cor azul no centro.  No cinturão externo estão as commodities agrícolas, minerais e energéticas. Os produtos altamente complexos estão no centro da rede e os de baixa complexidade estão na periferia. Os países ricos produzem e exportam os produtos do centro da rede, os países pobres produzem e exportam os produtos da periferia da rede – como diria a CEPAL.

No core de manufaturas/serviços empresariais reina a concorrência monopolistica e nos serviços tradicionais e commodities reina a concorrência perfeita; pois a inovação tecnológica é mais intensiva nos primeiros. Uma das medidas importantes do atlas da complexidade é a de proximidade. Dois produtos são “próximos” se vários países exportam esse par. Por exemplo, vinhos e uvas. Muitos países exportam só uvas, muitos outros exportam só vinhos, mas uma quantidade razoável de países do banco de dados exportam ambos, donde se conclui que vinhos e uvas são próximos do Ponto de vista dos “inputs” necessários para produzi-los. Claro que nesse exemplo a conexão é intuitiva, mas em casos mais complicados a metodologia ajuda muito a entender quais produtos estão próximos. Por exemplo, medicamentos e aparelhos de raio x, que estão “próximos”, apesar de não parecer intuitivamente. A importância da “proximidade” está na medida indireta que esta carrega sobre as capacidades locais de produção envolvidas em diversos bens. Com essas proximidades os autores são capazes de construir redes de conexões entre produtos. Os produtos muito próximos uns dos outros formam clusters ou “comunidades” nós termos do atlas. Essas comunidades são depois rankeadas em termos de complexidade de seus produtos. Em geral os produtos de alta conexão são complexos e os produtos de baixa conexão não são complexos, segundo as medidas do próprio atlas. O exemplo aqui também é bom: petróleo tem pouquíssimas conexões e nenhuma complexidade; no outro extremo, máquinas têm muitas conexões e são bastante complexas. As comunidades complexas abrigam produtos que têm características típicas de estruturas de mercado de concorrência imperfeita; o inverso se aplica para os produtos não complexos.

vídeo de Cesar Hidalgo sobre o tema:

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1 thought on “O Brasil não conseguiu subir a escada tecnológica para se tornar um país rico”

  1. Nos últimos quase 40 anos, ou seja redemocratização, tivemos várias conquistas: aumento do poder de fogo do crime organizado, crescimento acelerado das cracolandias, grande concentração bancária , desindustrialização acelerada, privatizações criminosas concentração bancária, redução da capacidade de Estado e aumento exponencial da população desempregada e sem teto.

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