O Brasil perde a luta na arena da indústria global

Abrir a economia e esperar as empresas brasileiras industriais conquistarem o mundo equivale a extinguir nossa agencia de defesa da concorrencia (o CADE) imaginando que a concorrencia vai aumentar! Puro non-sense! Mercados concentrados tendem a se concentrar ainda mais! O Brasil nunca chegara no mundo. A luta das empresas brasileiras no mercado global está cada dia mais difícil. Além de já ocupar posição de players dominantes no mercado mundial, as grandes multinacionais contam agora com amplo apoio de seus governos nos EUA, Alemanha, toda a Europa e Asia do leste com destaque para China, Coreia e mais recentente India. Nessa luta desigual o Brasil sofre a cada dia, perde empregos e perde a oportunidade de progredir. A chamada politica industrial que inclui compras publicas, conteúdo local, tarifas, subsídios e financiamento publico foi o instrumento usado por países hoje ricos quando eram pobres para ganhar a luta nessa arena global. São medidas de politicas publicas que custam aos cofres públicos, podem onerar outros setores e podem implicar preços mais elevados para os consumidores nacionais. Mas são medidas que devem ser encaradas como um investimento da sociedade na construção tecnológica do país. Não há caminho possível para melhores empregos e melhores salários sem desenvolvimento tecnológico que por sua vez depende do setor industrial. Ocorre que o setor industrial no mundo se organiza de maneira não competitiva com grandes barreiras a entrada para países emergentes como Brasil. A propriedade de marcas, patentes, processos produtivos proprietários e grande escala produtiva cria poder de monopólio na mão dos gigantes industriais do mundo. Estes competem entre si mas deixam pouco espaço a empresas entrantes de países de renda media como o Brasil. No jargão de economistas, existem barreiras à entrada nos mercados mundiais que impedem o avanço de nossas empresas nacionais. Trata-se de uma competição assimétrica e desigual; para não mencionar o grande custo tributário relativo, elevado custo de capital e pobreza de infraestrutura do país.

Nesse cenário, quando expostas a concorrência mundial sem alguma proteção tarifária, nossas indústrias nacionais sucumbem ao poder de monopólio das gigantes do mundo que apenas escolhem quais países serão suas plataformas exportadoras. Não por incompetência nossa, mas por falta de condições de competir: falta de escala, falta de patentes e tecnologias proprietárias, falta de centros de pesquisa locais. O desafio da indústria brasileira é conquistar mercados mundiais que em geral são muito concentrados. Só assim poderemos atingir a escala necessária para dar os saltos tecnológicos que nos levarão ao progresso. Apenas produzir para o mercado interno não será suficiente. O fato de termos muitas indústrias multinacionais e menos empresas de capital nacional agrava nosso desafio pois estas têm resistência em transferir seus centros pesquisa para o Brasil e usar nosso país como plataforma exportadora. Isso poderia trazer grande volume de empregos de qualidade. A indústria brasileira está numa encruzilhada. Temos capacidades e escala que poucos países emergentes têm no mundo, mas somos ainda pequenos nos mercados mundiais quando comparados a países ricos. Muitas de nossas indústrias dependem ainda de tarifas para resistir nesse universo de grande concentração mundial. Ao governo brasileiro caberia enxergar isso e turbinar nosso potencial produtivo com redução do custo de capital, melhora de infraestrutura, busca de transferência tecnológica e ganhos de escala na produção brasileira, além do combate a dumping que sofremos. Não enxergar essas assimetrias e apenas cortar tarifas alegando ineficiência produtiva do Brasil é fechar os olhos a realidade do mundo empresarial como de fato é.  Ao invés de seguir com sua miopia,  o governo deveria se esforçar para enxergar mais longe. Poderia por exemplo estabelecer e cobrar metas de sofisticação tecnológica e conquista de mercados mundiais para empresas nacionais e multinacionais aqui instaladas em troca de tarifas temporárias, subsídios e compras públicas. Assim fizeram a Coreia do Sul, Japão e China para se tornarem os gigantes que são hoje. Apenas cortar tarifas e regimes especiais é uma atitude simplista e que não levará o país ao desenvolvimento econômico. Alegar corrupção como fazem muitos no Brasil para se opor a politicas publicas é misturar alhos com bugalhos. Corrupção deve ser combatida e não usada como justificativa para não se fazer política industrial.

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